Tema do Enem 2019: veja exemplos de textos para redação

'Democratização do acesso ao cinema no Brasil' é o tema da redação

por Nathan Santos dom, 03/11/2019 - 17:21
Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo . Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

Surpreendente. Essa é a definição de muitos professores a respeito do tema da redação da edição 2019 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Democratização do acesso ao cinema no Brasil” foi o assunto escolhido pela organização da prova que começou, neste domingo (3), com questões de Ciências Humanas, Linguagens, além da própria produção textual.

Em entrevista ao LeiaJá, professores de redação analisaram o tema divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os educadores Lourdes Ribeiro e Felipe Rodrigues ainda produziram sugestões de textos sobre a temática. Confira:

Lourdes Ribeiro:

Em 2019 a obra “Bacurau” foi exibida nos cinemas do Brasil e do mundo, retratando nas telas a realidade de uma cidade interiorana que, sem razão aparente, “some do mapa”. Trazendo para a realidade, essa exclusão social é uma realidade em diversas cidades do interior do Brasil e nas partes periféricas. Nesse sentido, destacam-se a questão do acesso ao cinema e a elitização dessa arte.

Ao longo dos anos, os cinemas saíram de instalações independentes e foram transportados para shoppings, o que dificultou ainda mais a chegada de telespectadores ao espaço. Moradores de cidades do interior e de periferias não conseguem chegar a esse local e são privados do direto ao lazer que, é uma garantia existente nos Direitos Humanos. Mesmo os espaços que não se encontram em shoppings, estão nas capitais e metrópoles.

Apesar de existir o “vale cultura”, ele só é proporcionado para trabalhadores de carteira assinada. Além disso, apenas empresas vinculadas ao programa da Caixa Econômica Federal são agraciadas com tal vale. Os preços de ingressos são exorbitantes e, mesmo os valores considerados mais populares, se tornam caros para famílias de baixa renda. É importante lembrar que o cinema também é um meio de acesso à informação.

A exclusão social que é retratada no filme “Bacurau” não pode mais ser uma realidade. Portanto, medidas precisam ser tomadas para a resolução das problemáticas abordadas. A Secretaria da Educação precisa capacitar os professores a conscientizar os alunos da rede pública que o cinema também é espaço deles. O Ministério da Cultura (em parceria com empresas privadas) precisa voltar a existir para que possa tomar a frente dessa expansão do acesso ao cinema. Dessa maneira, tanto o acesso quanto a elitização seriam minimizados.

Felipe Rodrigues

O longa-metragem nacional Tatuagem, dirigido pelo cineasta Hilton Lacerda, retrata a dificuldade do acesso à cultura, sendo o teatro e drama auges, de uma narrativa censurada e exibida - em seu desfecho - para um público restrito, inclusive, num filme. No hodierno, nota-se que o diapasão do acesso ao cinema ainda é um contexto problemático, principalmente quando levado em conta o número de habitantes, salas e acesso à sétima arte. Diante disso, a estratificação social e acessibilidade são entraves para a disseminação do conteúdo audiovisual brasileiro.

Cultura, no âmbar sociológico, retrata o conjunto de saberes, tanto históricos, como, indispensavelmente, sociais. A partir disso, vê-se o cinema como uma disseminação de conhecimentos, haja vista o seu reconhecimento como arte; outrossim, ratifica-se tal afirmativa, a partir da Lei 13.006/2014, cuja insere a amostra de filmes nacionais ao ensino básico, em formato mensal. Entretanto, há uma estratificação nesse contexto, pois a valorização nacional e o conceito de arte são opostos, já que a educação não é acessível a todos, nem tampouco o aceso à exibição dos audiovisuais, formando um limbo entre a legislação e a realidade. Nesse viés, o interiorano, em voga, é uma figura cuja deve ser colocada em “cheque”, pois muitos não possuem as mínimas condições de sobrevivência, inerentes às atividades rurícolas, sendo indivíduos análogos ao direito de meia-entrada.

Ademais, pontuar outra dificuldade de acesso ao cinema é lembrar que, aproximadamente, 14% dos brasileiros possuem alguma deficiência, segundo a UNESCO. Nesse contexto, disseminar cultura é integrar uma minoria social, como também, compreender a acessibilidade como ferramenta essencial ao “status quo” estatal.  A descrição audiovisual, através de intérpretes, ainda é um conflito à contemporaneidade nacional, pois é verificado em poucos números, em projetos especiais; para além, às libras, sem dúvidas, conforme um panorama da Revista Carta Capital, deveria ser uma exaltação a uma linguagem nacional, mas, é colocada em segundo plano. O estudo de uma eficácia no processo de democratização cinematográfica do país, em síntese, deve reverberar pela sociedade inacessível, cujas devem entender isso a partir do processo educacional, sendo o primeiro passo de viabilização à sétima arte.

Portanto, a estratificação social e acessibilidade devem ser vieses reformados, quando pontuada a democratização do cinema. Em primazia, o Governo Federal, através do financiamento de projetos ligados à ANCINE, pode pluralizar o acesso ao cinema gratuito, fazendo exibições em praças e regiões interioranas, em formatos mensais, por cidade; para além, a criação de um aplicativo de acessibilidade aos filmes, voltado aos cegos, poderá advir das Universidades, havendo uma audiodescrição simultânea, a partir do início das exibições. Logo, o acesso ao cinema poderá ser pluralizado, das massas aos inacessíveis, nacionalmente.

O segundo dia do Enem será em 10 de novembro. Na ocasião os candidatos responderão questões de Ciências da Natureza e matemática.

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