Cônsul preso: polícia acredita na hipótese de assassinato
Eles eram casados há 23 anos e moravam há quatro no Rio, onde Hahn trabalhava no consulado da Alemanha
A Polícia Civil do Rio apurou que o agente consular alemão Uwe Herbert Hahn, de 60 anos, tinha brigas constantes com o marido, o belga Walter Henri Maximilien Biot, de 52 anos. Eles eram casados há 23 anos e moravam há quatro no Rio, onde Hahn trabalhava no consulado da Alemanha. Na noite de sexta-feira (50), Biot morreu - segundo a polícia, assassinado por Hahn - no apartamento em que ambos moravam, em Ipanema (zona sul). O alemão está preso preventivamente.
Nesta segunda-feira (80), a polícia tomou os depoimentos da faxineira que trabalhava para o casal e de um amigo espanhol de Biot. Os nomes deles foram preservados. Os dois relatos dão conta de brigas entre o casal.
Segundo o espanhol, cujo depoimento foi divulgado pela TV Globo e confirmado pelo Estadão, o alemão era controlador e humilhava o marido, que não trabalhava e até há cerca de um ano dependia financeiramente dele.
Por conta dessas desavenças, Biot chegou a romper o casamento e viajar para a Bélgica, com despesas pagas por um amigo belga. Mas, depois de três meses, ele voltou para o Brasil e retomou o casamento.
Segundo o espanhol, há cerca de um ano esse belga morreu e deixou para Biot uma herança de 600 mil euros (R$ 3,1 milhões, na cotação desta segunda-feira, 8). A partir daí, as brigas entre o casal se tornaram mais frequentes, disse o espanhol. Segundo ele, o alemão repetia com frequência que é diplomata e por isso nunca teria problemas com a polícia.
A diarista também narrou à polícia a rotina de desavenças. Segundo ela, "em abril ou maio" a porta da despensa e um vidro do armário da cozinha estavam quebrados, como se houvessem sido atingidos por um murro ou algum objeto. A mulher também afirmou que "por duas ou três vezes" neste ano notou manchas de sangue na fronha do travesseiro usado por Biot, e em julho notou um corte na testa do belga.
Para a delegada Camila Lourenço, da 14ª DP (Leblon), que investiga o caso, o belga vivia um relacionamento abusivo e era vítima de violência doméstica. Ela afirmou não ter dúvida de que a versão narrada pelo alemão, de que o marido levantou repentinamente do sofá, saiu correndo e caiu com o rosto voltado para o chão, é mentirosa.
A perícia do Instituto Médico Legal do Rio indicou a presença de mais de 30 lesões no corpo da vítima. "Foi uma sucessão de espancamentos. Uma das lesões é compatível com pisadura humana na região da costela e outra decorrente de ação contundente com objeto cilíndrico. A gente apreendeu uma mangueira de ar-condicionado que pode ter sido utilizada para realizar as agressões. Também foi apreendido um bastão. Ele (Biot) foi espancado", afirmou.
"Ele (Hahn) teria que apresentar uma versão, tinha que justificar a morte do marido para os familiares. Ele contou que o marido infartou. A versão que ele apresenta para pessoas de seu convívio, inclusive para a secretária dele, era que o marido havia infartado."
Embora o apartamento tenha sido lavado após o crime - uma secretária do alemão teria feito isso depois de ver o cão do casal lambendo o sangue que estava espalhado pela sala -, a perícia encontrou vestígios de sangue em quatro áreas do apartamento: na sala, no banheiro, no quarto do casal e na varanda. Também foram identificados vestígios de fezes pela casa.
A reportagem tentou localizar a defesa do alemão, sem sucesso até a publicação desta reportagem.