Por que Lula escolheria Paulo Câmara como vice-presidente?
O cientista político Elton Gomes analisou o que teria motivado o rumor de que o PT se uniria ao PSB para evitar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro
O rumor sobre a eventual candidatura de Paulo Câmara (PSB), atual governador de Pernambuco, ao posto de vice-presidente na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para 2022 se espalhou com uma série de suposições sobre seu futuro. De um lado, a possibilidade de ser eleito ao cargo federal em uma chapa de esquerda, do outro, a vitória quase certa na disputa por uma vaga no Senado. O LeiaJá conversou com o cientista político Elton Gomes, que analisou a situação em torno da escolha arriscada do gestor.
Apresentado como um perfil mais técnico, Paulo até se encaixa nas características de vice-presidente, mas tem uma escolha difícil a fazer. Em 2022, Pernambuco elege dois senadores e detém um histórico de levar seus governadores ao Congresso. Aliado à ampla base de apoio local do PSB, a expectativa é de uma nova vitória. "É quase certo, por que governadores quando se candidatam a senador geralmente ganham, e em Pernambuco tem uma regularidade impressionante de quase 80 anos", pontua o especialista.
Vale destacar que, apesar do racha entre PT e PSB por conta da disputa que ganhou tons de briga familiar nas eleições à Prefeitura do Recife em 2020, Paulo se mostrou fiel à Lula enquanto o ex-presidente esteve preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba.
Palanque insuficiente
Um vice dificilmente vai definir o voto e quase sempre assume uma posição discreta na gestão, mas para Elton, o nome do governador não empolgaria o eleitorado, que geralmente escolhe candidatos mais enérgicos ou com maior popularidade. "Os políticos sabem que eles majoram suas possibilidades quando têm vices mais performáticos. O vice que empresta força para uma campanha é muito melhor do que o vice que é somente é leal", ressalta.
Neste caso, o convite poderia ser um cálculo do PT em apostar todas as fichas no Nordeste, já que o partido ainda carrega uma forte rejeição no resto do país. Contudo, Eduardo Campos - ex-governador de Pernambuco, morto em um acidente aéreo em 2014 -, não concluiu o projeto de tornar a sigla a 'terceira força' nacional e, até mesmo no Nordeste, o PSB não tem tanto destaque. A própria disputa com Marília Arraes (PT), que elegeu o primo João Campos (PSB) como prefeito do Recife, era fundamental para a manutenção do sistema de poder regional do partido, que temia um efeito dominó com uma possível derrota.
Para a campanha, seria interessante um nordestino como vice candidato por mobilizar votos de muita gente. É difícil representantes do Centro ou do Norte serem chamados para compor uma chapa, pois as regiões registram a menor densidade populacional do país e, por consequência, menos votos.
Por onde andam os vices?
O risco de uma escolha tão complexa pode estagnar e até complicar a curta carreira política do governador. “Já visse algum vice brasileiro que foi candidato à presidente depois? Nenhum. O vice-presidente é cemitério político”, indica Elton.
Lula pode confirmar sua escolha arrojada, mas o PSB ainda não tem a capilaridade suficiente para uma corrida presidencial. Nesse contexto é importante frisar que todos os presidentes do período de renovação democrática tiveram apoio do Centrão, o que pode sinalizar, apesar de atualmente não vislumbrar no radar de alianças, uma nova junção com o MDB.
O partido garantiu a última vitória nacional do PT, quando elegeu a ex-presidente Dilma Roussef ao lado do vice Michel Temer (MDB), e é a sigla com maior ramificação no país, tanto nas Câmaras, quantos nas Assembleias.
Sem pressão pelo resultado, o MDB até lança candidaturas majoritárias, como a de Henrique Meirelles nas eleições de 2018, mas repousa no conforto do poder distribuído por seus representantes. A popularidade do partido poderia novamente atrair o PT, que segue na busca de apoios para reacender sua força política para evitar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).