Próximo a duas avenidas movimentadas do Centro do Recife está a Praça do Sebe. O espaço, que existe há mais de 40 anos, resiste ao tempo e segue atraindo pessoas em busca de livros novos ou usados com preço acessível. Neste mês de janeiro, período em que há uma maior busca por materiais escolares, os boxes que fazem parte do local têm um aumento considerável de clientes, como afirma Cátia Sales, que, há 25 anos, trabalha no sebo.
“Por conta da época escola, da procura por livros escolares, há um aumento de pessoas por aqui. O pessoal vem atrás no período que vai de dezembro a março, a procura é maior. Quando passa essa época, a gente fica [com as vendas] na literatura em geral e livros de faculdade”, explica.
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No box de Cátia há livros didáticos usados e em bom estado de conservação a partir de R$ 80 (do 6º ao 9º ano e ensino médio). No local, os clientes também podem encontrar livros novos da educação infantil. À reportagem, ela conta que além do sistema habitual de compra e vende, há a possibilidade de troca e receber livros usados como parte do valor dos itens buscados.
“O pessoal traz o livro tanto para trocar, como traz para vender. É assim que a gente trabalha. Para que isso acontecer, a gente avalia coisas como conservação do livro, sem riscos ou marcas de caneta ou marca texto, edição da obra, porque o livro didático tem edições, ele não pode ser um livro muito antigo porque as escolas não adotam essas edições antigas”, ressalta.
Cátia trabalha há 25 anos no sebo. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Em busca dos melhores preços
Ao lado da filha Alice, de 10 anos, Gerlane Diniz buscas livros com valores acessíveis. Em entrevista ao LeiaJá, ela afirma que, mesmo no início das pesquisas, percebeu que os preços ainda não estão ideias. "Mesmo razoáveis [preços], mas ainda sai mais vantagem do que comprar um livro novo. Principalmente um livro que você vai usar, mas não vai escrever. Então, fica mais fácil a gente comprar pelo sebo".
Gerlane observa que é vantajoso realizar a compra de livros no local do que, por exemplo, em uma livraria. "Na livraria, a gente paga pelo 'luxo' que eles vendem. No sebo não. Aqui a gente tem essa vantagem de conseguir livros baratos, com descontos. Isso faz toda diferença no orçamento porque tem os outros materiais [escolares], tem uma lista enorme que são [a escola] e a gente podendo economizar nos livros já ajuda muito e cuidado do livro para repassar, melhor ainda", frisa.
Pela primeira vez no sebo, Alice Diniz, que vai iniciar o 6º ano do ensino fundamental, mostrou-se entusiasmada. "Eu estou achando tudo muito interessante. Aqui tem muitos livros diferentes, livros com títulos interessantes que podem ter histórias legais. Diferente da livraria, aqui, a gente pode achar um livro usado, mas bem inteirinho (sic) por um preço menor. Já na livraria, o mesmo livro, está com um preço maior", disse.
Alice e Gerlane Diniz. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá
Encontro de gerações
A história de Augusto Silva se confunde com a da Praça do Sebo. No ramo há mais de quatro décadas, 42 nas contas dele, o sebista reúne diversos títulos no local, que fala ao LeiaJá com orgulho. "Estou aqui desde o início. Antes, a gente vendia em uma banca de táboa. Esse terreno aqui era local de despejo de lixo dos prédios e estacionamento de carros. Em 1981, a gente foi transferido para cá", relembra. À reportagem, Seu Augusto, como é conhecido na Praça do Sebo, contou que iniciou na área por acaso. "Eu comecei no sebo e me apeguei", ressalta.
Com as transformações e período de pandemia, ele expõe que, mesmo com uma boa movimentação neste mês, ainda é menor do que em anos anteriores. "Era mais movimentado", afirma. Com certo pesar, Seu Augusto conta que a crise sanitária modificou a relação das pessoas com o sebo. "Eu não gosto nem de falar o nome [pandemia], que chega dá uma tristeza. Fiquei muito tempo em casa, onde tenho mais livros e me contentei com eles. O movimento ainda está engatinhando, está voltando. As pessoas se habituaram a comprar pela internet, ficar em casa e receber. Muitos se acomodaram e não estão vindo mais".
O sebista fala que ainda não tem planos de iniciar vendas na internet, mas que é algo no campo das ideias. "Falei com meu filho [sobre vender na internet] e ele disse que a gente iria ver. Mas, o que eu gosto mesmo é do povo, eu gosto de falar, do contato, pessoa a pessoa (...) meus clientes mais antigos não deixam de vir aqui, trazem os filhos, os netos. É outra geração que alcanço, vou renovando".
Augusto Silva está no sebo há 42 anos. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá