Com educação abandonada, professor cobra valorização

Comemorações do dia 15 de outubro reforçam o alerta: insubstituíveis na formação de cidadãos, educadores amargam dúvidas e insegurança

sex, 14/10/2022 - 14:46

O Dia do Professor, comemorado em 15 de outubro, foi oficializado em 1963 por meio do decreto federal nº 52.682, durante o governo de João Goulart. O dia faz alusão ao 15 de outubro de 1827, quando D. Pedro I instituiu a Lei Imperial do Ensino Elementar que criou os cursos primários.

 Apesar da celebração, os professores brasileiros amargam dúvidas e insegurança, devido às últimas medidas tomadas pelo governo federal, como o contingenciamento de verbas. No primeiro semestre, em maio, o governo anunciou o bloqueio de 14,5% da verba que seria destinada ao Ministério da Educação (MEC). No fim de setembro, o bloqueio foi de R$ 1,1 bilhão, fazendo parte do contingenciamento de mais de R$ 2,6 bilhões no orçamento da União.

 Para Leila Almeida, doutora em Educação pela Universidade Federal do Pará (UFPA), professora no curso de Pedagogia na UNAMA – Universidade da Amazônia e pesquisadora, as atitudes tomadas vão na contramão do progresso econômico e do desenvolvimento da nação. “As universidades são as maiores produtoras de pesquisas e descobertas científicas no Brasil. A ciência se faz pela educação, sem seu total financiamento a própria dinâmica econômica, social, biológica, tecnológica sofre graves consequências”, diz.

 Em meio ao cenário atual, Leila acredita que o Dia do Professor deve ser para repensar as ações governamentais de valorização ao profissional. A professora avalia esse quadro como um sinal de alerta da democracia. Ela destaca que “é na democracia que a experiência da formação cidadã e humanizada é possível, justamente por levar a mudanças na realidade social”.

 Leila busca incentivar seus alunos aprofundando o conhecimento, aproximando o saber acadêmico à vida real e transformando informação em conhecimento.

 Incentivo aos professores

Leila Almeida destaca que o Dia do Professor é data de compreender o lugar do profissional de educação no desenvolvimento humano, ético e político de uma sociedade. “A educação pública brasileira precisa ser pensada com absoluta prioridade”, avalia. “Nossas crianças e jovens precisam não só ter acesso à escola, mas a garantia de sua permanência em uma instituição de qualidade.”

 Mara Aguiar é professora de História do Estado há 22 anos. De acordo com a docente, “o professor é insubstituível para a construção da sociedade”.

“A valorização do professor é um dos primeiros passos para garantir uma educação de qualidade”, diz. “A atuação do docente tem impacto dentro e fora da sala de aula, principalmente no desempenho dos estudantes, na qualidade da escola, no progresso do país. Então, em termos de valorização, o primeiro passo é remuneração adequada.”

Segundo Luiz Carvalho, professor da rede privada de ensino, a data é o reconhecimento de um profissional que a cada dia se aproxima da inexistência. Ele também aponta para remuneração igualitária. “O professor deveria ser o profissional mais bem pago de todos”, afirma. “Porém a verdadeira valorização vai além do financeiro, porque o conhecimento repassado é imaterial. Acredito que o professor deva ser amado.”

“Nós, professores, não podemos, jamais, esquecer que, na natureza, todos os recursos que estão disponíveis agora são finitos. A água é finita, os minerais são finitos. Nós, professores, trabalhamos com o único recurso que é inesgotável no mundo, que é a inteligência humana. Pela educação, eu acredito, sim, que a gente pode fazer uma revolução", sentencia Leila Almeida.

"Quando vemos um jovem galgando caminhos do bem, realizado, não há melhor reconhecimento do que esse. Eu aprendi uma frase que diz: quem tem coragem para falar, sempre encontrará alguém com coragem para ouvir. Porém, modificando um pouco, eu diria: quem tem coragem de ensinar, encontrará alguém com coragem para aprender", assinala Luiz Carvalho.

Em seu portal na internet, o Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras em Educação Pública do Pará (Sintepp) divulgou a seguinte nota, pelo dia 15 de outubro.

"Ao longo dos anos a educação não tem sido prioridade no Brasil, e nós sempre fomos mal interpretados/as como o/a profissional que deveria apenas servir a sociedade, renunciando as nossas próprias vontades em função de outras… Ou seja, não se preocupam com nossos baixos salários, com os assédios, mas estamos aqui na luta por valorização profissional e pessoal, e por uma educação crítica e com liberdades fundamentais, em nossa incessante busca pelo pleno desenvolvimento da personalidade humana.

"Hoje, comemoramos sim, mas refletindo sobre nossa importância na vida do ser humano e na sociedade em que vivemos. Sabemos que muitos/as professores/as já tombaram para garantir os direitos que atualmente temos, mas o avanço da perseguição política-ideológica aos/as que lutam por uma educação crítica, reflexiva e emancipadora é gigantesco.

"O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação Pública do Pará – Sintepp (Regionais e Subsedes) parabeniza todos/as os/as professores e professoras que não desistem de lutar, de acreditar e de construir uma educação libertadora."

Na segunda-feira (17), a UNAMA - Universidade da Amazônia celebra o Dia do Professor no campus Alcindo Cacela, em Belém.

Por Lívia Ximenes e Sergio Manoel (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).

 

 

COMENTÁRIOS dos leitores