'Sopro de esperança': as brasileiras vacinadas no exterior

O LeiaJá conversou com três nordestinas que já receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19 nos Estados Unidos e na Alemanha

por Jorge Cosme ter, 12/01/2021 - 13:03
Montagem/Cortesia Da esquerda para direita, Thamiris Hastings, Ingrid Ramos e Maria Elizete Gonçalves Montagem/Cortesia

Enquanto o Brasil vive a expectativa da análise dos pedidos de uso emergencial das vacinas produzidas pelo Instituto Butantan e Fiocruz, brasileiros começam a ser imunizados no exterior. O LeiaJá conversou com três brasileiras que já receberam a primeira dose da vacina nos Estados Unidos e na Alemanha.

A recifense Thamiris Barbosa Hastings, de 30 anos, conseguiu receber a vacina da Pfizer por trabalhar na área de saúde na cidade de Milwaukee, em Wisconsin, nos Estados Unidos. Após ser questionada pela chefe se tinha interesse em ser vacinada, Hastings recebeu um email indicando todos os procedimentos para agendamento. Ela recebeu a primeira dose em 29 de dezembro.

“Para mim foi uma maneira maravilhosa de encerrar o ano, porque não foi fácil”, diz. Ela começou a trabalhar como enfermeira assistente em um hospital neurológico em fevereiro de 2020, pouco antes do início da pandemia. Em novembro, foi trabalhar em um hospital infantil. 

Ela conta ter ficado muito emocionada na fila de espera para ser atendida. “Quase chorei porque trabalhar numa pandemia não é fácil, e ter tido contato com pacientes, principalmente infantis, que sofreram com Covid é uma coisa muito pesada”, comenta. “Ter essa vacina é como se fosse um sopro de esperança de que as coisas vão melhorar, que eventualmente vai ficar tudo bem.” A enfermeira disse que após tomar a vacina sentiu apenas mãos e pés com formigamento por poucos minutos e dor no local de aplicação.  

Hastings relata que é a única pessoa da família que mora fora do Brasil, por isso, tem estado atenta às discussões sobre vacinação em seu país natal. “Me preocupa muito a forma como o brasileiro vem lidando com a pandemia. Se o presidente não segue o protocolo do Ministério da Saúde, por que os brasileiros vão seguir? Até o Trump faz quarentena, mas o Bolsonaro não. É preocupante.”

Outra pernambucana que já recebeu a primeira dose foi Ingrid Ramos, de 22 anos. Natural de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR), ela mora na Alemanha desde 2017. A jovem recebeu uma dose da vacina da Moderna em 6 de janeiro no lar de idosos onde cursa enfermagem, na cidade de Lohne. No país, o público prioritário é composto por idosos e profissionais que trabalham na área de saúde, no qual ela foi incluída. A segunda aplicação está marcada para o próximo dia 27. 

Ramos viu o impacto da doença de perto. Entre as cinco unidades do lar de idosos onde trabalha, 16 idosos morreram de Covid-19. "Tive que entrar em quarentena por causa do trabalho. Eu só podia ir trabalhar e ficar em casa. Esse foi o momento mais difícil. Eu realmente me sentia isolada. No penúltimo dia do meu isolamento, tive uma crise de ansiedade e não parava de chorar. Tinha uma sensação de medo e, ao mesmo tempo, de alívio de saber que no dia seguinte iria poder sair de casa.“ Ela chegou a fazer cinco testes de Covid-19 em menos de um mês e meio.

A estudante confessa também ter sentido medo de tomar a vacina. Por fim, acredita que fez a decisão certa. "Por eu ter que lidar diretamente com a Covid-19, decidi que ser vacinada seria a melhor opção. Também pretendo viajar para o Brasil e acredito que vou estar mais segura vacinada. Estou me sentindo bem com a decisão que tomei", completa ela, que diz ter sentido apenas dor no braço que recebeu a vacina.

A jaboatonense diz que tem esperança de um ano melhor, mas ainda não se sente aliviada. "Quanto a sensação de alívio, acho que só vou ter quando eu souber que boa parte do mundo já está imune, quando os casos realmente começarem a diminuir e os leitos ficarem vazios."

Maria Elizete Gonçalves, de 39 anos, também trabalha em uma unidade do lar para idosos, como auxiliar de cozinha. Mora em Bremen, na Alemanha, há 16 anos, e é de Fortaleza, no Ceará. Foi vacinada em 4 de janeiro.

No local onde trabalha, houve vários casos de enfermeiros contaminados. Por conta disso, os profissionais passaram a ser testados de três em três dias. Mesmo assim, segundo ela, quando receberam a proposta da vacina, muitos ficaram com medo. "Eu fiquei com um pouco de medo porque tenho asma e alergia, mas ao mesmo tempo estava com muita vontade de tomar."

Gonçalves conta que sua filha de 14 anos chegou a chorar pedindo para a mãe não ser imunizada. “Eu tive dúvidas. A gente escuta falar tanta coisa.” No dia que começou a vacinação no lar de idosos, entretanto, ela foi a segunda da fila, logo atrás do patrão. Chegou a ter dor de cabeça e braço dolorido, mas esses efeitos já passaram.

“Se a pessoa tiver oportunidade de tomar a vacina, acho que deveria tomar. Aqui na Europa inteira já tem muita pessoa se vacinando e não está tendo nenhum caso negativo. É uma esperança que a gente tem que ter, de que as coisas vão melhorar com a vacina. Estou com a expectativa muito boa”, comentou ela.

No Brasil, o Instituto Butantan, responsável por produzir a Coronavac, e a Fiocruz, que produz a de Oxford, fizeram o pedido de aprovação de uso emergencial das vacinas. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aceitou os documentos da Fiocruz e exigiu informações complementares ao Butantan.

O instituto divulgou que o imunizante da Sinovac tem uma eficácia de 78% para casos leves e 100% para graves e moderados. Ainda não foi informada a eficácia global. 

A AstraZeneca e a Fiocruz solicitaram à Anvisa o uso emergencial de 2 milhões de doses prontas da vacina a serem importadas da Índia. A taxa de eficácia da vacina de Oxford é, em média, de 70%.

Na segunda-feira (11), o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse que todos os estados vão receber o imunizante no mesmo dia. Ele evitou cravar uma data. "A vacina vai começar no dia D, na hora H no Brasil. No primeiro dia que chegar a vacina, ou que a autorização for feita, a partir do terceiro ou quarto dia já estará nos estados e municípios para começar a vacinação no Brasil."

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