Ramagem é suspeito de tentar "melar" a Lava Jato

O amigo da família Bolsonaro, que foi indicado pelo próprio presidente para o comando da Polícia Federal, também era amigo íntimo do procurador que foi preso no caso JBS

por Victor Gouveia ter, 28/04/2020 - 08:21
Tomaz Silva/Agência Brasil A carreira do delegado decolou após a eleição de Jair Bolsonaro (sem partido) Tomaz Silva/Agência Brasil

A fim de um contato íntimo com a Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) indicou o amigo da família, Alexandre Ramagem, para assumir o departamento. Contudo, a Operação Lava Jato apontou que o delegado tinha uma suposta relação com o PT, tentou atrapalhar as investigações e mantinha uma amizade com um procurador denunciado por venda de informações no caso JBS. É o que apontam as informações da chamada "Vaza Jato", a partir do vazamento de troca mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil.

Em 2015, o coordenador da Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), Deltan Dallagnol, deu indícios de um delegado carioca, "o qual é muito ligado ao PT, e esperaria favor político futuro em troca de infos para melar o caso"(sic), relatou em uma conversa no Telegram. No mesmo dia, ele descobriu a identidade e contou aos membros do grupo MPF Lava Jato 2. "Nome do Delegado da Polícia Federal é Alexandre Ramagem Rodrigues. Está na Direção-geral da PF, em Brasília" (sic), revelou.

Dallagnol ainda repassou a descoberta para Januário Paludo, um dos veteranos da Lava Jato no Paraná. O homenageado no grupo “Filhos de Januário” – um dos mais movimentados durante as operações - chegou afirmar que acionaria uma investigação em Brasília, contudo a ação não foi iniciada e Ramagem esteve tranquilo até o fim do governo Dilma.

Após dois anos, o delegado envolveu-se na denúncia que estremeceu a gestão de Michel Temer. Um dia após o dono da JBS, Joesley Batista, divulgar a conversa na qual o presidente endossou a compra do silêncio de Eduardo Cunha, o procurador Ângelo Goulart Villela foi preso pela suspeita de ter vendido informações sigilosas ao empresário.

Deltan entrou em contato com o coordenador da Operação Greenfield, que mirava fundos de pensão sob a atuação de Villela. Ele repassou para o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes uma mensagem de um denunciante, que enfatizou uma suposta parceria entre Ramagem e Vilella, e estimulou que o delegado deveria ser "afastado sumariamente, por que é grande o risco de estar envolvido também" (sic).

De fato, o delegado e o procurador trabalharam juntos em Roraima, entre 2008 e 2011. De acordo com denúncias, eles mantinham uma relação próxima e, inclusive, Villela teria dividido uma casa com Ramagem em Boa Vista e o convidou para seu casamento, em 2013.

Conforme reportagem do The Intercept Brasil, o delegado não atuou na Operação Greenfield, mas chegou a atuar na Lava Jato em 2013, quando comandou a Operação Cadeia Velha que prendeu empresários do transporte público, principalmente do Rio de Janeiro.

Alexandre Ramagem prosseguiu na força-tarefa até 2018 e saiu para assumir um cargo administrativo na Polícia Federal. Após a facada sofrida por Bolsonaro durante as eleições, ele tornou-se responsável pela segurança da campanha do futuro presidente. Com a vitória de Bolsonaro, o delegado foi alçado à direção-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), onde atuava até ser indicado ao cargo de diretor-geral da Polícia Federal nessa segunda-feira (27).

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