Recifense vai da comédia à Universidade do Google

Murilo Gun conta como foram as semanas mais intensas de sua vida no Vale do Silício

por Nathália Guimarães seg, 22/09/2014 - 10:00
Chico Peixoto/LeiaJáImagens ''Proposta era de impactar um bilhão de pessoas em dez anos'', diz Gun Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Conhecido em Pernambuco por suas peças de stand-up, o comediante e empreendedor recifense Murilo Gun precisou deixar os palcos por algumas semanas deste ano por empreitada a favor da tecnologia. Ele foi um dos 80 estudantes selecionados para participar do programa de imersão da Singularity University, conhecida também como a Universidade do Google.

A Singularity University é uma escola, fundada pelo futurista Ray Kurzweil e pelo empreendedor Peter Diamandis, que funciona no Ames Research Center da Nasa, localizado no Vale do Silício, onde as grandes empresas de tecnologia estão instaladas. Por lá, a missão do comediante e empreendedor era criar um projeto que pudesse impactar um bilhão de pessoas em apenas dez anos.

Em entrevista ao Portal LeiaJá, Murilo Gun contou como foram as dez semanas mais intensas de sua vida. Saiba como foi a experiência do pernambucano no Vale do Silício, local onde personalidades como Bill Gates e Steve Jobs destrincharam suas carreiras.

LeiaJá: Como é a Singularity?

Murilo Gun: Basicamente a Singularity é uma escola que usa os dormitórios da Nasa e oferece cursos executivos. No programa que participei, passei dez semanas morando lá. É como se fosse um Big Brother, porque ficamos meio enclausurados em uma escola bem pequena com pessoas de diversos países. A proposta da Singularity é reunir times com o objetivo de criar projetos que possam impactar um bilhão de pessoas em dez anos. É bem desafiador.

LJ: Como era sua rotina enquanto esteva morando na Singularity?

MG: Eu acordava por volta das 8h, tomava café da manhã e assistia aulas até a hora do almoço. De tarde as aulas recomeçavam e só paravam no jantar. Às 22h acaba a programação oficial e começava a parte mais importante. Era a partir desta hora que a gente se reunia, começava a trocar ideias e as esboçava em quadros brancos. Imagine um grupo de médicos, engenheiros de software, cientistas e empreendedores fazendo um brainstorm. Era nesse momento que as ideias para impactar um bilhão de pessoas começavam a surgir.

LJ: Como são as aulas na Singularity?

MG: São aulas presenciais com profissionais ligados à áreas como robótica, medicina e inteligência artificial. As aulas não são necessariamente conectadas, muitas delas inclusive se contradiziam. Isso faz parte da experiência, aceitar essa ambiguidade. Quando o assunto é passado não há o que discutir. Já sobre o futuro, existem varias vertentes e possibilidades.

LJ: Morando no Vale do Silício e estudando na Universidade do Google, você teve acesso à que tipo de tecnologias?

MG: Lá a gente teve acesso a um laboratório que já tinha aparelhos como o Oculus Rift e o Google Glass. Também tivemos acessos a muitos drones e robôs. É incrível como é extremamente fácil programar um robô. A Microsoft também nós mostrou a nova tecnologia de tradução simultânea que será implantada no Skype, inclusive ela está funcionando muito bem. Vimos também diversos carros autônomos, como os do Google. Em São Francisco eles já circularam normalmente.

LJ: Alguma destas tecnologias te impressionou muito?

MG: Os laboratórios de biologia sintética me espantaram muito. O DNA foi sequenciado no Projeto Genoma por bilhões de dólares e agora o pessoal do Vale do Silício faz isso por mil dólares. Lá a vida é um código fonte, no Vale do Silício a vida foi hackeada.

LJ: Fale-nos sobre o seu projeto final do programa de imersão.

MG: Meu time pesquisou e percebeu que varias tecnologias são criadas para aumentar a expectativa de vida das pessoas, mas muitas delas não pensam sobre como será a qualidade dessa vida. Estamos vivendo cada vez mais e precisamos pensar no tipo que vida teremos. Por isso, pensamos nos problemas que os idosos enfrentam e um deles é justamente a audição, sentido que vamos perdendo naturalmente.

Os aparelhos auditivos são uma solução para esse problema, mas eles têm um custo altíssimo. Nos Estados Unidos estes produtos chegam a custar 10 mil dólares. Então, começamos a destrinchar a estrutura de custo de um aparelho auditivo e descobrimos que 70% do valor é a margem de lucro do varejo porque esse intermediário é feito pelo audiologista, um técnico de áudio que faz calibragem da frequência.

A partir disso, criamos um software de auto calibragem justamente para dispensar os audiologistas em casos médios, que são a maioria. Criamos 16 padrões de perdas de audição mais comuns para incluir no programa. Com o software um aparelho de celular já é possível determinar qual será a frequência do aparelho sem aquele custo exacerbado.

Além disso, colocamos dispositivos nos aparelhos para eles poderem gerenciar dados em tempo real do paciente. Depois disso, criamos um assistente de saúde pessoal. Uma vez que tivemos esses dados em milhões de aparelhos auditivos, vamos poder prever doenças através dos sinais vitais de quem os usa. Parece loucura, mas é real.

LJ: Por fim, explique-nos o processo de seleção para a Singularity.

MG: São 80 vagas disponibilizadas anualmente, 50 delas são preenchidas por meio de aplicação direta; o restante é disputado por pessoas de todo mundo através de competições de inovação. Quem tentar uma vaga por meio do primeiro método de ingresso deve pagar US$ 30 mil para estudar lá, a vista, na hora.

Confira abaixo outros detalhes sobre a seleção:



Acompanhe o site da Singularity e fique por dentro do processo de aplicação (singularityu.org).

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