'Máfia do Cabelo': esquema milionário é desmontado no RJ

Segundo a apuração da Polícia, a marca de cabelos roubados que levava o nome de “Di Milese”, deu origem a mais 10 empresas criminosas

por Kauana Portugal seg, 26/04/2021 - 11:20
Reprodução/Facebook Imagem da Di Milesi, no Rio de Janeiro Reprodução/Facebook

O esquema criminoso batizado de “Máfia do Cabelo” foi revelado neste domingo (25), em matéria do Fantástico. As doações de cabelo humano, que deveriam ser revertidas em perucas para mulheres que lutam contra o câncer, eram desviadas para a fábrica de Gleice Milesi da Cunha, a chefe da quadrilha. Nesta semana, a Polícia do Rio de Janeiro realizou a prisão preventiva de Gleice, que é dona de quatro lojas de perucas e um site, por onde vendia o cabelo humano para fora do país.

A ação criminosa começou a ser investigada através da denúncia de Denildes de Palhano, que teve um câncer de mama em 2005 e, depois de curada, passou a participar de grupos de apoio a mulheres com a doença. Ela conheceu a sede da Fundação Laço Rosa, no Rio de Janeiro, em 2009, atraída pela iniciativa que transformava doações de cabelos em perucas destinadas às mulheres em tratamento contra o câncer.

Frequentadora assídua da ONG, Denildes foi apresentada a Gleice, que longe de qualquer suspeita, recolhia o cabelo doado e retornava para a Fundação com as perucas já prontas. Contudo, Denildes também reparou que a grande quantidade de doações não correspondia ao baixo volume de perucas doadas. A partir disso, passou a investigar, por sua conta, a ação criminosa.

Durante o longo período em que buscou respostas para o sumiço das doações, Denildes lutou contra outros episódios de câncer, que a impediram de dar continuidade à investigação. Apesar disso, anos depois, o destino a colocou cara a cara com Gleice, que confessou os crimes, acreditando que Denildes era sua amiga.

Esquema milionário

Segundo a apuração da Polícia, a marca de cabelos roubados que levava o nome de “Di Milesi”, deu origem a mais 10 empresas criminosas, que funcionavam como um suporte no contrabando e envio de perucas para o exterior. Na fábrica de Gleice, chamada de “Fundação Terapia da Mulher”, no Recreio, Zona Oeste do Rio, a polícia encontrou mechas com etiquetas cujo preço por quilo chegava ao valor de R$ 8,7 mil. Os produtos não tinham nota fiscal ou documentos que comprovassem sua origem.

Fundação Laço Rosa sabia dos desvios?

Para a Polícia, Gleice teria citado a existência de um contrato de trabalho com a Laço Rosa, no qual estaria determinado que a cada quilo de cabelo, duas perucas seriam doadas à Fundação, e uma peruca ficaria com ela, como forma de pagamento pelo serviço. Patrícia do Carmo Bullé, gerente de relações institucionais da Laço Rosa, e Marcelle Medeiros, presidente, também são alvos da investigação.

Gleice Milesi, que está em prisão preventiva, vai responder pelo crime de associação criminosa, fraude no comércio, e crime contra o consumidor.

Di Milesi se pronuncia nas redes

Em nota postada no Facebook, a Di Milesi Brasil disse que "sempre se pautou no profissionalismo e na seriedade do trabalho" e os fatos serão esclarecidos "perante a Justiça, no momento próprio".

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