Home office: a linha tênue entre família e trabalho
Especialista dá dicas para organizar a rotina do trabalho em casa
"Eu sempre quis trabalhar em casa. Era meu sonho ter tempo para me dedicar mais aos meus filhos e deixar de enfrentar esse trânsito caótico da cidade. Mas, na primeira semana em home office, percebi que não é nada fácil conciliar trabalho, família e casa", diz a contatora Alexandra Melo, de 35 anos.
Há mais de um ano em regime home office, devido à pandemia do novo coronavírus, a profissional viu o sonho de trabalhar em casa se transformar, aos poucos, em pesadelo. Com dois filhos, de dois e seis anos, ela tenta equilibrar as demandas do dia e dividir a carga com o marido e a mãe.
"São raros os dias que eu não estou cansada. Mas, eu não posso reclamar muito. Sabe? Tem muita gente que não pode trabalhar em casa, está se arriscando todos os dias em ônibus lotados. Mas, que é difícil manter a produtividade com duas crianças cheias de energia, uma pilha de pratos e chão sujo, isso é", relata a contadora.
Desde que a empresa onde ela trabalha decretou que os seis funcionários trabalhassem remotamente, ela e o marido, Carlos Eduardo Melo, vivem a rotina de escritório e com os filhos 24 horas. "A gente tenta se dividir como pode para ninguém ficar sobrecarregado, só que as crianças são muito apegadas a ela e vivem chamando, mexendo no computador, pegando onde não deve. Eu tenho um horário mais flexível e não fica muito pesado para mim", conta Carlos que trabalha como designer.
Intrusos na reunião
Alexandra e Carlos contam que dias de reunião são os momentos de maior caos na casa. "Já teve um dia que os dois tiveram reunião no mesmo horário. Geralmente, isso não acontece, mas esse dia foi terrível. A minha mãe ficou com os meninos e nós nos tracamos cadas um em um quarto da casa. Só que, em um momento da reunião, as crianças começaram a bater nas portas e fazer miuto barunho. Tentei manter a calma, fingindo que o barulho não era aqui".
E ela continua. "O barulho estava tão grande que o meu chefe parou a reunião e perguntou se estava tudo bem por aqui. Fiquei morta de vergonha e expliquei que era meus filhos. Acabei abrindo a porta e eles sentaram na cama para acompanhar a reunião também", relembra Alexandra.
Carlos também precisou pensar rápido diante de uma situação constrangedora durante uma reunião com clientes. "Eu agradeço todos os dias por minnha sogra morar com a gente neste momento. Nem sei o que seria da gente sem ela, mas, uma vez, tive que pedir que ela saísse do quarto porque não parava de falar. Eu até coloquei o fone, mas ela parou bem na minha frente para conversar. Infelizmente, tive que dizer: a senhora pode se retirar só um minuto? Está atrapalhando aqui", conta.
De acordo com Carlos Eduardo, mesmo após este episódio, o relacionamento com a sogra continuou o mesmo. Em sua defesa, Maria Eugênia Rodrigues conta que gosta de conversar e entende que isso, muitas vezes, pode atrapalhar o andamento do trabalho da filha e genro.
O que fazer?
A especialista em gestão de carreiras, Márcia Souto, ressalta a importância de administrar as demandas do dia. No entanto, ela salienta que não há "receita ou fórmula mágica" e que o melhor é testar opções que se adequem à realidade de cada pessoa ou família.
"Associar as questões de trabalho com as pessoas não é uma das tarefas mais fáceis, principalmente, em tempos de pandemia. As famílias não tiveram um planejamento para a entrada no regime home office. Foi tudo muito rápido e leva tempo para se adaptar à nova realidade", explica.
A especialista aponta que a distribuição de tarefas, diálogo e flexibilidade são cruciais neste momento. Querer dá conta de tudo, segundo ela, "é arriscado e um dos maiores erros para quem está trabalhando de casa".
Questionada sobre o que fazer sobre familiares, filhos e terceiros que chegam a atrapalhar a rotina laboral em casa, ela é categórica. "Com os adultos, a melhor coisa a se fazer é conversar, mostrar que, naquele momento, você não está disponível e é seu horário para se dedicar ao trabalho. Já com os filhos, principalmente, os pequenos é ter paciência, flexibilidade e distribuir os cuidados com os outros cuidadores, caso seja possível", aponta.