Enem: estudantes preveem desafios no uso da máscara

Principal ponto que preocupa professores e estudantes com o uso de máscara de proteção da Covid-19 é, ainda, ter que utilizá-las por um longo período de tempo em locais de prova que não possuem ar condicionado, ventilação necessária, espaço adequado, entre outras questões

por Aurilene Cândida sex, 15/01/2021 - 08:00
Nathan Santos/LeiaJáImagens/Arquivo Rayane Lins, 17 anos, Olinda, irá realizar o Enem pela terceira vez Nathan Santos/LeiaJáImagens/Arquivo

Para manter os participantes seguros durante a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgou regras específicas para reduzir aglomeração durante a realização da prova. Além disso, foi determinado que durante o exame e a estadia do estudante no prédio de aplicação, será obrigatório o uso de máscara de proteção para evitar contagio pelo novo coronavírus. 

Vale pontuar que o participante que não utilizar a máscara cobrindo totalmente o nariz e a boca, desde sua entrada até sua saída do local de provas, será eliminado do Enem. Para discutir sobre as novas regras do exame, especialmente sobre o desafio de realizar as provas de máscara, o LeiaJá entrou em contato com professores, estudantes e com a médica infectologista Marcela Vieira, para falar sobre o uso do acessório que, segundo o Ministério da Educação (MEC), segue obrigatório e com as mesmas medidas da documentação.

Tendo em mente a situação de que alguns locais de prova podem haver apenas ventiladores e um clima quente, o uso de máscaras pode ser ainda mais complicado para esses candidatos. Para o professor de português Felipe Rodrigues, “claro que tem locais de prova que são fantásticos, agora há outros com contrastes sociais, como por exemplo, as escolas públicas que em sua maioria estão em bairros periféricos e não contam com um ar-condicionado ou uma climatização necessária”. 

“São os alunos que devem se adequar a esta realidade e não o próprio Enem. Por exemplo, para o estudante ir ao sanitário, descartar a máscara e fazer a sua alimentação, terá um tempo maior. O aluno acaba ganhando e ao mesmo tempo se prejudicando em relação ao tempo”, analisa o professor. 

Já o professor de física Ítalo Costa comenta que a máscara é um item que todos passaram a usar e que tem que ser utilizado durante a prova do Enem. “Alguns sentem incômodo, mas infelizmente não tem o que fazer, tem que usar”, disse. O docente ainda recomenda que quando o candidato for ao sanitário pode retirar a máscara e lavar o rosto.

O LeiaJá também entrou em contato com alguns estudantes que irão realizar o Enem 2020 para saber sobre as expectativas para a prova e como estão lidando com a realidade de fazer o exame usando máscara de proteção contra a Covid-19. 

Para a aluna Rayane Lins, 17 anos, moradora do bairro de Caixa D’água, da cidade de Olinda, Região Metropolitana do Recife (RMR), todos os acontecimentos envolvendo o Enem durante o ano de 2020 foram bastante difíceis. “É muito diferente o ensino a distância do ensino presencial. Eu não tive acesso a computador durante a pandemia e na minha escola, que é pública, nunca tive. Precisei me virar, peguei livros de anos anteriores para poder estudar; depois que comecei a me habituar ao ensino a distância”, relata a estudante. “A minha expectativa para a prova do Enem é que vai ser bastante difícil, mas com menos concorrências, imagino que muitas pessoas desistiram”, diz Rayane. 

Sobre o uso da máscara durante os estudos e ter que fazer o Enem com o item de proteção, a estudante garante que está sendo bastante difícil o uso porque algumas vezes se sente desconfortável. O fator também poderá prejudicá-la ao realizar uma prova, visto que o uso do acessório será durante um longo período de tempo. “Acredito que vai ser bastante tenso e sufocante, principalmente para participantes que têm ansiedade, devido a respiração; mas para mim é algo que não incomoda tanto, sendo que realmente é chato”, diz a estudante. 

Marina Batista, estudante do terceiro ano do ensino médio, residente em Santo Amaro, bairro localizado na área central do Recife, diz que todas as vezes que vai estudar utiliza a máscara de proteção. "Para fazer a prova do Enem com a máscara é bastante complicado porque tivemos que nos adaptar a isto. Todas as vezes que estou estudando uso a máscara porque, assim, faz com que meu corpo se adapte com o uso dela. Na questão do Enem, também tem uns assimilados para simular exatamente como vai ser a prova, ou seja, passar horas e horas com máscara no rosto, fazendo várias questões”, disse. 

Nathan Santos/LeiaJáImagens/Arquivo Professor de física, Ítalo Costa

A médica Marcela Vieira diz que realmente o uso da máscara durante os estudos pode ajudar no momento de fazer a prova. “Apesar de não haver contraindicação ao uso de máscara nessa faixa etária, pode ser incômodo para a maioria das pessoas que não possuem esse hábito. Então, realmente irá ajudar no momento da prova que a máscara não se converta em um fator de desatenção”, explica. “Geralmente recomendamos a troca das máscaras após 2 a 4 horas; nesse contexto, o ideal seria levar pelo menos duas máscaras e substituí-las durante a realização da prova”, acrescenta. 

Ainda de acordo com a médica, as máscaras, se utilizadas corretamente, protegem contra a Covid-19 e devem ser utilizadas durante toda a prova. "Embora não seja a situação que desejamos, é essencial que se tente mitigar a chance de transmissão, desde que sejam respeitadas outras questões como distanciamento, circulação de ar e número de pessoas por sala”, comenta, em entrevista ao LeiaJá.

A estudante Marina Batista diz que escolheu a modalidade impressa da prova por medo das complicações envolvendo o exame. "Escolhi fazer presencial porque tive medo de escolher on-line e, como das outras vezes tinha dados tantos erros, fiquei com aquela sensação de sofrer novamente ou dar alguma complicação”, pontuou. 

Na Página do Participante do Enem, é informado que o candidato poderá retirar a máscara de proteção para lanchar e beber água, por um tempo suficiente para essas ações, visando a própria proteção e dos demais participantes. Além disso, é recomendado que os candidatos levem a própria garrafa de água para evitar o uso do bebedouro e seu próprio álcool em gel para higienização das mãos durante a aplicação das provas. 

Segundo a médica infectologista, as máscaras possuem a capacidade de manutenção das trocas gasosas e não provocam qualquer efeito adverso, mesmo após o uso prolongado. Com isso, os candidatos que sofrem com problemas respiratórios podem ficar tranquilos, pois o uso prolongado não provoca qualquer aumento nos sintomas. 

A estudante Suellen Castro, moradora do bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife, não passa por nenhum problema referente ao uso de máscara. “Eu não tenho nenhuma alergia ou algo do tipo. Na minha perspectiva, esse novo acessório que vai ser obrigatório durante o exame é um grande desafio para todos porque tem locais de prova que não tem ar condicionado”, relata. 

Ela ainda acrescenta que também é preciso analisar o lado positivo da situação. “O uso de máscara durante a prova é um zelo à vida de todos os estudantes; embora as salas irão ficar com uma quantidade reduzida de alunos, é importante seguir os protocolos dos órgãos responsáveis”, diz.

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