Freixo: atos agravaram crise entre Bolsonaro e o Congresso

Em entrevista ao LeiaJá, o deputado federal disse que o insucesso do presidente se deve a dois motivos: falta de propostas e de uma boa relação entre os poderes

por Giselly Santos seg, 27/05/2019 - 12:47
Júlio Gomes/LeiaJáImagens Júlio Gomes/LeiaJáImagens

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) afirmou, nesta segunda-feira (27), que os atos desse domingo (26), em defesa do governo Jair Bolsonaro (PSL), serviram para agravar a crise entre o presidente e o Congresso Nacional. Na avaliação do psolista, “figuras do Congresso foram achincalhadas” durante as manifestações que receberam a anuência de Bolsonaro, que "não preza por relações institucionais".

“Essa manifestação não ajuda o governo, ao contrário da avaliação que o presidente faz. O papel de qualquer governo tem que ser o da mediação e do debate político, você ganha por um setor, mas se governa para todos. A impressão que a gente tem é que o Bolsonaro continua em campanha, a mais longa da história”, avaliou Freixo em entrevista ao LeiaJá, antes de participar de um debate, no Recife, com integrantes do PSOL local e movimentos sociais sobre a conjuntura política nacional.

Freixo disse que Bolsonaro conhece bem os mecanismos legislativos e, por isso, deveria ter outra postura diante das Casas Legislativas federais. O deputado argumentou também que Bolsonaro confunde mediação com concessões e se “vitimiza” diante do seu eleitorado.

“Por mais que se tenha críticas ao Congresso, eu também tenho críticas ao Congresso, quem tá governando tem que ter mecanismos de diálogo. Bolsonaro ficou 30 anos no Congresso. Ele conhece bem o Congresso, o que ele aprendeu? Ele não é um outsider. Ele ganha uma eleição como antissistêmico e antipetista. Antipetista ele sempre foi, mas antissistêmico nunca. Ele sempre foi subsistêmico, do baixo clero da Câmara”, ressaltou.

Para o deputado federal, o argumento usado por ‘bolsonaristas’ de que deputados e senadores não estão deixando o presidente governar é diluído justamente porque, segundo o psolista, o “insucesso” de Bolsonaro se deve a dois motivos: falta de propostas e de uma boa relação entre os poderes.

“Por um lado a proposta do governo de manifestação ontem é dizer o seguinte: ‘não estão deixando a gente governar’. Mas, na verdade, o insucesso do governo vem por dois elementos, na minha opinião, primeiro que não tem propostas, pautas decisivas não são tocadas, há uma ausência de governabilidade e, segundo, uma crise de governabilidade pela falta de relação entre os poderes. A manifestação agrava a situação”, ponderou o carioca.

Para Freixo, Bolsonaro “precisa agora é de um plano de governo”. “Qual é a proposta para a saúde pública? E a ambiental? É só liberar agrotóxico? Qual é a proposta para a educação pública? O ministro da Educação, por exemplo, foi para a audiência da Comissão de Educação [na Câmara dos Deputados] falou 45 minutos e não disse uma proposta e eu perguntei para ele”, detalhou.

“É um governo difícil de se defender que não tem propostas. Tem a reforma da previdência, mas o próprio Bolsonaro não é defensor. Rodrigo Maia é mais comprometido com a proposta do que o próprio Bolsonaro. Só olhar no Twitter quantas vezes ele tuitou sobre a reforma da previdência”, acrescentou.

Indagado sobre uma comparação entre os atos desse domingo, que segundo levantamento do site G1 ocorreu em mais de 150 cidades e o de 15 de maio, que atingiu mais de 220 cidades contra a gestão do presidente Jair Bolsonaro diante da educação, Marcelo Freixo disse que não há comparações e ressaltou que todas as manifestações de rua são legítimas.

“Não tem necessariamente que serem comparados. Um protesto foi a favor da educação, misteriosamente tem gente que se coloca contra a educação. O protesto a favor da educação pública não era de um partido, era bem amplo e só aconteceu por conta dos desatinos do ministro da Educação. Não só dos cortes, porque não é o primeiro governo que corta,mas principalmente pela forma como foi feito, marcado por fanatismo. Sem dúvida nenhuma isso levou uma massa muito grande às ruas, que não tem comparação com o que aconteceu ontem. Mas a manifestação [desse domingo] é legítima. A rua tem que sempre ser legítima”, disse.

COMENTÁRIOS dos leitores