PE: déficit de vacinados com 2ª dose pode impedir Carnaval

Infectologistas entrevistadas pelo LeiaJá reforçam que a pandemia ainda não foi controlada e advertem para os riscos de realizar a comemoração em fevereiro

por Victor Gouveia sex, 10/12/2021 - 12:44
Arthur Souza/LeiaJáImagens/Arquivo Desfile do Galo da Madrugada de 2020 Arthur Souza/LeiaJáImagens/Arquivo

Os clarins de momo vão permanecer silenciosos e as cores do Carnaval precisam esperar mais um ano para voltar a tomar as ruas do Recife, foi o que duas infectologistas indicaram em entrevista ao LeiaJá. Após fim de 20.301 vidas em Pernambuco por conta da pandemia é preciso manter o bom senso em 2022 e se esforçar para aplicar mais vacinas de segunda dose para, finalmente, alcançar a segurança sanitária.

"Mesmo faltando dois meses, é pouco provável que a gente consiga ter um Carnaval seguro, liberando para blocos de rua e aglomerações. Na verdade, o que a gente enfrentaria era uma nova onda e com um quantitativo maior de pessoas infectadas, a gente poderia ter um aumento do número de casos graves e de óbitos. Não é o momento", definiu a presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Pernambucana de Pediatria (SOPEPE), Alexsandra Costa.

Sem poder afirmar que a Covid-19 esteja controlada, ela e a representante da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sylvia Lemos Hinrichsen, cobram maior precaução mesmo com a queda nos índices de mortes diárias, casos graves e internações. "A cada dia nos surpreendemos com esse vírus, a cada dia são novas mutantes", alertou Hinrichsen.

"A preocupação aqui em Pernambuco é o quantitativo de pessoas que ainda não realizaram a segunda dose", avalia Costa. O levantamento da Secretaria Estadual de Saúde (SES) apresenta a cobertura vacinal de 77,84%, somadas às doses únicas.

No entanto, 1.389.434 pessoas ainda não tomaram a segunda dose do total de 7.692.429 pessoas - a partir dos 12 anos - autorizadas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI).

"Esse problema só será controlado quando houver igualdade de vacinação no mundo inteiro", critica a membro da SBI, que entende que nem a imunização pode ser conclusiva a longo prazo. "Precisamos de mais tempo para saber durante quanto tempo essa imunidade permanece e se vamos ter necessidade de outras doses, e como isso vai se comportar dentro do tempo na Ciência", destacou.

Falta de controle nas divisas

Para a presidente de Infectologia da SOPEPE, a hipótese de propor as comemorações só poderia começar a ser debatida se o estado, e o país, mantivessem barreiras sanitárias rígidas.

"Estando fechado para turistas seria pouco provável que houvesse uma nova onda de reinfecção, mas as fronteiras não estão fechadas e os turistas estão transitando, então a qualquer momento pode ocorrer reinfecções e um aumento do número de casos e internações com novas variantes", adverte.

Ainda sem estudos sobre os efeitos futuros da doença, a proposta de testagem para os estrangeiros e visitantes de outros estados também pode trazer prejuízos. "Muitas vezes os testes para o Covid podem ter falsos negativos em porcentagem que variam até 70% e tem os casos assintomáticos", comentou Hinrichsen.

Por isso, além da cobrança por mais vacinas, ela pede que os cuidados básicos com a doença precisam ser praticados e que o fim da pandemia depende do esforço de cada um.

"O controle da epidemia está nas nossas mãos, higienizando-as. Está no nosso braço, oferecendo para a vacina. E está nos nossos sentidos, principalmente fazendo com que nos conscientizamos que ainda precisamos nos proteger e proteger o outro", concluiu.

Vereadores debatem o assunto

Uma Comissão Especial de Carnaval foi instaurada na Câmara dos Vereadores do Recife para ouvir especialistas, como o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), e debater a possibilidade de promover a festa em fevereiro, adiar para o fim do primeiro semestre ou suspender de vez a realização em 2022.

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