Professor proíbe aluna de levar filha de 5 anos para aula

Caso aconteceu na Universidade Federal do Rio Grande do Norte

por Lara Tôrres qui, 08/03/2018 - 10:37
Reprodução/Facebook Waleska afirma que não desistirá do seu curso Reprodução/Facebook

Na última terça-feira (6), o professor graduado e mestre em Ciências Sociais (UFRN), doutor (Universidade de Paris René Descartes) e pós-doutor em sociologia (UFRJ) Alípio Sousa Filho proibiu a estudante de Ciências Sociais Waleska Maria Lopes de assistir às suas aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) acompanhada da sua filha, que tem cinco anos. O motivo alegado pelo professor é que a presença da criança atrapalha o andamento da aula, pois distrai tanto a mãe quanto outros estudantes.

“Me senti muito mal. Minha filha perguntou se não podia mais assistir às minhas aulas. Se era por causa dela. É uma grande humilhação. A única família dela sou eu. Ela só tem a mim. Foi terrível”, declarou a aluna. Alípio Filho diz que não expulsou a aluna da aula, mas admite que proibiu a estudante de voltar à aula acompanhada da filha. “Uma criança de cinco anos, todo mundo sabe, é uma criança que fica inquieta. E a aluna tem que se ocupar com a filha. Se ocupa, porque fica vendo a criança levantar, a criança sentar. E, portanto, a criança fica chamando a atenção da aluna, o que faz com que ela não esteja atenta à aula. Além disso, chama a atenção dos demais alunos”, argumentou ele.

De acordo com ela, o professor Alípio Filho disse que ela não poderia assistir à aula com a criança e teria ordenado que ela saísse da sala. Waleska é natural do Rio de Janeiro, onde sua família continua vivendo. Ela se mudou para o Rio Grande do Norte em 2008 e desde o ano passado vive em Natal, capital do Estado, para estudar. A jovem cria a filha sozinha, mora em um imóvel dividido com outras pessoas e trabalha como atendente de telemarketing durante o dia, horário em que a filha fica na escola, mas explica que não tem quem cuide da menina durante a noite, quando ela está na universidade.  

“Na segunda aula, semana passada, ele disse que eu tinha que fazer minha filha ficar sentada. Ela é muito tranquila, não faz barulho, só desenha a aula inteira. Ele disse que se eu quisesse trazer minha filha para aula, trouxesse fita adesiva, cola, qualquer coisa para fazer ela ficar sentada (...) Me admira ter sido justamente um professor que fala tanto de questões de gênero", considerou a aluna. "É meu sonho terminar o curso. Já cheguei a cursar engenharia, mas conheci a sociologia e me apaixonei. É o que quero seguir", disse a estudante e mãe.

Áudio compartilhado 

Após a saída de Waleska e sua filha da sala de aula, o professor continuou a falar sobre o caso aos alunos que permaneceram na sala e, além de reafirmar que a presença da criança atrapalharia a aula, de falar sobre custos da universidade e respeito, o professor direcionou o seu discurso à aluna e mãe. Tudo foi gravado por um dos estudantes e o áudio foi compartilhado no whatsapp. 

“Ela encontre uma rede de solidariedade para cuidar da criança. Não consegue essa rede de solidariedade? Repense sua vida. Não tem que estar fazendo Ciências Sociais, não tem que estar estudando na universidade. Você só faz isso se tiver condições. Agora não vai impôr à instituição coisas que não são assimiladas pela instituição (…) 'ah, eu sou pobre, não tenho'. Problema seu, a universidade não tem problema com isso, se vire”, disse.

Além disso, o docente afirmou que há alunos que não respeitam as normas da UFRN e querem impôr suas vontades em detrimento do que determina a Universidade dentro dos limites do campus. “Esse áudio é maravilhoso, eu agradeço a eles por estar divulgando. Porque é o áudio no qual eu mostro as razões da defesa da universidade pública no Brasil. Dizendo que a universidade é cara, nossos salários são caros, numa sociedade de baixos salários, e que por tão cara que é a universidade pública, ela deve ser zelada e respeitada em sua autoridade moral, o que certos alunos não sabem reconhecer. Eu agradeço, e pode colocar na sua matéria, que o professor agradece a divulgação do áudio”, disse Alípio Filho em entrevista ao portal G1.

Após afirmar que desconhecia o fato de que a estudante é natural do Rio de Janeiro e não tem família em Natal, Alípio afirmou que “a sociedade tem diversos dramas e problemas. Mas a universidade não pode ser o lugar da resolução de todos esses problemas. A universidade já faz um esforço tremendo de oferecer programas, de oferecer alternativas de amparo à vida estudantil que devem ser reconhecidos Nós temos bolsas de iniciação científica, bolsa-alimentação, residência, nós temos essa bolsa creche. A universidade está fazendo o que pode”. 

Ouça o áudio:

Recursos e providências

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) informou que tem conhecimento do ocorrido, mas que qualquer processo administrativo que, porventura, venha a ser instaurado parte inicialmente dos departamentos e a chefia do departamento de Ciências Sociais informou que ainda não foi acionada de nenhuma forma para apurar o que houve durante a aula.

Além disso, a universidade disse que não há qualquer norma na instituição que proíba ou que permita a presença de crianças em aulas, mas que “há legislação nacional que dão autonomia ao professor para decidir se um aluno pode estar na sala, ou não, devido ao comportamento dele, ou outra questão”, e que dispõe do Auxílio Creche, que atende 120 pessoas atualmente, com uma ajuda de R$ 100 por mês. 

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