O opositor cordial
"Das figuras históricas, Arraes está na história de Pernambuco e outros dirão mais do que de Pernambuco, que foi um grande político de projeção nacional", disse Roberto Freire
O ex-governador de Pernambuco Roberto Magalhães, apesar de ter sido opositor político de Arraes, diz que a relação entre os dois como cordial. “Eu fui um opositor cordial, que recebia dele a reciprocidade. Depois daqueles de convivência com Miguel Arraes, da maneira que ele me tratou, eu tenho saudade dele. Gostaria que ele tivesse vivido mais. Digo com toda a sinceridade. Ele deixou um legado grande e honroso. Das figuras históricas, Arraes está na história de Pernambuco e outros dirão mais do que de Pernambuco, que foi um grande político de projeção nacional. Foi governador três vezes. Isso não é fácil”.
Um dos primeiros contatos que Magalhães teve com o ex-governador foi no Rio de Janeiro. “Que eu me lembre, a primeira candidatura para deputado estadual foi pelo PSD, do qual o meu tio Agamenon Magalhães que foi interventor, governador e ministro, era o chefe do partido. Ele se elegeu. Lembro-me de Miguel Arraes, quando estava no Rio de Janeiro, porque eu estudei aqui Direito, até o terceiro ano, e fui para o Rio de vez para ocupar um cargo no Tribunal de Contas. Eu me lembro que uma vez Paulo Rangel Moreira esteve com Miguel Arraes no meu escritório, na Rua México. Não foi tratado de nada importante. Foi, digamos, uma aterrissagem rápida para telefonar e eu vi mais de perto Miguel Arraes, pela primeira vez. Ele estava muito à vontade”, recordou.
O reencontro aconteceria quando Roberto Magalhães pediu licença do cargo que exercia no Rio para voltar ao Recife. Na época, o advogado recém-formado exercia a função de assessor jurídico do então governador Cid Sampaio, na década de 60. Arraes era secretário da Fazenda de Cid. “Com o passar do tempo chegou o momento para a eleição de prefeito do Recife. Ao longe, eu ouvia falar que Miguel Arraes seria candidato de Cid. Ouvia falar havia problema na família, que parentes queriam e outros nãos. São decisões difíceis que às vezes não parecem importantes, mas que são decisivas. No caso, foi. Cid apoiou e Miguel Arraes foi candidato muito mais de esquerda do que do próprio Cid”, contou.
A relação se estreitaria com Arraes, no final do governo de Marco Maciel quando teria disputado a eleição com Marco Freire, em 1982, e venceu. “Arraes, na época, foi candidato a deputado já que não foi a governador. O que me beneficiou muito porque se ele tivesse se candidatado a governador, com aquela força que ele tinha, acho que não tinha forca humana para eu ganhar a eleição. Primeiro, ele tinha prestígio porque o Recife é uma cidade que sempre teve uma tradição de esquerda. Nisso, ele já era um nome fácil da aceitação daquilo que vem depois da aceitação que é a estima e depois a admiração, então, assim chegamos ao fim da campanha. Nesse ano, Miguel Arraes foi o deputado mais votado com 336 mil votos. Arraes era uma força política”.
Magalhães admira o fato de, apesar do prestígio, Arraes não ter transformado a sua administração em um instrumento ideológico. “Claro que ele tinha os compromissos dele com os mais humildes, os projetos dele com os camponeses, mas era algo legítimo. Ele cuidava do estado e sabia fazer boas equipes”.
Também lembrou quando foi candidato à prefeito da oposição, com o apoio de Jarbas Vasconcelos. “Fui um candidato fortíssimo e ganhei a eleição folgado”. Após a vitória, Roberto Magalhães disse que foi fazer uma visita a Arraes e diz que não esquecerá da forma que foi tratado.
“Uma vista agradável. Foi altamente cordial e ele me deu um tratamento que não podia sido melhor. Não havia ato importante no Palácio que ele não me convidasse e chegou até a me ajudar porque eu tive pouco dinheiro e veja como também me dei bem o neto dele [Eduardo Campos], que era um político de muita competência, o qual apoiei para presidente”.
“Quem só conheceu Arraes de longe, alguns, ou talvez até muitos, o achava fechado, mas, na intimidade, era o inverso. Era bem humorado e lembro de uma vez, num desses convites no palácio, à noite, vem ele falar comigo com um copo de whisky e eu brinquei dizendo “Dr.Arraes, o senhor está tomando um copo de whisky que eu não tomo em seis meses”. Fazíamos essas brincadeiras porque havia clima para isso. Por isso, eu digo, a política às vezes tem tanta coisa ruim, mas tem essas outras também”, concluiu.