Aglomerações ocorrem mesmo com alta de mortes por covid-19

Risco de transmissão do novo coronavírus aumenta em locais fechados. Em Belém, relaxamento de medidas preventivas preocupa.

qui, 06/05/2021 - 11:52
Pixabay Aglomeração de pessoas. Pixabay

Apesar do crescente número de casos da covid-19 no Brasil, a quantidade de pessoas que aparenta ignorar essa realidade também é alarmante. No Pará, até então, são confirmados 475.744 casos da doença e 13.204 é o número de óbitos. Entretanto, essas informações ainda não são o suficiente para impedir aglomerações em estabelecimentos e as festas clandestinas que têm sido denunciadas nas últimas semanas.

Após a retomada das atividades em bares e nos demais estabelecimentos, mesmo que esses obedeçam às medidas de segurança, o risco de contaminação pelo novo coronavírus nesses locais ainda existe e preocupa.

Isso se explica pelo fato de que ambientes como bares e restaurantes mantêm os usuários por um período de tempo considerável dentro de suas instalações. Ao sentarem à mesa, as pessoas retiram as máscaras para consumo e permanecem assim até saírem do estabelecimento, como esclarece Andrei Siqueira, biomédico e doutor em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

Andrei acrescenta que, em um cenário de pandemia de um vírus respiratório, locais fechados se tornam um grande fator de risco para a transmissão da doença. “No caso de boates temos ainda um agravante. Mesmo durante as medidas mais restritivas, pessoas organizaram eventos de forma clandestina para realizar reuniões e festas. O senso de responsabilidade nessa situação se torna mais afetado ainda com o consumo do álcool”, diz.

Segundo o biomédico, comparando-se esses estabelecimentos com outros ambientes como supermercados e instituições de ensino, é possível notar a existência de algumas diferenças. O uso constante da máscara, por exemplo, é capaz de reduzir significativamente as possibilidades de contágio se todas as medidas de segurança forem respeitadas.

“Nesses dois locais a distribuição de álcool e a aferição da temperatura também auxiliam para redução da transmissão. Por não representarem locais de lazer e entretenimento, ao fim das atividades, as pessoas deixam o local (supermercados e escolas) e por isso podemos inferir que de forma geral são locais mais seguros que bares, boates e restaurantes”, complementa.

Andrei destaca ainda que dentre os locais com o funcionamento liberado, além de ambientes como farmácias, clínicas, hospitais e laboratórios, o risco de transmissão do vírus aumenta nas academias, bancos e lotéricas devido ao fluxo de pessoas e ao tempo de permanência médio.

O biomédico diz que, apesar de o Brasil seguir com o calendário de vacinação, é grande a quantidade de óbitos da pandemia e alerta que vivemos um momento que ainda necessita de muita cautela. Além disso, ele afirma que tomar a vacina e respeitar as medidas de prevenção são as melhores opções.

Andrei ainda cita outras medidas que devem ser tomadas. “Buscar formas de lazer e relaxamento que não envolvam reuniões. Na necessidade de trabalhar e realizar as atividades essenciais fora de casa, respeitar sempre os cuidados com a sua saúde e a das pessoas em sua volta. Dessa forma conseguiremos alcançar o exemplo de outros países que já voltaram com suas atividades de forma mais segura”, complementa.

Juliana Colino, de 20 anos, estudante do curso de Psicologia na Universidade Federal do Pará (UFPA), conta que a sua rotina ficou bastante diferente por causa da pandemia e que durante boa parte do tempo sem ter aulas da faculdade.

A estudante relata que adaptar-se a todas essas mudanças é difícil e estressante, principalmente por não ter um momento de lazer para se distrair. “Faz muita falta poder sair com a família e amigos, ir ao cinema, ir passear no shopping, porém é preciso ter consciência de que uma saída poderia contaminar alguém”, diz.

A estudante acredita que as aglomerações devem ser evitadas ao máximo e tenta evitar saídas desnecessárias. “Saio apenas para o balé, que é como se fosse meu trabalho, porém sempre sigo todos os cuidados, como manter o distanciamento, utilizar álcool em gel, e ficar sempre de máscara”, acrescenta.

A estudante diz que costuma sempre alertar tanto as pessoas da família quanto os amigos em relação ao distanciamento social. Sobre as aglomerações, Juliana finaliza: “Acredito que deveria ter uma fiscalização maior do governo, já que tentar conscientizar as pessoas não acho que adiantaria”.

Iuri Fernandes, sócio-proprietário de um pub localizado em Belém, diz que o estabelecimento ficou fechado por sete meses em 2020. Na época, todo o staff foi demitido. Após conseguirem um empréstimo do Governo do Estado, contando também com aporte dos sócios e empréstimos pessoais, Iuri reabriu o pub em outubro do ano passado, enxugando custos e com modelo para se adequar a uma operação de restaurante e não mais de bar. 

“Nosso horário de abertura sempre foi às 18 horas, e quando saiu o decreto fechando bares e restaurantes às 18 horas, mudamos novamente, abrindo às 12 e fechando às 18 horas. Iniciamos o atendimento via delivery. Ou seja, estamos dançando conforme a música. Financeiramente falando, no final de 2020 conseguimos lucrar e pagar boa parte dos atrasados com fornecedores. Esse ano tivemos que tomar mais empréstimo e estamos no zero a zero”, acrescenta.

Para a segurança dos consumidores, Iuri afirma que usa o protocolo padrão no estabelecimento. “Limite de pessoas reduzido, distanciamento das mesas, máscara obrigatória para clientes e staff, álcool em gel nas mesas, desinfecção de 15 em 15 dias do ambiente por uma empresa especializada”, destaca.

Quanto ao ritmo de funcionamento do local e o número de pessoas que costumam frequentá-lo, ele esclarece que tem picos de até 50 pessoas durante o fim de semana (sexta e sábado, à noite). Já durante a semana, segundo Iuri, a quantidade varia dependendo de vários fatores, como dia do mês e chuvas.

Iuri comenta que vê estabelecimentos buscando se reinventar e quem não se reinventou, fechou. Ele afirma que possui uma opinião muito pragmática a respeito disso. “Não posso julgar os outros, pois não sei onde aperta o sapato deles. Posso falar pelos meus bares, onde seguimos rigorosamente todas as normas estabelecidas. Acho que os consumidores têm um papel fundamental quanto às aglomerações, pois nenhum dono de estabelecimento obriga alguém a entrar na sua empresa. É um assunto delicado. Logo, não julgo quem não tem seguido as normas. Tenho minha opinião pessoal, como consumidor: eu não vou pra lugar lotado”, finaliza.

Por Isabella Cordeiro.

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