No último fim de semana do ano, praias cheias no Recife

Em Boa Viagem, pouco distanciamento e uso incorreto de máscaras; no Pina, areia lotada e quase ninguém de máscara

por Lara Tôrres sab, 26/12/2020 - 16:16
Júlio Gomes/LeiaJáImagens Buraco da Velha, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife Júlio Gomes/LeiaJáImagens

No último final de semana do ano, que coincidiu com o primeiro dia oficial do verão, data em que tradicionalmente muitas pessoas decidem ir às praias, a pandemia não impediu que o litoral do Recife fosse tomado pela população que anseia por sol, mar e calor antes de dar adeus a 2020. Infelizmente, apesar dos constantes alertas das autoridades de saúde a respeito da segunda onda de Covid-19, que está fazendo subir os números de casos e mortes no Brasil (já são 190,5 mil mortos e 7.447.625 infectados até a última sexta), o que se vê é desrespeito aos protocolos de segurança. 

Em Boa Viagem, havia uma grande quantidade de pessoas, mas a praia não chegava a estar lotada. Flagramos barracas com um distanciamento menor que o recomendado, além de barraqueiros, ambulantes e banhistas desrespeitando o uso correto da máscara. 

A recepcionista Nágila Marques, de 26 anos, foi à praia com seus amigos para aproveitar que está de folga e contou que achou o número de pessoas menor do que em outros dias. No que diz respeito ao cumprimento dos protocolos de segurança, ela afirma que “90% não segue e é isso. "Não [me sinto segura], mas ao mesmo tempo você não quer abdicar de certas coisas para fazer, deixar de viver, mas fazer o possível para fazer o que o governo recomenda e estar perto das pessoas com quem você já convive”. 

Ela, no entanto, não usava máscara sob o guarda-sol num momento em que não estava comendo ou bebendo, o que contraria as regras definidas pelo Governo Estadual. Questionada sobre os meses de verão diante do aumento de casos e mortes no final do ano, Nágila afirmou que não sabe o que fará no ano que vem e acha que a situação da pandemia vai piorar independente de vacinação. “Eu acredito que no final do ano vai ter festa porque muita gente não tá [sic] nem aí. Sempre continua com aglomeração e com certeza ano que vem, se esse ano teve tantas mortes e não deixou de ter aglomeração, ano que vem vai ter [praia lotada] também”, disse a recepcionista. 

Eduardo Moura tem 54 anos, é consultor de vendas e costuma ir à praia todos os finais de semana com a esposa. Neste sábado, ele achou que tem muita gente. “Tem esse problema aí da pandemia, né? Tô [sic] até errado, que era para estar usando a máscara tanto eu quanto ela, mas a gente tá aqui um pouco distante [das outras pessoas]”, disse ele. Perguntado sobre o distanciamento entre as barracas e cumprimentos dos protocolos por barraqueiros e vendedores ambulantes, ele afirma que “De jeito nenhum, não está sendo seguida a distância que o governo determina, a praia tá assim, esse tumulto de gente. Estão respeitando não”. Apesar de estar na praia, Eduardo afirmou categoricamente que não se sente seguro de não ser contaminado e acredita que com o aumento dos casos de Covid-19 novas medidas restritivas podem ser tomadas em relação às praias, atitude que ele vê com bons olhos diante da situação atual. 

A cantora Elis Viana, de 32 anos, foi à praia de Boa Viagem com amigas de infância com as quais tem a tradição de “tirar as mazelas do ano” no último final de semana com um banho de mar (ou de água do mar em uma piscina de plástico). Para ela, a praia estava tranquila. 

“Estou me sentindo segura. Acho que algumas pessoas não estão seguindo as restrições, mas outras estão saindo com máscara, usando álcool, seguindo as recomendações”. Questionada sobre sua expectativa para o verão de 2021 em meio à pandemia, ela afirma que se a população seguir corretamente as normas de segurança, “dá pra gente curtir tranquilo”. 

Elton França é formado em contabilidade, veio passar o final de semana no Recife com amigos e decidiu pegar uma praia neste sábado. Ele conta que já veio outras vezes à praia durante a pandemia e achou que neste último final de semana do ano há menos pessoas que em outros dias e que na barraca em que ele estava, que fica nas proximidades do Hotel Jangadeiro, o distanciamento estava sendo bem respeitado. Já no que diz respeito ao uso da máscara, a resposta mudou para “às vezes”. 

A expectativa dele para o verão em 2021, em meio à pandemia com uma segunda onda, é que fique difícil de aproveitar a estação com a doença se espalhando até que chegue a vacina. “Várias festas estão sendo canceladas, o Carnaval já foi cancelado em vários lugares, não sei se o São João vai ser cancelado, mas está complicado para todo mundo, Espero que a vacina chegue rápido. Eu acredito que se agravar mais do que está agravando, acho que vai ser bloqueada a utilização das praias. Como o Brasil não tem uma estrutura frente a outros países que já estão tendo as vacinas, eu acredito que é o jeito. Não é uma questão de ser favorável ou não, é a única medida que o Brasil tem a aplicar”, disse ele.

Pina 

No Pina, em uma área popularmente conhecida como “Buraco da Velha”, a situação que a equipe do LeiaJá encontrou era bem diferente (e mais preocupante) que em Boa Viagem. Sem nenhum distanciamento, havia inúmeras barracas na estreita faixa de areia, todas amontoadas, coladas umas às outras. Máscara de proteção individual era item raríssimo que não era visto em banhistas, barraqueiros nem vendedores. 

A manicure Marcia Bernardo, de 49 anos, era uma das banhistas que estava no local e, mesmo sem estar na água, bebendo ou se alimentando no momento da entrevista, não usava a proteção facial. Ela contou que foi à praia que teve uma folga e resolveu ir à praia para “encerrar o Natal e aproveitar o sol”. 

Perguntada sobre como ela avaliava a situação naquele momento, ela afirmou que “aqui tá uma maravilha curtindo o sol, se precavendo dessa pandemia. Quero que acabe tudo isso para a gente voltar tudo ao normal. Do lado de cá está maravilhoso, lá para dentro está mais cheio, aqui a gente está mais distanciado. A gente está tentando resolver a situação, tá tudo tranquilo por aqui, a gente sempre se distanciando”. 

Sobre as regras que cabem a barraqueiros e ambulantes, ela afirmou que alguns estão cumprindo as determinações e outros não, e que é mais difícil de seguir as normas naquela área pois se trata de uma praias com faixa de areia muito pequena. “O Pina é mais distante, dá para distanciar, mas aqui é mais apertadinho, tem muita gente, tá muito cheio. A gente tá com medo que feche tudo, porque tá tendo aglomeração. A gente vem mas sabe que não está muito certo mas se não sair um pouquinho fica com depressão. Tá todo mundo apreensivo”, disse ela. 

Confira, a seguir, o protocolo completo com as regras contra a Covid-19 nas praias: 

Regras para permissionários

A ocupação deverá respeitar o distanciamento, devendo os permissionários dimensionar para cada grupo um box com área mínima de 4m x 4m;

A quantidade total de guarda-sol (ou ombrelone) e cadeiras por permissionário fi cará limitada à quantidade de boxes de 4m x 4m que couber na área total de ocupação autorizada pelas prefeituras a cada permissionário, nas seguintes proporções: um guarda-sol (ou ombrelone) por box; quatro cadeiras e uma mesa por box.

O guarda-sol (ou ombrelone) não pode ser removido de um box para outro em nenhum caso será permitido um máximo de 10 pessoas, de um mesmo grupo, por box

Distanciamento social

Fica proibida a realização de eventos públicos tipo shows, apresentações e similares, que possam gerar aglomeração de pessoas nas praias

Respeitar o distanciamento mínimo de 1,5m entre as pessoas de boxes diferentes

Respeitar o distanciamento mínimo de 4m entre as hastes dos guarda-sóis (ou ombrelones), devendo este estar no centro do box

Higiene

Todos os funcionários, prestadores de serviço e clientes, deverão utilizar máscaras

Apenas poderão acessar o serviço os clientes que estiverem fazendo uso de máscaras

Para o cliente, o uso de máscara será obrigatório, exceto quando os clientes estiverem se alimentando ou ingerindo líquidos, após a ingestão retornar ao uso de máscaras

Organizar os cardápios de forma a serem plastificados ou impressos em material que possibilite a higienização após cada novo atendimento

Quando oferecer temperos como sal e pimenta, além de itens como palitos de dente e adoçantes, priorizar o formato de sachês individuais

Reforçar a limpeza e desinfecção das superfícies mais tocadas (cadeiras, mesas/apoio, guarda-sol e bandejas) e qualquer outro material de trabalho, após o uso de cada cliente. Desinfetar com produtos à base de cloro, álcool, fenóis, quartenário de amônia, álcool a 70% líquido

Deve ser disponibilizado a funcionários e clientes, álcool 70% líquido ou gel para higienização das mãos

Reforçar boas práticas no lugar onde os alimentos serão preparados e reservar espaço para a higienização dos alimentos de acordo com o Programa Alimento Seguro (PAS) ou outro protocolo similar

Devem ser oferecidos talheres, pratos, copos e utensílios devidamente higienizados e preferencialmente em embalagens individuais (ou descartáveis)

Comunicação e monitoramento

Utilizar intensivamente os meios de comunicação disponíveis para informar aos clientes sobre as medidas adotadas de higiene e precaução

Utilizar todos os meios de mídia interna, assim como, as redes sociais, para divulgar as campanhas e informações sobre a prevenção do contágio e sobre as atitudes individuais necessárias neste momento

Acompanhar diariamente o estado de saúde dos seus funcionários e afastá-los por dez dias, quando apresentarem qualquer sintoma sugestivo de Covid-19. Mediante resultado negativo de teste apropriado, voltar de imediato ao trabalho

Orientar os trabalhadores que apresentarem sintomas gripais, e os seus contatos domiciliares, a acessarem o aplicativo Atende em Casa. Durante o acesso, serão orientados sobre como proceder com os cuidados, inclusive sobre a necessidade de procurar um serviço de saúde

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