Belém, 405 anos: lixo ameaça qualidade de vida

O descarte inadequado de resíduos continua sendo prejudicial para a cidade e seus habitantes e a educação ambiental se faz cada vez mais necessária

seg, 11/01/2021 - 11:39

Ao andar pelas ruas de Belém não é incomum encontrar lixo descartado de forma inadequada. Eles podem variar desde papéis até sofás e eletrodomésticos danificados, os quais entopem bueiros e canais, causando prejuízos para a população. Segundo dados do Panorama 2020 feito pela Associação Brasileira de Empresas de Limpezas Públicas e Resíduos Especiais (Abrelpe), a geração per capita (kg/hab/ano) de resíduos sólidos na região Norte saltou de 286,9 kg, em 2010, para 322,7 kg por habitante, em 2019. E conforme matéria do jornal O Liberal, em agosto de 2020, a Secretaria de Saneamento Municipal (Sesan) afirmou que são retiradas, por mês, cerca de 200 toneladas de resíduos sólidos nos canais da capital paraense.

O prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) tem como uma das prioridades resolver a questão do lixo em Belém. Em entrevista ao G1 Pará, na época ainda candidato, Edmilson Rodrigues apresentou como propostas para destinação do lixo a criação de aterro sanitário com técnicas modernas, através de diálogos com os municípios e o Governo do Estado, bem como estimular a coleta seletiva e fortalecer as cooperativas para geração de renda e proteção do meio ambiente.

Para viabilizar a coleta seletiva, a engenheira sanitarista Miroslawa Luczynski, professora dos cursos de engenharia da faculdade UNINASSAU Belém, acredita que o primeiro passo é explicar à população o que é a coleta seletiva, assim conscientizando sobre a sua importância. A professora Miroslawa também chama atenção para a necessidade de informar através de projetos e ações, dar estrutura adequada às cooperativas e incentivar novas. Também aumentar os Pontos de Entrega Voluntária (PEV) e realização de parcerias com empresas e/ou órgãos que queiram participar como PEV.

“Sempre mostrando à população os resultados e informando, pois não adianta só falar em implantação ou dizer que existe PEV se não se explica o que é de fato. Não se pode alcançar resultados começando pelo final, ou seja, apresentar o produto e só depois dizer para que serve. A população precisa ser informada de todo o processo, pois só assim poderá entender, participar e colaborar”, reforça a engenheira.

Miroslawa Luczynski explica que o termo “periferia” significa o contorno, os arredores, locais afastados dos grandes centros e lembra que, devido ao crescimento desordenado da cidade, a periferia e o centro misturaram-se. Nas áreas periféricas, ela conta que o problema do lixo está além do serviço de coleta regular, passa pela necessidade de informar, de conscientizar a população sobre a importância do descarte adequado dos resíduos sólidos. “Volta-se à questão da informação: a população (principalmente destes locais) tem que ter consciência de que eles já não são 'periferia' e sim parte de um todo e fazer a sua parte, pois a realidade que se vê quando se passa por esses locais é lixo na rua. E a realidade é que a população não quer o lixo dentro de casa. Vai muito além de se ter uma coleta regular ou não”, afirma.

O descarte inadequado do lixo pode causar diversos prejuízos tanto para o meio ambiente quanto para a população em termos de saúde. A engenheira dá destaque para a formação de lixões ao redor de onde os resíduos são jogados, e a poluição dos canais e rios que prejudica a sobrevivência da fauna e da flora. Ela explica que muitas vezes as pessoas não percebem que estão poluindo os rios com ações que parecem inofensivas. “Sabe aquela garrafa plástica ou latinha de refrigerante jogada na rua? Pois é, ela pode entupir bocas de lobo, chegar aos canais e rios, ou seja, a população é responsável pelo lixo que descarta de forma inadequada sim”, afirma.

Miroslawa Luczynski esclarece que descartar o lixo incorretamente pode entupir as galerias pluviais, acarretando grandes problemas de saneamento, infraestrutura, enchentes e saúde pública, pois ao alcançar os canais e rios esses resíduos causam ainda mais transtornos. Ela afirma que outro problema é a proliferação de insetos vetores de doenças como o Aedes aegypti, que causa a dengue, a Zica e a Chikungunya. “Isso ocorre devido ao acúmulo de água parada no lixo, formando o criadouro ideal para esse mosquito, acarretando um problema diretamente ligado à saúde pública”, diz a engenheira.

Miroslawa Luczynski esclarece que a educação é um processo, por meio do qual o indivíduo e a coletividade possam construir valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e até competências voltadas para a conservação do meio ambiente, uso comum do povo, qualidade de vida e sustentabilidade. Mas ela ressalta que é necessário discutir primeiro sobre conscientização ambiental. “Antes de falar em educação ambiental deve– se falar primeiro em conscientização ambiental, principalmente aqui em Belém, onde a população precisa entender que a participação dela é essencial para o processo dar certo. Porém é preciso que a mesma tenha os subsídios necessários para isso”, diz.

A engenheira sanitarista destaca a importância de ações que visem pontos como: não geração – redução – reutilização – reciclagem – tratamento e disposição final. Estes são indicados na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº 12.305/2010, que organiza como o país deve lidar com o lixo, exigindo transparência dos setores públicos e privados para administração dos resíduos. Essa mesma lei também prevê a necessidade de substituir os lixões a céu aberto por aterros sanitários como forma de proteger o meio ambiente.

A engenheira explica que Belém é uma cidade rodeada por rios e que alguns bairros foram aterrados, surgindo a necessidade dos canais. Porém o crescimento da população não foi acompanhado pela infraestrutura necessária e hoje a cidade está “inchada”, principalmente no centro. Em relação às pessoas que moram ao redor desses canais, Miroslawa afirma que mudar a realidade seria promover condições salubres a elas. Ao fazer o planejamento de macrodrenagem, melhoraria a qualidade de vida, acesso à água, coleta de esgoto, de resíduos sólidos e drenagem.

“Porém mais uma vez a população precisa se conscientizar de que ela também é responsável pelo local onde mora e pelos benefícios que ali são realizados”, acrescenta.

Em entrevista para o jornal “Bom Dia Pará”, da TV Liberal, o prefeito Edmilson anunciou um novo projeto que visa à abertura de uma nova avenida, em Belém, paralela ao canal São Joaquim. Quanto a isso, Miroslawa Luczynski diz que é possível abrir avenidas em qualquer lugar contanto que haja necessidade, planejamento, projetos adequados e a população seja informada antes para que tenha consciência colaborativa, participação e principalmente responsabilidade. “De nada vai adiantar abrir uma avenida se a população não for conscientizada do porquê. Irá cair nos mesmos erros que culturalmente há anos vem acontecendo em nossa região/cidade: começa pelo final, ou seja, se entrega a obra e só depois se 'pensa' em informar a população, chamando isso de 'educação ambiental'”, analisa a engenheira.

Miroslawa Luczynski cita os fatores que contribuem para o problema do lixo em Belém. Um dos principais é a falta de informação, associada à ausência de planejamento e ações com as comunidades. Também salienta que o aterro sanitário não resolve essa questão sozinho. “A população tem que participar fazendo a parte dela através da conscientização que tem que ser feita pelo poder público (gestão) através deações que faça com que a população possa ter os subsídios necessários para colaborar”, enfatiza.

Por Carolina Albuquerque e Isabella Cordeiro.

 

 

COMENTÁRIOS dos leitores