A 'guerra' entre os eleitores vai acabar após a eleição?

Especialista ouvido pelo LeiaJá acredita que o clima não vai arrefecer tão facilmente e as discussões vão amenizar na medida em que o novo presidente apresentar resultados positivos em setores como direitos humanos e economia

por Giselly Santos qui, 25/10/2018 - 15:50
Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo Debate entre os eleitores foi mais intenso nesta eleição Chico Peixoto/LeiaJáImagens/Arquivo

“Bolsominion”, “petralha”, “nazista”, “marmita de Lula”, “apoiador de ditadura”... A lista de adjetivos disparados entre os eleitores por causa das candidaturas à Presidência da República que defendem foi extensa nas eleições deste ano. Ironias, críticas e acusações vêm pautando as discussões políticas que de tão acaloradas começaram a ultrapassar as palavras nas redes sociais e conversas, transformando-se em agressões físicas e até morte em alguns casos.

O cenário é de uma verdadeira guerra verbal e ideológica que tem preocupado especialistas sobre o rumo que isso tomará após o pleito, uma vez que a histórica polarização presidencial PT e PSDB deu lugar, este ano, a uma discussão mais intensa dos campos ideológicos de direita x esquerda, passeando pelas questões moral e religiosa dos brasileiros.  

“Essa polarização já era esperada, sabíamos que ocorreria em algum momento devido ao período grande de domínio do pessoal mais de correntes à esquerda, como os social democratas, a exemplo de Fernando Henrique Cardoso e Lula. Existia uma direita brasileira que sempre esteve diluída, não estava organizada em termos partidários, mas agora parece que tomou jeito. Isso polariza tudo”, considerou o professor do departamento de sociologia da Universidade de Brasília (UnB), Benício Viero Schmidt.

Para Schmidt, “o grande problema é que nessa confusão existe uma grande dificuldade de esclarecer as distinções entre os campos” representados, no caso, pelas candidaturas de Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL).

“É difícil saber quais são as diferenças entre um candidato e outro agora no final porque eles não debatem muito isso e a discussão foi para a moral e os costumes, um velho recurso das eleições no mundo ocidental. Isso é muito perigoso porque põe o sistema eleitoral em xeque”, argumentou o estudioso, que salientou que a cada pleito se instaura um novo debate sobre a importância da democracia no Brasil, a garantia dos direitos das minorias e este ano isso foi mais intenso.

Além da discussão sobre o sistema vigente, outro aspecto ressaltado pelo professor da UnB foi a falta de educação política dos brasileiros, o que intensificou ainda mais o clima, em comparação aos pleitos passados.

“Aqui no Brasil o que marca a sociedade é um grande anti-intelectualismo, qualquer coisa mais ampla que venha a se discutir, as pessoas querem mensagens de 30 segundos. Aí deu nisso, ninguém entende nada. Vão continuar brigando pelo que não sabem e não entendem. Parece torcida de futebol, pensam que entendem o mundo em uma frase. Pouca gente é capaz de entender a complexidade do que está acontecendo e o resultado das eleições é sempre errático”, observou Benício Viero Schmidt.

Com isso, na ótica de Schmidt, o clima acalorado entre os eleitores vai demorar para arrefecer, principalmente porque o próximo presidente não terá um quadro governamental favorável para impor soluções imediatas aos principais problemas do país.

“Vai depender muito de quem vencer [a manutenção das discussões entre os eleitores]. Se vai apresentar resultados positivos especialmente quanto aos direitos da cidadania e a economia. Se isso funcionar bem, há sinal de que essa polarização tende a arrefecer, diminuir. As pessoas tendem a se preocupar mais com as suas vidas pessoais e familiares. A vida está difícil e nenhuma das candidaturas dispostas consegue dar esperança de que a curto prazo algo positivo virá. Essa polarização vai continuar e não acredito que o governo instalado traga resultados positivos para o país a curto prazo, a situação não vai melhorar tão rápido assim”, considerou o estudioso.

 

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