PT quer remeter ônus do ajuste a Levy, analisam estudiosos
Segundo eles, os petistas tentam se esquivar das responsabilidades do ajuste fiscal enquanto a presidente Dilma Rousseff não recupera a popularidade e, por isso, chamam o ministro da Fazenda de "Judas"
Comparado a Judas Iscariotes, São Cristovão e até Jesus Cristo, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem sido alvo de inúmeras críticas desde que assumiu a pasta. Advindas de integrantes do PT – muitos deles sindicalistas – as farpas estão baseadas, inclusive, nas medidas do ajuste fiscal proposto pelo ministro na tentativa de reequilibrar as contas da União.
Apesar de compor o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e do ajuste ter passado pelo aval dela antes de seguir para a análise do Congresso, os petistas tentam “tirar o corpo fora” e impor o ônus das medidas para Levy, fazendo uma analogia das atitudes dele ao que Judas Iscariotes fez, segundo a história bíblica com Jesus Cristo, traindo-o por 30 moedas de prata.
O posicionamento dos petistas, no entanto, não é bem avaliado por cientistas políticos e economistas. Para o PhD em economia e analista político Maurício Romão, os integrantes do partido estão querendo “livrar a presidente Dilma” como se as atitudes de Joaquim Levy fossem independentes do governo.
“O PT tenta burlar o entendimento geral e dar uma conotação de que este programa de Levy não é do PT, mas exclusivamente do Levy. Na verdade é um programa de governo, principalmente na área da economia, carro chefe da gestão”, analisou o estudioso.
A visão é corroborada pelo cientista político Adriano Oliveira. Segundo ele, o PT “não quer aceitar os custos do governo, mas apenas os benefícios”. “É um posicionamento equivocado e oportunista. Se o ajuste (fiscal) trouxer aquilo que é esperado, a retomada da popularidade de Dilma, as críticas serão minimizadas. Enquanto não, eles vão permanecer radicalizando nas críticas, pois parte do PT não quer ter o custo do seu governo”, ponderou Oliveira.
Sob a ótica de Romão, Levy tem sido “coerente” à frente da pasta da Fazenda. “As posições de Joaquim Levy são tradicionais e coerentes. Foram manifestadas explicitamente quando ele era do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB)”, argumentou. “Não há nenhuma mudança de posição e filosofia. O foco é diferente, claro. Mas foi o PT que mudou. O governo é que mudou e foi buscar no seio do PSDB alguém para tentar gerir a crise econômica”, complementou o economista.
Apesar de todo imbróglio encabeçado por parlamentares e militantes do PT, a presidente Dilma saiu em defesa de Joaquim Levy. Em entrevista recente, a petista disse que era “errado tratar o ministro como Judas por causa do ajuste”. O vice-presidente Michel Temer (PMDB) também defendeu o ministro da Fazenda. O peemedebista afirmou que o titular da pasta deveria ser, na realidade, “tratado como Cristo”. “Em um primeiro momento, parece uma coisa difícil, complicada, mas que vai dar os melhores resultados (para o país). Menos Judas e muito mais Cristo”, observou Temer.
Outra analogia bíblica – Dentre todos os títulos de personagens bíblicos dados ao ministro não foi citado o nome de Levi, filho de Alfeu, que servia ao Império Romano coletando impostos com rigorosidade e estava ligado as finanças do reino na época, assim como Joaquim Levy. Conta os escritos que certo dia, o filho de Alfeu ouviu uma pregação de Jesus Cristo e foi convidado por ele a deixar a cobrança dos impostos para se tornar um dos seus discípulos. Assim fazendo, Levi foi rebatizado de Mateus e saiu de um homem odiado pela sociedade romana para apóstolo.