Bolsonaro se recusou a receber CEO da Pfizer, diz Kajuru

Segundo relato do senador ao UOL, o presidente da farmacêutica teria esperado 10 horas e não foi atendido pelo governo brasileiro em agosto de 2020

por Vitória Silva qua, 14/04/2021 - 12:59
Jefferson Rudy/Agência Senado Kajuru, em sessão do senado no dia 1 de fevereiro de 2021 Jefferson Rudy/Agência Senado

O senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não teria recebido, no Palácio do Planalto, o presidente da Pfizer, que teria esperado das 8h às 18h pela reunião, em agosto de 2020. A informação teria sido passada pelo ex-ministro da Saúde, Luís Henrique Mandetta, e deve ser comentada na CPI da Covid.

O Governo Federal só veio fechar negócio com a fabricante europeia em março deste ano e as doses devem chegar ao país em junho. Apesar de não ter o nome mencionado, especula-se que o visitante teria sido Albert Boula, CEO global do laboratório. As declarações foram dadas por Jorge Kajuru na manhã desta quarta-feira (14), em entrevista ao UOL.

A assessoria de imprensa da Pfizer disse que a informação dita por Kajuru não procede.

O Palácio do Planalto informou que não irá comentar as declarações.

Durante a entrevista, o senador disse estar ciente das negações por ambas as partes e que já esperava ser refutado por Bolsonaro, bem como pela empresa, que agora negociando com o Brasil, estaria tentando evitar “atrito”. Apesar de ter sido Mandetta o suposto informante, o ex-ministro já havia sido exonerado do cargo quatro meses antes, em abril de 2020.

“Eu o responsabilizo (pelas mortes) por uma declaração dada a mim, com exclusividade, pelo ex-ministro Luís Henrique Mandetta, que para mim é muito grave e que eu sabia que o presidente Jair Bolsonaro ia me desmentir e também sabia que o presidente da Pfizer ia me desmentir, porque hoje a Pfizer está vendendo vacina pro governo, então ela não quer atrito com o governo. No começo do ano, a Folha publicou que a Pfizer reclamou que o governo estava fazendo exigências sem nenhum cabimento para comprar a vacina dela, e que ela não tinha como negociar com o governo. Foi declaração da Pfizer, em janeiro. Só que o Mandetta vai na CPI e vai me confirmar esse fato, e isso é uma responsabilidade do presidente”, declarou Kajuru durante a conversa.

O senador se refere à visita do CEO em agosto do ano passado, na qual o empresário teria esperado por Bolsonaro e sua equipe da Saúde por um dia inteiro, mas teve conversa negada mesmo assim.

“A Pfizer veio a Brasília para oferecer vacinas ao governo. O presidente dela ficou das 8h até às 18h para ser atendido. Eu tenho até que confirmar com o Mandetta, porque eu tenho a dúvida se quem iria falar com o presidente da Pfizer era o ministro da Saúde na época ou o presidente. Mas ele estava lá, tomando chá de cadeira. Às 18h, ele recebeu a seguinte informação: ‘o senhor não vai poder ser atendido, infelizmente, então não vamos ter mais a conversa’ e isso é muito grave. Quando o Mandetta disser isso na CPI, será motivo para uma investigação profunda desse caso, porque você teve a chance de comprar vacina e não comprou, então consequentemente isso provoca mortes”, ele continua, dando mais detalhes ao mencionar o assunto pela segunda vez.

Kajuru já tinha trazido a suposta reunião à tona na última terça (13), mas ainda não havia mencionado nomes. Ciente das acusações, Bolsonaro disse que o assunto se trata de “mais uma mentira do Kajuru” e perguntou quem teria sido o ex-ministro da Saúde citado. O senador completou a sua fala dizendo que responsabiliza sim, parcialmente, o presidente Jair Bolsonaro pelas mais de 350 mil mortes por Covid no país.

“Nesse caso, sim. Mesmo que tenha sido o ministro da Saúde que não quis receber o presidente da Pfizer, a culpa é do presidente. Isso não teria acontecido sem uma ordem do presidente. O presidente é presidencialista, ninguém faz nada sem falar com ele. Não tem como responsabilizar só o ministro. O presidente é quem manda. Consequentemente, ele quem não permitiu a conversa; ou os dois juntos”, declara, por fim.

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