A educação e alfabetização de jovens e adultos é um grande desafio para o Brasil. Segundo dados da Unesco, atualmente existem 12 milhões de analfabetos, sendo a maioria com idade acima de 15 anos e, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), mais da metade da população brasileira acima dos 25 anos não concluiu o ensino básico, chegando à marca de 51,2% (ou 69,5 milhões de pessoas).
Para combater esses dados alarmantes, existem políticas públicas que são mais do que ações governamentais, são formas de mudar a vida de milhares de pessoas. A modalidade de ensino de Educação de Jovens e Adultos (EJA), criada pelo Governo Federal no ano de 2007 é uma dessas ações que têm como objetivo principal alfabetizar e formar jovens e adultos com mais de 15 anos.
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“A educação de jovens e adultos é definida como uma modalidade voltada para todas as pessoas que não tiveram acesso aos estudos na idade própria. O retorno dessas pessoas à educação traz esse resgate do processo de escolarização, mas também permite uma série de avanços que estão atrelados a esse processo”, destaca Diego Felix, chefe da Unidade da Educação de Jovens, Adultos e Idosos, da Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco (SEE-PE).
De acordo com Diego, a busca pela educação não vem apenas pela necessidade de ingressar no mercado de trabalho, mas também pelo cotidiano, pela rotina com a família e o desejo de conclusão da educação básica.
“Ofertar o EJA é uma forma do Estado reparar dívidas históricas com essa população. Na população brasileira existe um contingente muito grande de pessoas que tiveram sua trajetória escolar interrompida. Hoje, a educação de jovens e adultos permite essa retomada e também a continuidade”, finaliza Diego.
Histórias que inspiram
Dona Nair Gomes, de 72 anos, começou a trabalhar aos seis anos de idade, em hortas e devido à falta de oportunidade durante a sua infância e adolescência, não conseguiu concluir os estudos no tempo correto.
Aos 19 anos de idade, se mudou para o Rio de Janeiro com seu primeiro marido e, mesmo após a mudança, não teve oportunidade voltar à escola. Além de cuidar dos filhos e da casa, ela precisou lidar com um relacionamento abusivo no qual a fez tomar a decisão de voltar para Recife, sozinha e sem o amparo de familiares e amigos.
Dona Nair encontrou na escola um lugar de acolhimento e amor (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)
Quando completou 70 anos, Nair decidiu retomar seus estudos como forma de “ocupar a mente” e foi a partir dessa escolha que a estudante encontrou motivos para continuar sorrindo. Desde então, ela vem ensinando a todos que, independentemente da história de vida e idade, nunca é tarde demais para alcançar os seus sonhos.
Hoje, um dos maiores desafios da dona Nair é aprender a conviver com o mal de Parkinson, mesmo diante da sua situação, isso nunca a impediu de frequentar diariamente as aulas e participar das atividades da escola.
“A educação que eu procurei me ajudou a viver e na escola tenho aprendido com o amor de todos, do pequeno ao grande, do servente aos diretores, que ninguém é melhor do que ninguém”, conta Nair.
Para o estudante José Henrique, a educação foi um marco muito importante na sua vida pessoal e profissional. Alfabetizado aos 12 anos de idade, através do EJA, José encontrou nos estudos a oportunidade para conquistar o seu sonho de se tornar um jornalista.
Durante a sua infância, José afirma que não era um “aluno modelo” e muitas vezes faltava às aulas, sem levar os estudos a sério. Foi com ajuda da sua professora que o estudante buscou se dedicar à escola.
José Henrique sonha em se tornar um jornalista (Chico Peixoto/LeiaJá Imagens)
Atualmente, o jovem é conhecido como “repórter do Ibura”, por levar notícias do bairro para os moradores, através das suas redes sociais. Mesmo diante das dificuldades financeiras, Henrique espera ingressar na universidade para garantir a sua formação na área.
“Eu olhava a televisão e não perdia um programa, todos os dias acordava às cinco horas da manhã e ficava até de noite assistindo as notícias. Eu ficava me perguntando como era segurar um microfone ou uma câmera”, conta José.
Segundo a diretora da Escola Municipal Dois Rios, Carla Ferreira, a educação de jovens e adultos resgata a história daqueles que não tiveram oportunidade de estudar.
“Nós percebemos que esses estudantes chegam na escola com muita estranheza, então tentamos dinamizar as nossas atividades o máximo possível. É importante, porque traz um novo significado de vida para essas pessoas que já têm tantas experiências”, explica Carla.
Cog Alfabetiza
“Dentro do nosso pilar social da escola, o Cog Social, inserimos o programa de alfabetização para adultos, o Cog Alfabetiza. Essa já era uma ideia antiga aqui na escola, atrasada por conta da pandemia, que conseguimos agora operacionalizar. Nada como, dentro desse nosso braço social, incluir mais um projeto que tenha como base a educação e a transformação na vida das pessoas, ainda mais sendo essas pessoas que moram no entorno da nossa instituição”, explica Gabriela Valente, gerente administrativa do Colégio Cognitivo.
O projeto Cog Alfabetiza, na unidade Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, já beneficiou vinte moradores da comunidade do Coqueiral. Segundo Gabriela, o objetivo é expandir para a unidade de Casa Forte com mais vinte alunos.
Uma das estudantes, Raimunda da Silva, de 52 anos, é empregada doméstica e, devido à falta de oportunidade durante a sua infância e adolescência, cresceu sem saber ler e escrever. “O programa tem sido uma ótima experiência e tenho adorado a oportunidade que o colégio trouxe para minha comunidade”, conta Raimunda.
De acordo com Raimunda, conciliar escola e trabalho tem sido um desafio. Devido a sua rotina de empregada doméstica, muitas vezes não consegue estudar como deseja, apenas no horário das aulas. Mesmo diante de dificuldades, a aluna não cogita abandonar os estudos.
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