Filme paraense “Eu, Nirvana” já está em fase de gravação
Longa-metragem rodado em Belém conta a história dramática de quatro mulheres, e brinca com realidade e ilusão
A Santa Casa de Misericórdia do Pará andou movimentada nos últimos dias de julho. Não só pelos diversos atendimentos à população, mas também pela gravação do longa-metragem paraense “Eu, Nirvana”, do diretor Roger Elarrat. Os corredores abandonados de parte do hospital dão vida a uma trama descrita pelo diretor como “onírica”. As gravações também vão contar com cenas no Ver-o-Peso e na ilha do Combu.
O filme foi vencedor do edital Longa BO (baixo orçamento) em 2014. Como o resultado saiu em 2015 e a verba em 2016, o longa começou a ser gravado este ano. São cerca de 70 pessoas nos bastidores, dentre profissionais paraenses, paulistas e até americanos, como Martin Moody, diretor de fotografia. A previsão de estreia é para 2018.
“Tem muitas similaridades e diferenças com meus trabalhos anteriores, esse é meu primeiro longa”, conta Roger Elarrat. “O longa é uma outra forma de estruturar a história, é um outro processo de produção e em termos de narrativa ele é uma coisa mais onírica. Essa coisa do fantástico sempre esteve presente comigo, mas agora é algo diferente. Agora são quatro mulheres como protagonistas”, completa.
Estrelado pela atriz Carolina Oliveira, indicado ao Emmy por "Hoje é dia de Maria" (2005), “Eu, Nirvana” conta a história da personagem Nirvana, ribeirinha da ilha do combu que vem passar o Círio em Belém com a família e acaba sofrendo um grave acidente de barco. Após cerca de 400 dias em coma, Nirvana acorda em um hospital sem notícias da família. Ela conhece outras mulheres que também passaram por traumas e cria uma relação de amizade.
Por não conseguir dormir, a personagem se vê imersa em um lugar cada vez mais fora do normal e passa a tentar fugir. A trama, segundo Elarrat, brinca com gêneros narrativos. “Nirvana acorda em um hospital e ninguém sabe da família dela. A personagem não dorme mais e passa a vagar no hospital e conhecer pessoas, fazer amizades com outros pacientes e aos poucos ela vai se misturando em um mundo que cada vez mais parece menos real. Então, o filme que é um drama de hospital acaba virando uma fuga de presídio, existe uma brincadeira de gêneros”, explica.
Dentre as mulheres que compõem a trama está Denise, interpretada pela atriz paraense Joyce Cursino. A personagem carrega consigo um trauma, o escalpelamento, uma realidade das mulheres amazônicas. Segundo a atriz, a história da personagem traz para ela uma responsabilidade. “Não é somente uma dor física, mas um acidente que altera a dinâmica familiar, porque essas pessoas sobrevivem apanhando açaí, pescando e, depois do acidente, essas pessoas não conseguem ter essa vida de volta, porque não podem fazer nenhum movimento brusco”, explica Joyce. Para dar vida à personagem Denise, a atriz conversou com mulheres que foram escalpeladas. “Eu fiz um laboratório, estou indo nos espaços e conversando com mulheres e, recentemente, conversei com uma mulher que foi escalpelada há 30 anos, e ela ainda faz tratamento. É uma realidade triste, e essas mulheres são muito fortes”, conta.
Para ajudar na composição física de cada personagem, o trabalho da maquiadora Sônia Penna entra como algo primordial. “A gente tem que fazer uma pesquisa de acordo com cada personagem. A Nirvana é uma menina ribeirinha do Combu que sofre um acidente de barco e tem um corte na cabeça e fica sem memória. Então quando ela acorda, nós temos que dar essa dimensão do tempo que ela dormiu, o modo dela andar, a magreza dela e todas as etapas do personagem”, explica Sônia. Segundo ela, cada personagem exige um trabalho e desafio diferentes. “Todos os personagens dentro de suas características são desafiadores, porque é um trabalho de conjunto de arte, figurino, maquiagem e ator. Cinema é um trabalho de equipe, como tudo na vida”, conta. Veja, abaixo, um vídeo sobre a produção do filme.