Luto: como reagir na volta à rotina de trabalho?

Psicólogo analisa dificuldades no desempenho profissional depois da perda de uma pessoa querida

seg, 12/04/2021 - 18:18
Internet Zack Snyder, diretor de cinema, se afastou do trabalho depois de perder a filha Internet

A versão Snydercut de "Liga da Justiça" estreou na plataforma digital da HBO e em outros modelos de streaming em todo mundo e provocou muita euforia dos fãs. Porém, também trouxe à tona um problema com que muitas pessoas convivem, principalmente no atual período pandêmico, que é sobre como continuar a trabalhar em meio ao luto.

O diretor do filme "Liga da Justiça", Zack Snyder, em 2017, se afastou do projeto devido à perda da filha Autumn, de 20 anos, que se suicidou durante a gravação do longa. Com o afastamento de Zack, outro diretor foi contratado para assumir seu lugar e assim dar prosseguimento ao projeto.

O professor de Psicologia Yuri Souza explica que, a princípio, o desempenho de uma pessoa deve ser considerado como um sistema, no qual as pessoas acabam se envolvendo por vários fenômenos. Entre eles, destacou, estão os laços afetivos, que principalmente são ligados aos familiares mais próximos. A morte, em geral, provoca um estado de tristeza que pode prejudicar as pessoas.

“Para o trabalho, a gente precisa que todas as nossas funções mentais estejam aptas e focadas naquilo. E frente a tantas perdas que nós temos sofrido, o desfoque das atividades, a dificuldade de concentração ou até possíveis gatilhos emocionais frente aquela situação do trabalho, que geram lembranças, podem provocar o surgimento de certo constrangimento, em relação à perda de um familiar”, afirma o psicólogo, professor da UNAMA - Universidade da Amazônia.

O operador de caixa de mercado Raphael Lopes, de 20 anos, que perdeu recentemente o pai, devido a complicações decorrentes da covid-19, conta que a perda o afetou psicologicamente e emocionalmente e dificultou o seu rendimento no trabalho durante o período do luto. “Me senti bastante desmotivado ao exercer a minha função em coisas que eram muito simples e que acabaram ficando bem complicadas, porque não conseguia me manter totalmente focado naquilo ou não me sentia bem para  lidar com aquilo naquele momento”, revelou Raphael.

Com a pandemia da covid-19, essa emoção pode ser amplificada justamente pela falta de contato entre os familiares durante os momentos finais ou até mesmo ao serem pegos de surpresa com a notícia da morte. Raphael Lopes afirma que não conseguiu ir ao enterro do pai devido.

“Querendo ou não, a dor é maior na gente, por não poder se despedir uma última vez do nosso familiar. Eu, por exemplo, não fui ao enterro do meu próprio pai, porque além dele morrer por covid, o caixão foi fechado e também nós não poderíamos estar presentes no sepultamento dele, para evitar a aglomeração no cemitério”, afirmou Raphael.

Para o professor Yuri, dentro desse cenário é importante a pessoa que está passando pelo luto conversar com sua chefia imediata para que uma solução seja rapidamente providenciada, para evitar maiores problemas para ela e a empresa.

“A gente sabe que o processo de luto, que a vivência emocional, afeta a nossa capacidade de orientação. E muitas vezes, quando a gente se vê num cenário tão desafiador assim, isso pode colocar em risco tanto o funcionário, a pessoa, quanto a própria empresa. Então, essa conversa, esse diálogo, seja com a chefia imediata, seja com os órgãos responsáveis, como o RH (Recursos humanos), até o setor de saúde do trabalhador, é sempre importante”, ressaltou Yuri Souza.

Por Erick Baia.

 

 

 

 

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