População pobre está mais exposta a episódios psicóticos
Homens jovens e minorias étnicas também apresentam maior incidência de transtorno mental grave
Um estudo realizado na Inglaterra, França, Holanda, Espanha, Itália e Brasil buscou identificar quais são as pessoas mais vulneráveis a um transtorno mental grave. O levantamento constatou que homens jovens, minorias étnicas e moradores de áreas com baixos indicadores socioeconômicos são os mais propensos a apresentar um primeiro episódio psicótico.
Entre os transtornos mentais abarcados pela pesquisa estão esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar e depressão com sintomas psicóticos, como alucinações, ideias delirantes e desorganização do pensamento. No Brasil, o trabalho foi feito pela Universidade de São Paulo (USP) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Em países europeus, tem sido observada maior ocorrência do primeiro episódio psicótico em grandes centros urbanos em comparação com pequenas vilas e áreas rurais e em grupos étnicos minoritários, como imigrantes negros do Caribe e da África. No Brasil, o levantamento foi feito em 26 municípios da região administrativa de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
Ao todo, os pesquisadores identificaram 2774 pacientes que apresentaram um primeiro episódio de transtornos psicóticos, dos quais 1578 eram homens e 1196 mulheres, com idade média de 30 anos. Na região de Ribeirão Preto, a incidência foi de 21 novos casos por 100 mil habitantes por ano.
Segundo o pesquisador Paulo Rossi Menezes, o estudo derruba um mito do século 20. "O estudo confirmou que a incidência do primeiro episódio psicótico varia muito entre grandes centros urbanos e regiões mais rurais e indicou que os fatores determinantes centrais para essa grande variação são, provavelmente, ambientais. Até o fim do século 20, acreditava-se que os principais fatores etiológicos de transtornos psicóticos seriam genéticos, mas os dados do estudo apontam que os fatores ambientais desempenham um papel muito relevante", disse o professor.
Os estudiosos também identificaram alta incidência do transtorno mental grave em minorias étnicas e em áreas com menor porcentagem de casas ocupadas por seus proprietários. Isso sugere que as condições socioeconômicas das pessoas e do ambiente onde vivem têm papel importante na causa do problema. O fato de haver maior incidência em homens de 18 a 24 anos em comparação com mulheres na mesma faixa etária ainda é desconhecido. Uma das hipóteses está relacionada ao processo de amadurecimento cerebral.
De acordo com Menezes, experiências traumáticas na infância e experimentar maconha na adolescência ou início da vida adulta são exemplos de fatores que aumentam o risco de transtornos mentais. O objetivo é que estudos como esse possam identificar os fatores de risco e intervir para diminuir a incidência.