VazaJato: Moro sugere nota contra 'showzinho' da defesa

Ex juiz da lava-jato sugeriu nota para rebater defesa do Lula no primeiro depoimento; nota foi publicada pelo MPF Paraná no dia 11 de maio de 2017

sab, 15/06/2019 - 12:47
Chico Peixoto/LeiaJáImagens Moro se defendeu dos vazamentos e voltou a citar hackers Chico Peixoto/LeiaJáImagens

O site The Intercept Brasil publicou novos trechos das conversas privadas envolvendo o ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro com procuradores da Lava-Jato no caso do Triplex. O novo pedaço da conversa vazada traz um diálogo entre Moro e procurador Carlos Fernando do Santos Lima logo após o primeiro depoimento do ex-presidente Lula. O então juiz sugere à acusação que faça uma nota contra o que ele considerou "showzinho" da defesa do ex-presidente Lula.

SUGESTÃO

"O que achou?", perguntou Moro para Carlos Fernando no dia 10 de maio de 2017. "Achei que ficou muito bom. Ele começou polarizando conosco, o que me deixou tranquilo. Ele cometeu muitas pequenas contradições e deixou de responder muita coisa, o que não é bem compreendido pela população. Você ter começado com o Triplex desmontou um pouco ele", respondeu o procurador da República.

Minutos depois Moro então sugere: “Talvez vcs devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele". Os vazamentos mostram que a partir daí que Carlos Fernando procurou marcar uma entrevista com a Globo.

Será que não dá para arranjar uma entrevista com alguém da Globo em Recife amanhã sobre a audiência de hoje?”, perguntou em um grupo denominado ‘Analise de Clipping’ que estão inseridos assessores de imprensa do Ministério Publico Federal do Paraná. Os assessores questionaram a necessidade da entrevista: “Rito normal do processo…vcs nunca deram entrevista sobre audiência…vai servir pra defesa bater…mais uma vez…”, disse um dos assessores.

PROCURADORES

Carlos copiou a resposta negativa dos assessores e iniciou uma conversa com o outro procurador, Deltan Dallagnol. “Então temos que avaliar os seguintes pontos: 1) trazer conforto para o juízo e assumir o protagonismo para deixá-lo mais protegido e tirar ele um pouco do foco; 2) contrabalancear o show da defesa”, disse Deltan.

Esses seriam porquês para avaliarmos, pq ng tem certeza...O “o quê” seria: apontar as contradições do depoimento... E o formato, concordo, teria que ser uma nota, para proteger e diminuir riscos. O JN vai explorar isso amanhã ainda. Se for para fazer, teríamos que trabalhar intensamente nisso durante o dia para soltar até lá por 16h”, completou.

Ambos procuradores seguiram a sugestão do ex-juiz e voltaram a reforçar o pedido para os assessores. Mas antes de falar no grupo com os assessores, Dallagnol conversou com Moro.

Caro, parabéns por ter mantido controle da audiência de modo sereno e respeitoso. Estamos avaliando eventual manifestação. A GN acabou de mostrar uma série de contradições e evasivas. Vamos acompanhar”, elogiou Deltan; Moro respondeu: “Blz. Tb tenho minhas dúvidas dá pertinência de manifestação, mas eh de se pensar pelas sulilezas (sic) envolvidas”, salientou.

Dallagnol reforçou no grupo ‘Analise de Clipping’. “Caros, mantenham avaliando a repercussão de hora em hora, sempre que possível, em especial verificando se está sendo positiva ou negativa e se a mídia está explorando as contradições e evasivas. As razões para eventual manifestação são: a) contrabalancear as manifestações da defesa. Vejo com normalidade fazer isso. Nos outros casos não houve isso. b) tirar um pouco o foco do juiz que foi capa das revistas de modo inadequado”, afirmou Deltan.

Um dos assessores rebateu. “Quem bate vai seguir batendo. Quem não bate vai perceber a mudança de posicionamento e questionar. É uma parte do processo. Na minha visão é emitir opinião sobre o caso sem ele ter conclusão…e abrir brecha pra dizer que tão querendo influenciar juiz. Papel deles vai ser levar pro campo político. Imprensa sabe disso. E já sabe que vcs não falam de audiências geralmente. Mudar a postura vai levantar a bola pra outros questionamentos. Pq resolveram falar agora? Pq era o ex-presidente? E voltar o discurso de perseguição…é o que a defesa fez, faz…pq não tem como rebater a acusação. Acusação utilizar da mesma estratégia pode ser um tiro no pé”, concluiu.

O debate no grupo "Filhos de Januário 1" sobre a sugestão de Moro seguiu noite a dentro, os procuradores foram cautelosos para a decisão, mas por fim foi acatada pelos procuradores. A nota foi emitida e divulgada no dia 11 de maio por volta das 15h. Dallagnol informou a Moro por volta das 22h doa dia 11.

Informo ainda que avaliamos desde ontem, ao longo de todo o dia, e entendemos, de modo unânime e com a ascom, que a imprensa estava cobrindo bem contradições e que nos manifestarmos sobre elas poderia ser pior. Passamos alguns relevantes para jornalistas. Decidimos fazer nota só sobre informação falsa, informando que nos manifestaremos sobre outras contradições nas alegações finais”, disse.

POSICIONAMENTO DE MORO

Na manhã deste sábado (15) Moro se defendeu dos vazamentos do 'The Intercept Brasil' através de uma nota: “O Ministro da Justiça e Segurança Pública não reconhece a autenticidade e não comentará supostas mensagens de autoridades públicas colhidas por meio de invasão criminosa de hackers e que podem ter sido adulteradas e editadas. Reitera-se a necessidade de que o suposto material, obtido de maneira criminosa, seja apresentado a autoridade independente para que sua integridade seja certificada.

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