A crise Bebianno e a "manchada" imagem de Bolsonaro

Os escândalos podem afetar, sim, de acordo com especialista, diretamente o presidente do Brasil

por Taciana Carvalho sab, 23/02/2019 - 09:00
Marcos Corrêa/PR Marcos Corrêa/PR

Nem chegou aos 100 dias de gestão e o governo Bolsonaro já dá abertura a muitos questionamentos. Entre os maiores deles, a seguinte: a crise envolvendo o ex-ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, pode afetar o seu mandato? Entre muito vai e vem e confusões, há quem diga que o governo do militar da reserva está de mal a pior se for levado em conta a sua principal bandeira de campanha: novas práticas políticas longe de qualquer tipo de corrupção.

De acordo com a cientista política Priscila Lapa, toda essa polêmica pode, sim, “manchar” de certa forma a imagem do presidente da República. “Quando vem um escândalo mostrar que o partido de Bolsonaro está envolvido ou que, pelo menos, há a suspeita de que algumas atitudes tomadas pelo partido com as suas principais lideranças com um cargo de ministro e que foi um grande articulador  da campanha eleitoral, não era qualquer ator político, era uma ator relevante, influente, ele começa a ver suspeita sobre a conduta dele”, observou.

Em seguida, explica Lapa, a crise leva a um embate entre as versões dos fatos. “Começa a criar uma mancha nessa imagem que o partido tinha ou que ao menos o presidente tinha de protagonizar um novo projeto político para o Brasil, isso ganha opinião pública porque não se trata de qualquer ator, qualquer partido”.

Ainda que fosse outro partido aliado, a cientista disse que se o mesmo estivesse envolvido em suspeita de desvio de recursos públicos para patrocinar candidaturas laranja, estaria em crise também.

Outro ponto que ficou evidente no processo é a crise do discurso. “Há uma certa fragilidade da figura presidencial no momento em que o presidente faz uma afirmação e no outro dia, por meio dos veículos, é divulgado uma informação que desmente o que o presidente foi dito isso levanta, no mínimo, aquela história da pulga atrás da orelha como se diz na linguagem popular”, ponderou.

“Mesmo os eleitores que mantiveram a sua confiança no presidente, mas no mínimo por mais que os fatos narrados nos áudios não revelem um ato ilícito, mas ele por si só fragilizam a ideia de um presidente altivo, de um presidente braço forte para comandar uma mudança no País como foi criado a expectativa durante o processo eleitoral”, completou a estudiosa.

Lapa ainda destaca outro fator que tem se revelado nesse início do governo: a tamanha influencia dos filhos nas decisões políticas do governo. “Se neste momento não configura em si um problema, concretamente algo que isoladamente poderia estar ocorrendo ali, mas mostra que pode ter uma influência na agenda do governo, nas decisões tomadas, que podem de alguma maneira pode gerar outros conflitos, outras fontes de confronto e prejudicar a condução de algumas políticas e de algumas ações”, disse.

A cientista política cita como exemplo a polêmica envolvendo o ex-assessor Fabrício Queiroz e o senador Flávio Bolsonaro (PSL). “Na política, nenhum gesto é neutro. Isso, obviamente, pode gerar no mínimo suspeitas na formação dessa coalizão de apoio ao governo. Pode fragilizar obviamente a imagem”, mencionou.

Por último, a especialista ressalta o “tamanho da força” que se dá nos bastidores entre Bolsonaro com o clã militar dentro do governo. “O Bebianno fala, claramente, que ele não era aceito, que havia suspeitas em relação a figura dele, mostrando talvez algo que ainda não esteja totalmente escancarado para a sociedade, mas que a presença dos militares. Ela é muito mais incisiva do que se imagina num primeiro momento”, salientou Priscila Lapa.

“No geral, é preciso observar o desenrolar desses fatos para saber o quanto de fato é possível ainda desvincular o clã dos escândalos. Do quanto eles sabiam do quanto participaram porque é, no mínimo, suspeito achar que o candidato a presidente não tinha conhecimento sobre a forma de que os recursos eram distribuídos. Ele pode não ter tomado as decisões, pode não ser o ator dos atos, mas no mínimo há de se investigar se havia o conhecimento sobre isso”, finalizou.

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