Especialista ressalta a importância da educação básica
Estudo feito pela ONG Todos pela Educação, com dados do IBGE, aponta alto índice de analfabetismo no Brasil. Número de crianças que não aprenderam a ler e escrever aumentou mais de 66% na pandemia.
Com o intuito de conscientizar a população sobre a importância do ensino e aprendizagem no Brasil, o Dia Nacional da Alfabetização foi instituído em 1966, como uma forma de homenagear a criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC) em 1930 – a partir do Decreto de Lei nº 19.402. A data é comemorada no dia 14 de novembro.
Aprender a ler e a escrever são habilidades básicas para a alfabetização. No entanto, engana-se quem acredita que são as únicas. O desenvolvimento da capacidade de compreensão, interpretação e autonomia na formação de conhecimento é elemento essencial nesse processo.
A coordenadora pedagógica Tiana Pontes diz que outros conhecimentos necessários para atingir a alfabetização completa tem a ver com o conceito de letramento – trabalhando os distintos usos da leitura e escrita nas práticas sociais. Tiana afirma que a educação básica é uma etapa extremamente importante na vida estudantil e é seguindo a idade correta para avançar nas etapas da educação – período em que as crianças entram no primeiro ano do ensino fundamental, por volta dos 6 anos de idade – que o aluno vai obter as aprendizagens essenciais previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Ela é decisiva para a vida acadêmica, porque vai, como a própria nomenclatura diz, dar o preparo básico daquilo que se espera de um estudante, de uma pessoa que brevemente vai entrar na esfera acadêmica”, enfatiza.
Para a pedagoga, alfabetizar letrando é dar ao aluno o significado daquilo que está aprendendo. “Em cada texto e em cada palavra que ele aprende, saber para que serve ou o que significa; é ensinar o aluno a não só decodificar e codificar as palavras, mas que ele também compreenda aquilo que lê aplicado ao ambiente que o cerca; entender os textos, entender as palavras dentro do contexto que é ensinado”, descreve.
Tiana cita que uma das atividades que desenvolve com os alfabetizandos é a de fazer com que eles observem a capa de um livro, tentem ler o título e, ao verem as ilustrações, façam a associação de que tipo de história está imersa naquela obra.
Dentro de casa, a vendedora Wilrilene Amaro, 28 anos, desenvolve atividades que contribuem para o processo de alfabetização da filha Amanda Amaro, 5, e tenta repassar conhecimentos por meio da interação, diálogo e também das brincadeiras. No dia a dia, ela aprende a importância de saber ler, escrever, conhecer números e cores, e de que forma isso vai ajudá-la futuramente.
Sobre as principais dificuldades enfrentadas nessa fase, Wilrilene destaca a falta de atenção, já que Amanda ainda prefere brincar do que estudar. “Mesmo utilizando a ludicidade, é trabalhoso o processo de alfabetização, pois se algo desviar a atenção, ela perde a linha de raciocínio”, relata.
Durante a pandemia, a vendedora conta que a escola oferecia suporte e enviava atividades para serem desenvolvidas diariamente. No entanto, cabia aos pais aplicarem os exercícios aos filhos e ensiná-los. Nessa época, embora tenha sido um processo difícil, Amanda aprendeu as vogais, algumas consoantes, números e a escrever o nome dela, graças à parceria entre escola e família.
Com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2012 a 2021 – realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a nota técnica “Impactos da pandemia na alfabetização de crianças”, do Todos Pela Educação, mostra que a pandemia da covid-19 agravou o desenvolvimento da Educação Pública brasileira. Os números são correspondentes ao terceiro trimestre de cada ano e confirmam os efeitos negativos do período pandêmico. Segundo a nota, houve aumento de 66,3% na taxa de crianças de 6 e 7 anos que, segundo seus responsáveis, não sabem ler e escrever, passando de 1,4 milhão em 2019 para 2,4 milhões em 2021.
Para Tiana, a alfabetização, no Brasil, sempre teve o grande desafio de alcançar o número que se espera de alfabetizados. A pedagoga lembra que a alfabetização é uma das principais metas – a 5ª meta – do Plano Nacional de Educação (PNE) que completará o seu período de vigência em 2024 – o decênio de 2014/2024, instituído pela Lei nº 13.005/2014 definiu 10 diretrizes que devem guiar a educação nacional e estabeleceu 20 metas a serem cumpridas o período listado.
“Não é à toa que a alfabetização é uma das primeiras metas do Plano Nacional de Educação, como uma grande prioridade da educação básica. Um aluno que não está alfabetizado fica impedido, de certa forma, de conseguir desenvolver outras habilidades”, pondera.
A pedagoga relata que, com a pandemia, a educação sofreu um grande impacto na esfera da alfabetização e que os alunos passaram muito tempo sem o acompanhamento diário dos professores e a rotina de sala de aula. “Eles tiveram uma progressão de série mesmo estudando em home office ou, podemos dizer, estudo híbrido, ou tendo pequenos acompanhamentos ali de professores particulares que, apesar de terem sim a sua contribuição, não conseguiram suprir a dinâmica da escola em si”, explica.
“Com a pandemia tivemos um agravo na situação da alfabetização, porque os estudantes prosseguiram com a falta dessa habilidade. O grande desafio da alfabetização nos últimos anos é recuperar as aprendizagens que foram estagnadas nesse período; a alfabetização está dentro dessa perspectiva de recuperação de aprendizagens”, complementa Tiana.
A coordenadora finaliza alertando sobre as consequências da não alfabetização ou alfabetização tardia. Para a pedagoga, a leitura e a escrita são a base da aquisição de conhecimento e a ausência dessas habilidades acarretam a limitação do indivíduo em qualquer disciplina do componente curricular, gerando um impacto negativo no desenvolvimento cognitivo.
Por Even Oliveira e Isabella Cordeiro, com apoio de Karoline Lima (sob a supervisão do editor prof. Antonio Carlos Pimentel).