Mulheres vão às ruas de Belém para clamar por justiça

A sentença que inocentou acusado sob a justificativa de que ele "não teve a intenção de estuprar" gerou revolta e preocupação na sociedade

seg, 09/11/2020 - 10:43

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Neste domingo, 8 de novembro, mulheres saíram às ruas de Belém pedindo justiça e aos gritos como "a culpa não era minha, nem de onde estava nem como me vestia". O protesto foi uma reação à sentença judicial no caso Mariana Ferrer, a jovem estuprada e humilhada em audiência judicial. O homem acusado do estupro foi inocentado. Ouça podcast sobre o assunto aqui.

A manifestação se iniciou às 15 horas na Praça Santuário, em Nazaré, e seguiu até o mercado de São Brás, onde um carro-som estava à espera para que as manifestantes pudessem dar seus relatos sobre abusos e assédios. Depois, em passeata, as mulheres voltaram para a Praça Santuário.

As participantes do ato usaram preto. Segundo uma das organizadoras da manifestação, a cor seria utilizada para representar o luto. “A cor preta é de luto entre nós, mulheres, porque cada vez que uma mulher é estuprada, agredida e assediada, um pouco da gente morre junto com elas”, disse Geovanna Mandela.

A estudante Lana Cardoso, de 24 anos, foi para a carreata acompanhada do filho e do namorado. Ela ressaltou que estava lá não só por ela, mas também pelas gerações futuras. “Eu acho interessante que as crianças consigam compreender o que está acontecendo no mundo. A gente só consegue criar o mundo melhor quando a gente muda essa geração. Não adianta nada a gente pedir, pedir, pedir respeito, mas a gente tem que parar para pensar ‘Quem é que tá criando esses estupradores? Por que eles ainda acham que vão ser impunes?’, porque a gente tem que desconstruir essa sociedade patriarcal e machista e não é depois que o cara já tem 20, 30 anos... é lá na raiz. Você tem que mudar desde o começo", disse a estudante.

Um dos assuntos mais retratados durante o ato foi o chamado “estupro culposo". Quando questionadas sobre o termo, todas as mulheres confessaram ser uma “falta de respeito com todas elas". “'Estupro culposo' não tá nem na legislação. Se você for pesquisar, esse termo não existe. Então já é uma maneira de você querer disfarçar o estupro. Pela lei, o estupro é um crime hediondo, condenável. Então isso foi uma maneira de poder burlar a lei. É mais fácil você inventar um novo termo do que culpar o estuprador”, desabafou a organizadora Geovanna.

Por Rita Araújo.

 

 

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