Lula pediu que a Odebrecht fosse para Cuba, diz Marcelo

Ao falar para o jornal Folha de São Paulo, Marcelo, que comandou a Odebrecht até 2015 quando foi preso, também negou que haja algum tipo de 'caixa-preta' da empresa no BNDES

seg, 09/12/2019 - 10:19
Cicero Rodrigues/ World Economic Forum Cicero Rodrigues/ World Economic Forum

O empreiteiro Marcelo Odebrecht afirmou, na primeira entrevista que concedeu após ser solto em dezembro de 2017, que a construtora se instalou em Cuba a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao falar para o jornal Folha de São Paulo, Marcelo, que comandou a Odebrecht até 2015 quando foi preso, também negou que haja algum tipo de 'caixa-preta' da empresa no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

Questionado sobre como se deu a expansão internacional da Odebrecht para países alinhados politicamente com o governo brasileiro, como Cuba, Venezuela e Angola, Marcelo disse que existiu uma orientação de Lula apenas para Cuba.

"Eu diria que, nesses 20 anos, só uma exportação teve uma iniciativa por parte do governo brasileiro e que, apesar da lógica econômica por trás, teve uma motivação ideológica e geopolíticas, que foi Cuba. Em todos os países, nós íamos por iniciativa própria, conquistávamos o projeto e buscávamos uma exportação de bens e serviços. Em Cuba houve um interesse do Brasil de ajudar a desenvolver alguns projetos. E aí, Lula pediu para que a Odebrecht fizesse um projeto em Cuba”, revelou. 

Segundo Marcelo, o pedido foi para que a empreiteira fizesse uma estrada  que estava deteriorada, após um desastre ambiental, e isso ajudaria na geração de emprego no país, mas a construtora decidiu fazer um porto. "A gente avaliou as oportunidades e identificou que o melhor para o Brasil, economicamente e do ponto de vista de exportação de bens e serviços, era fazer um porto em Cuba. A obra de um porto tem muito mais conteúdo que demanda exportação a partir do Brasil. Para fazer uma estrada ou casa, em geral, é mais difícil fazer exportação. No caso de um porto, tem estrutura metálica, maquinário, produtos com conteúdo nacional para exportar do Brasil", detalhou. 

O herdeiro do grupo Odebrecht admitiu ainda que não foi fácil escolher ir para Cuba, mas eles aceitaram. Já quando perguntado sobre interferências internacionais de Lula, ele disse que viviam um "dilema" com as viagens internacionais de Lula. "Ele vendia bem o Brasil. E na maioria dos países, a gente já estava havia mais de dez anos, 20 anos. Muito antes do Lula. E éramos a única empresa brasileira”, disse.

“A gente queria se beneficiar da ida do Lula para reforçar os links com países e, portanto, melhorar a nossa capacidade de atuar lá. Mas, ao mesmo tempo, quando Lula chegava ele não defendia só a Odebrecht. A gente se esforçava, passava notas para o Lula. Porque a gente fazia questão de deixar claro o que a Odebrecht já fez em outros países para Lula, Dilma e Fernando Henrique”, emendou.

BNDES

Marcelo também tratou durante a entrevista sobre o BNDES. O empreiteiro garantiu que a Odebrecht não tem nenhum tipo de 'caixa-preta' com o banco estatal. 

"O pessoal diz que o BNDES praticou políticas, principalmente de juros baixos e condições favoráveis de financiamento, que eram compatíveis com o mercado. Questionam o jatinho e constroem a história  de uma maneira espetaculosa... De fato, as condições gerais do BNDES, tanto de juros quanto de prazo, são muito melhores. Em relação ao mercado brasileiro, são distorcidas. Mas eram extremamente compatíveis com o que se praticava no resto do mundo", esclareceu. 

Segundo Marcelo Odebrecht, o BNDES financiava a exportação de conteúdo nacional para projetos do exterior, mas "nunca deu dinheiro para que se produzisse no exterior".  "A parcela de gastos no exterior tinha que ser bancada pelo cliente e outras fontes", explicou.

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