Servidores pedem afastamento da presidente da CPRH

Servidores do Estado fizeram novas denúncias, que além de confirmar o que a fonte havia dito ao LeiaJá, ampliam as suspeitas sobre a presidente Simone de Souza e familiares

ter, 28/03/2017 - 17:44
Reprodução/Facebook/CPRH Presidente Simone Souza está de férias Reprodução/Facebook/CPRH

Diante da denúncia publicada pelo LeiaJa.com, que aponta indícios de que a presidente da Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH), Simone de Souza, estaria agindo de forma ilícita em processos em favor da Engea Consultoria Ambiental, o Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e do Meio Ambiente do Estado de Pernambuco (Sintape) encaminhou, na última terça-feira (21), um documento ao governador Paulo Câmara pedindo o afastamento da gestora. 

Segundo o Sintape, a iniciativa tem como objetivo pedir a apuração da denúncia, buscando preservar a imagem do órgão e de seus servidores. No documento, o sindicato afirma que qualquer denúncia contra um agente público deve ser investigada e ressalta o quanto é necessário a transparência, lisura e impessoalidade nas ações da CPRH. “Fizemos o papel que tínhamos que fazer quanto sindicato”, afirmou o presidente do Sintepe, Manoel Marques. 

Novas denúncias

Com a repercussão da denúncia publicada pelo LeiaJá - com base em revelações de uma fonte que preferiu não se identificar, por medo de represálias - outras pessoas entraram em contato com a nossa reportagem. Servidores do Estado fizeram novas denúncias, que além de confirmar o que a fonte havia dito, ampliam as suspeitas sobre a presidente Simone de Souza e familiares.

Um documento, entregue ao LeiaJá, lista uma série de irregularidades cometidas pela presidente e alguns de seus assessores mais próximos. Uma delas, diz respeito ao ex-diretor de recursos florestais e biodiversidade, Walber Allan de Santana - apontado como braço direito de Simone.

Segundo o documento, vários servidores estariam sendo vítimas de assédio moral por parte de Santana, que mesmo afastado do cargo, participa de reuniões no CPRH e estaria ameaçando funcionários para obter o que quer, sob pena de serem perseguidos e sofrerem processos administrativos, como advertências, suspensões e até demissões. Por este motivo, alguns trabalhadores teriam chegado a entrar em depressão e pedir licença médica.

Sem resposta

Antes mesmo do LeiaJá publicar a denúncia, no dia 3 de janeiro deste ano, o Sintape já havia se manifestado contra a conduta da atual diretoria. A categoria afirmou que abusos são recorrentes nesta gestão. 

A reportagem teve acesso ao documento enviado à presidência da CPRH, que repudia a postura da coordenadora jurídica, Renata Farias, com a servidora Patrícia Miron. Renata teria cometido atitudes de constrangimento e abuso de poder contra Patrícia, e o sindicato interveio, porém, de acordo com os servidores, nada foi feito em relação ao caso.

Esclarecimentos e contradições

Preocupada com a dimensão que a denúncia tomou, o secretário de Meio Ambiente, Sérgio Xavier, a quem Simone Souza responde, solicitou esclarecimentos à presidente da CPRH. O LeiaJa.com teve acesso ao documento, que também foi encaminhado a diversos setores do Governo do Estado. Nele, a presidente do CPRH se diz vítima de uma "devassa na vida pessoal" e diz que é "inaceitável invocar a relação de parentesco inexistente com minha figura pública".

Sobre essa questão, o LeiaJá esclarece que não devassou a vida de nenhum servidor do Estado. No entanto, as relações de parentesco entre a presidente do órgão e as pessoas que hoje - em teoria - comandam a Engea Consultoria, não estão escondidas. O atual diretor da empresa, Waldir Aracaty é tido como "namorido", ou seja, tem uma relação estável com Simone Souza. O filho dele, Victor, foi chefe de gabinete da CPRH durante muito tempo. Além disso, a filha de Simone, Raquel Souza Ferreira, que segundo documento da Junta Comercial do Estado de Pernambuco (JUCEPE) mora no mesmo apartamento da gestora, é a sócia administradora da Engea. 

A denúncia de que Simone Souza estaria beneficiando a Engea - que teve 15 licenças ambientais aprovadas pela CPRH - foi informada aos citados, dando o pleno direito de resposta e contestação. No documento de esclarecimento enviado ao secretário Sérgio Xavier e também ao governador Paulo Câmara, a gestora alega que são inverídicas as acusações feitas pela nossa fonte. 

De fato, como a presidente justifica, ela não pode interferir nas decisões do corpo técnico da agência. Isso em teoria. Porém, segundo os servidores estaduais que procuraram o LeiaJá, os subordinados a Simone Souza é que exercem esse papel. Especialmente o já citado Walber Allan de Santana.

Um dos casos, ao que tudo indica, foi o de Assis Lins de Lacerda Filho. Ele já era gerente de unidade quando Simone Souza assumiu a presidência da CPRH. Após 19 anos de serviços prestados ao órgão, Assis foi afastado de suas funções de fiscal e recentemente - no dia 20 de março - foi devolvido ao seu órgão de origem. Ele teve todo o seu acesso ao sistema e às contas de email profissionais bloqueado de forma abrupta. "Fui supreendido pela decisão. Não tinha interesse em sair da CPRH. Esta remoção foi a revelia e sem nenhuma justificativa técnica", afirmou Assis, sem se alongar muito.

Fim do expediente

A nossa reportagem procurou a CPRH para ouvir o órgão sobre as novas informações. Por telefone, a assessoria afirmou que só responderia aos questionamentos na quarta (29), já que o expediente já havia se encerrado. A assessoria também informou que a presidente Simone Souza está de férias.

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