Michael Phelps: de jovem prodígio a lenda olímpica
Na sua última olimpíada, o maior medalhista da história dos jogos quer apagar episódios negativos para surpreender o mundo mais uma vez
É impossível dissociar a imagem de Michael Phelps dos Jogos Olímpicos. Na sua quinta, e última, participação, o nadador já cravou seu nome na história das olimpíadas como o maior medalhistas de todos os tempos. Nada mais justo que relembrar a carreira, nem sempre tranquila, do americano que precisou errar feio para nos lembrar que também é humano.
Jovem prodígio
Para falar sobre Phelps é preciso voltar no tempo, até 2000, Sidney. Com apenas 15 anos de idade, o jovem Michael, que já acumulava recordes em torneios nacionais em competições de juvenis, estreava em olimpíadas com um louvável quinto lugar nos 200m estilo borboleta. Poucos meses depois, o garoto mostrou que não estava para brincadeira e quebrou o recorde americano da prova no Mundial de Natação de Fukuoka, no Japão. Era o início de uma carreira gigante, oriunda de muito treinamento e um talento único no mundo.
Em Atenas, 2004, já não se tratava mais de uma jovem promessa, Phelps era uma realidade. Com apenas 19 anos, o nadador já carregava consigo oito recordes derrubados em torneios mundiais. Claro, entrou como favorito. E não sentiu dificuldade em lidar com tal status. Foram seis medalhas de ouro (400m medley, 200m borboleta, revezamento 4x200m nado livre, 200m medley, 100m borboleta, revezamento 4x100m medley) e outras três de bronze (200m nado livre, 4x100m nado livre e 200m nado livre).
A maturidade e o auge
Se o talento era natural, a seriedade nos treinos, fruto do amadurecimento, só melhorou o desempenho do americano. O foco era um só: a olimpíada de Pequim em 2008. Michael utilizou os mundiais de Montreal e Melbourne como preparação e, ainda assim, continuou batendo recordes. Tanto que em 2007 desbancou o australiano Ian Thorpe, se tornando o maior vencedor de mundiais com sete medalhas de ouro. Além de quebrar mais cinco recordes mundiais, incluindo um que já pertencia a ele.
A rotina de vitórias contrastava com o cansaço dos treinos que ocupavam todo o tempo do atleta. Porém, tanto esforço iria render um aproveitamento perfeito em Pequim. Phelps disputou oito provas e venceu todas elas. Tornando-se bicampeão olímpico dos 200m e 400m medley, dos 100m e 200m borboleta, do revezamento 4x100m medley e 4x200m nado livre. Além de conquistar pela primeira vez os 200m livre e o revezamento 4x100m nado livre.
Desleixado, mas ainda campeão
Após os títulos em Pequim, a vida social do americano começou a ganhar destaque na mídia. Natural para quem se tornou uma celebridade. Porém, até para alguém visado, a situação começou a ficar complicada. Em 2009, Phelps foi flagrado em uma foto fumando maconha em festa com amigos e o retrato foi parar na imprensa. Por conta do ocorrido, a Federação de Natação dos Estados Unidos o suspendeu por três meses. O nadador foi a público pedir desculpas pelo que chamou de ‘um erro imaturo de um garoto de 23 anos’.
Com os jogos chegando, Michael faltava às sessões para curtir festas ou até dormir em casa. A indisciplina custou a boa relação com o treinador que o acompanhava desde a infância, Bob Bowman. Em uma das discussões, os dois trocaram xingamentos e gestos obscenos em público. Phelps chegava para a olimpíada de Londres, em 2012, com uma preparação defasada e transparecendo pouca confiança. Ainda assim, conquistou quatro ouros, tornando-se tricampeão dos 4x200m nado livre, 4x100m medley, 200m medley e 100m borboleta. Além de duas medalhas de prata (200m borboleta e 4x100m nado livre).
O americano tomava o posto de maior medalhista da história dos jogos com 18 ouros, duas pratas e dois bronzes, superando a ginasta soviética Larisa Latynina.
Polêmicas, aposentadoria e o retorno às piscinas
Com 27 anos, maior medalhista da história das olimpíadas e cansado da rotina de treinos, Michael Phelps anunciou, em 2012, que estava deixando as piscinas. A partir daquele momento, iria curtir a família e os amigos. O mundo se chocava com tal notícia: todos queriam ver o nadador ir ainda além nos jogos de 2016, no Rio de Janeiro. O problema é que o período de aposentadoria foi curto, mas turbulento. Em 2014, poucos meses após desistir da aposentadoria, foi preso por dirigir alcoolizado em alta velocidade. Era o indício de que as coisas não estavam bem.
Phelps apresentava sintomas de vícios e depressão. Acabou condenado por um ano, teve a licença cassada e precisava manter o tratamento contra o alcoolismo. Passou 45 dias internado no centro de reabilitação The Meadows, em Phoenix. O período poderia ter encerrado a carreira do nadador, que já havia aproveitado a suspensão de seis meses da Federação Americana de Natação para dar outro tempo em seus treinos. Mas o campeão voltou a treinar forte em 2015 e brilhou nas seletivas olímpicas dos Estados Unidos, nas quais garantiu vaga para a Rio-2016.
A despedida
Independente de resultado, a Olimpíada do Rio de Janeiro é o último ato de Michael Phelps. Classificado, empolgado e com idade avançada para um esportista, o nadador está vivendo um novo momento emocional. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ele deixou claro que chegou ao Rio com a intenção de deixar uma última boa impressão para deixar todas as polêmicas no passado.
“Em 2012 eu estava acabado, não queria mais nada. Agora, estou feliz novamente, como estava entre 2007 e 2009, meu melhor momento. Vou fazer o meu melhor, e se não conquistar medalhas fico feliz também porque sei que terei dado o melhor de mim”, disse Phelps.
Michael é um vencedor. E somente a presença dele já é motivo suficiente para acompanhar o Rio-2016. Vale a pena conferir o maior da história em seu último mergulho, justamente em piscinas brasileiras.