Ministro quer investigar cadeira da UNB sobre 'golpe 2016'

Mendonça Filho afirmou que a disciplina não tem base científica e que acionará órgãos de fiscalização como o MPF e o TCU para avaliar se ela representa 'improbidade administrativa ou prejuízo ao erário'

por Lara Tôrres qui, 22/02/2018 - 08:55
Chico Peixoto/LeiaJá Imagens/Arquivo Para Mendonça, a disciplina não tem base científica Chico Peixoto/LeiaJá Imagens/Arquivo

Após a repercussão causada pela oferta da disciplina “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” na Universidade de Brasília (UnB), o ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) afirmou, por meio de sua página oficial no Facebook, nesta quarta-feira (21), que é contrário à disciplina porque “toda disciplina precisa ter base científica — mesmo na área de ciências sociais” e que isso “não é uma questão de opinião, nem de reverberar a tese petista sobre o impeachment de Dilma Rousseff”.

Mendonça Filho afirmou ainda que nesta quinta-feira (22) irá acionar a Advocacia Geral da União (AGU), a Controladoria Geral da União (CGU), o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público Federal (MPF) para avaliar, de acordo com ele, “se há algum ato de improbidade administrativa ou prejuízo ao erário a partir da disciplina”. 

Na opinião de Mendonça, a disciplina, que é ofertada de modo facultativo pelo curso de ciência política não deveria estar sendo oferecida porque para ele “não se pode ensinar qualquer coisa” e se cada pessoa construir uma tese e criar uma disciplina “as universidades vão virar uma bagunça geral” e “a respeitabilidade no ambiente acadêmico fica na berlinda”. 

Embed:

O que diz a UnB? 

Procurada pelo LeiaJá na quarta-feira (21), a Universidade de Brasília explicou que “a proposta de criação de disciplinas, bem como suas respectivas ementas, é de responsabilidade das unidades acadêmicas, que têm autonomia para propor e aprovar conteúdos, em seus órgãos colegiados”.

Além disso, também foi destacado que a disciplina em questão não é um ítem obrigatório do currículo do curso de ciência política. Ainda de acordo com o posicionamento oficial, “A UnB reitera seu compromisso com a liberdade de expressão e opinião - valores fundamentais para as universidades, que são espaços, por excelência, para o debate de ideias em um Estado democrático”. 

Liberdade, justiça social e rigor científico 

O professor titular do departamento de ciência política da UnB, Luis Felipe Miguel, será o responsável por ministrar as aulas da cadeira sobre “o golpe de 2016” e afirmou ao LeiaJá que a cadeira em questão é “uma disciplina corriqueira, de interpelação da realidade à luz do conhecimento produzido nas ciências sociais, que não merece o estardalhaço artificialmente criado sobre ela” e que “na academia é como no jornalismo: o discurso da ‘imparcialidade’ é muitas vezes brandido para inibir qualquer interpelação crítica do mundo e para transmitir uma aceitação conservadora da realidade existente”. 

Ainda segundo o professor, a disciplina está alinhada a valores e princípios fundamentais claros “em favor da liberdade, da democracia e da justiça social, sem por isso abrir mão do rigor científico ou aderir a qualquer tipo de dogmatismo” e que é assim que a universidade pode realizar seu compromisso de contribuir para a construção de uma sociedade melhor”.

LeiaJá também 

--> UnB oferece disciplina sobre ‘o golpe de 2016'

COMENTÁRIOS dos leitores