Especialistas alertam para automedicação na pandemia

Com o estoque de medicamentos, até mesmo a armazenagem pode trazer riscos à saúde

por Victor Gouveia sab, 23/05/2020 - 12:22
Pixabay O uso indiscriminado pode maquiar a doença, agravar o quadro e seus efeitos colaterais podem resultar na morte Pixabay

O medo da Covid-19 culminou na busca pela cura milagrosa e fez certos medicamentos sumirem das farmácias. Embora ainda não exista vacina ou tratamento comprovado cientificamente que seja eficaz contra a infecção, a sensação de incapacidade por parte da população intensificou a cultura da automedicação.

A docente do departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Sueli Moreira, alerta sobre as consequências de tomar remédios sem prescrição ou acompanhamento. Além dos efeitos adversos, "os sintomas podem ser mascarados, levando à confusão nos diagnósticos e retardando a definição correta do tratamento", explica.

O consumo indiscriminado também pode gerar outras doenças e agravar o quadro clínico, como a especialista exemplifica: "o uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) pode levar a complicações renais [...] no caso de antibióticos temos sérios riscos como a piora da infecção, que favorece a resistência bacteriana”.

 Outra questão a ser considerada são as interações entre substâncias, ou seja, a mistura de remédios. "Alguns medicamentos podem interferir na ação de outros e implicar em alterações de exames", esclarece. O conselheiro do Conselho Federal de Farmácia e chefe do departamento de farmácia do Hospital das Clínicas do Recife, Arimatea Filho, também fez um alerta para o consumo sem acompanhamento médico.

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O próprio armazenamento inadequado pode trazer danos. Fora o risco de trocar os medicamentos e tomá-los fora da validade, crianças e idosos podem fazer uso por engano. "O medicamento pode representar um risco baixo para o adulto, mas para o idoso o mesmo medicamento pode ter relação de risco X benefício desfavorável", complementou.

Sem certeza da beneficie, hidroxicloroquina foi estocada

Incentivados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), antes mesmo do protocolo apresentado nesta quarta-feira (20), algumas pessoas já estocavam caixas de hidroxicloroquina em casa sem saber que podem ser vítimas de uma arritmia cardíaca.

Mesmo sem a eficácia comprovada contra a Covid-19, outras duas substâncias entraram no rol das supostas curas da doença. Assim, o antibiótico azitromicina e o antiparasita ivermectina tornaram-se escassos devido ao aumento da procura. Tal cenário dificultou ainda mais a condição dos pacientes que cumpriam tratamento com as substâncias sob recomendação médica.

"Pacientes que respondem bem ao tratamento vivem com poucos sintomas e são acompanhados frequentemente por reumatologistas, que avaliam os riscos", especificou Moreira sobre a prescrição da hidroxicloroquina. O remédio é recomendado contra o Lupus Eritematoso Sistêmico e, a interrupção do tratamento pode resultar na piora renal e de sintomas como a artrite. Em um quadro mais grave, o paciente luta pela vida após ser internado na UTI, concluiu.

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