Estudo: avanço da Covid-19 é maior na periferia da RMR

Constatação é feita por mapeamento da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) com base nos Informes Epidemiológicos das secretarias de Saúde dos municípios

qua, 03/06/2020 - 12:58
Andréa Rêgo Barros/PCR Para a Fundaj, dados mostram uma nítida relação entre pandemia e vulnerabilidade social Andréa Rêgo Barros/PCR

Nos últimos 15 dias, os números de casos e óbitos por Covid-19 na Região Metropolitana do Recife (RMR) cresceram em maior quantidade nos bairros de alta vulnerabilidade social, aponta mapeamento da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Segundo a Fundaj, os Informes Epidemiológicos das secretarias de Saúde dos municípios mostram o avanço da pandemia em locais socialmente vulneráveis. 

"O coronavírus tem características urbanas e territoriais com rápida velocidade de disseminação por meio da nossa rede de cidades. A doença se vale das nossas fragilidades, não apenas biológicas, mas também sociais. Nossas desigualdades intra urbanas e regionais potencializam sua dispersão e seus impactos", afirmou o pesquisador e coordenador do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados para a Pesquisa Social (Cieg) da Fundaj, Neison Freire.

Dos 15 municípios que compõem a RMR, a pesquisa selecionou os quatro mais conurbados e que apresentam as maiores populações, ou seja, o núcleo urbano central da aglomeração da capital pernambucana. São eles: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Paulista. As quatro cidades reúnem 75,4% da população total da RMR.

Os bairros do Recife que apresentaram as maiores variações de casos confirmados nos últimos 15 dias comparados aos demais da cidade são Jordão, Ibura, Cohab, na Zona Sul da cidade; e Água Fria, Vasco da Gama, Nova Descoberta e Dois Unidos, na Zona Norte. Pina, Imbiribeira, Várzea, Iputinga, Torrões, Macaxeira e Torre são outros bairros com valores que variam entre médias e altas vulnerabilidade e número de casos confirmados.

A Fundaj destaca que os bairros que mais variaram em número de óbitos também foram os mais socialmente vulneráveis: na Zona Sul, Jordão, Ibura e Cohab; na Zona Leste, Barro, Curado e Estância; e na Zona Norte, Brejo da Guabiraba, Dois Unidos, Nova Descoberta, Vasco da Gama, Alto José Bonifácio e Água Fria.

A pesquisa avaliou a variação de casos confirmados e óbitos, mapeando a relação desses indicadores com o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS), criado pelo Cieg da Fundaj. O índice foi calculado com base em variáveis do Censo 2010 do IBGE: proporção de domicílios com renda de meio salário mínimo per capita, proporção de domicílios sem abastecimento de água e coleta de lixo, e inadequação de esgotamento sanitário dos domicílios.

Mesmo Boa Viagem apresentando a maior variação de casos do novo coronavírus entre os 94 bairros do Recife, indo de 351 no dia 10 de maio para 531 no dia 25, um aumento de 51%, o bairro tem baixo índice de vulnerabilidade social (0,03). O Ibura, que é vizinho, apresentava 96 casos no dia 10 e passou para 182 no dia 25, um aumento de 90%, com índice de vulnerabilidade social de 0,33. 

Segundo a Fundaj, utilizando os mesmos bairros como exemplo para óbitos, é possível observar a nítida relação entre pandemia e vulnerabilidade social na cidade. Em Boa Viagem, os óbitos variaram 112% (de 24 no dia 10 de maio para 51 no dia 25), enquanto no Ibura variaram 256% (de 9 para 32).

Em Olinda, o bairro mais vulnerável e com maior variação de casos confirmados foi Águas Compridas, seguido de Sapucaia, Peixinhos, Fragoso e Jardim Atlântico. Já Alto da Sé, Carmo, Amparo e São Benedito foram os bairros com baixa vulnerabilidade social e menor variação de casos confirmados registrados no período estudado. Quanto à variação de óbitos, novamente Águas Compridas e os bairros Alto da Bondade e Caixa D'Água tiveram maior variação e alta vulnerabilidade. Situação oposta foram os bairros de Casa Caiada e Bairro Novo, com pouca variação de óbitos e menor vulnerabilidade social.

Em Jaboatão dos Guararapes, o bairro onde houve maior variação de casos e com maior vulnerabilidade foi Guararapes, seguido pelos bairros de Cavaleiro, Zumbi do Pacheco e Prazeres. Já os bairros de Vista Alegre e Comportas apresentaram menor variação de casos confirmados e têm baixa vulnerabilidade social. Os bairros de Santana, Muribequinha, Bulhões, Vargem Fria e Manassi são bairros que, apesar de terem alta vulnerabilidade social, não apresentaram grandes variações positivas de casos confirmados no período pesquisado. Nesse município, os óbitos também cresceram mais nos bairros mais pobres: Santo Aleixo, Cavaleiro e Prazeres.

Já em Paulista, o bairro com maior vulnerabilidade social e que apresentou maior variação de casos confirmados foi Jardim Paulista Baixo, seguido, em menor intensidade, pelos bairros de Paratibe, Janga e Pau Amarelo. No sentido oposto, os bairros de Jardim Paulista, Jaguaribe e Poti apresentaram menores variações e vulnerabilidade social.

"As análises desses quatro maiores municípios da região metropolitana mostram que os bairros com menor renda e precariedade no abastecimento de água, coleta de lixo domiciliar e esgotamento sanitário são aqueles que têm apresentado maior variação percentual de casos confirmados e óbitos no período pesquisado", salientou Neison Freire.

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