Vaza Jato: Deltan fez lobby para tentar emplacar novo PGR

É o que sugerem as mensagens reveladas pelo site UOL, nesta sexta-feira (16), a partir dos diálogos enviados para o site The Intercept Brasil

sex, 16/08/2019 - 10:02
Agência Brasil/Arquivo Agência Brasil/Arquivo

O procurador Deltan Dallagnol tentou usar o prestígio que conquistou como coordenador da força-tarefa da Lava Jato para fazer lobby com ministros do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), do Supremo Tribunal Federal (STF) e senadores para tentar emplacar seu aliado, o procurador regional da República Vladimir Aras, como o novo procurador-geral da República (PGR).

É o que sugerem as mensagens reveladas pelo site UOL, nesta sexta-feira (16), a partir dos diálogos enviados para o site The Intercept Brasil. De acordo com a reportagem, conversas entre Deltan e Aras apontam que o procurador se engajou pessoalmente na campanha em favor do aliado, apesar de, as vezes, ponderar ter receio de que sua eventual interferência viesse a público. "Bom ficamos na sombra", chegou a dizer a Aras.  

O texto aponta que eles iniciaram as articulações ainda durante a campanha, quando Moro era juiz federal e já especulado como alguém próximo ao então eventual presidente. Em 11 de outubro, entre o primeiro e segundo turno, Aras disse a Deltan: "Fala com Moro sobre minha candidatura à PGR. Com Bolsonaro eleito, vou me candidatar". 

Em resposta, Deltan questiona: "Pra ter contexto, qual objetivo de falar com ele agora? Ver o que ele acha?" E Aras, por sua vez, observa que é necessário "ter continuidade na PGR" e pondera já ter falado com Moro. "Ele disse que sou bom candidato, mas achava que era requisito ser sub. Ele já tem prestígio agora. Onyx será Casa Civil. Ele vai ser ouvido pelo presidente na indicação", diz Vladimir Aras.

"Conseguimos articular sua indicação. Temos várias pessoas pra chegar lá. Várias pessoas que se associaram a nós na luta contra a corrupção e que estarão por perto dele", asseverou Dallagnol, logo em seguida. 

Segundo a reportagem, as articulações foram intensificadas em fevereiro. "Delta, boa noite. Você poderia me apresentar ao [Luís Roberto] Barroso e ao [Edson] Fachin? Preciso de aliados no STF", pede Aras. "Posso sim, claro. Provavelmente em março vou prai [sic] pra dar uma aula magna em uma faculdade com o dia livre e marcamos com eles", sinalizou o procurador chefe da Lava Jato. 

Depois, em 5 de abril, Vladimir Aras conseguiu uma audiência com Edson Fachin, chegou a pedir que antes Deltan desse uma força, mas o amigo disse não ter o contato do ministro do STF e optaram por aguardar um encontro posterior de Deltan com Fachin para falar sobre o assunto e o envio de uma mensagem para outra pessoa intermediária. E para Aras encontrar Barroso em um encontro promovido pelo jornal Estado de São Paulo. 

A matéria também relata que Deltan enviou um email para ministros do STF dizendo que Vladimir Aras "é um colega sério e ponderado, tem excelente capacidade de diálogo, é comprometido com o Estado de Direito e qualificado para o cargo" e ainda afirmava que, "se indicado, fará um grande trabalho na Procuradoria-Geral".

No Senado, o contato com Eduardo Girão (Pode-CE), com quem Deltan marcou um encontro sigiloso. Girão teria proposto um plano de conversas para os dois com  20 senadores influentes, como Eduardo Braga (MDB-AM), Humberto Costa (PT-PE) e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). 

Deltan se mostra empolgado com a ideia: "nesse colégio, a metade vai aderir bem. Alguns talvez nem compense a visita...Mas é aquela coisa; fechar o cerco!”

Outro lado 

Por meio de nota, a força-tarefa da Lava Jato disse que é permitido aos procuradores "incentivar colegas a se candidatarem", "fazer contatos" e "encampar iniciativas para a escolha dos melhores candidatos". Além disso, destacou que tem defendido a lista tríplice "sem manifestar apoio a determinado candidato". O ministro da Justiça, Sergio Moro, Vladimir Aras e Eduardo Girão não se manifestaram sobre as conversas.

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