Impeachment de Bolsonaro dependerá da eleição da Câmara

Cientista político analisa o cenário e aponta o que deve ser o fio condutor da abertura do processo

por Jameson Ramos sex, 22/01/2021 - 17:28
Marcos Corrêa/PR Presidente enfrenta pressão popular para deixar o cargo Marcos Corrêa/PR

A crise gerada pela pandemia da Covid-19, a dificuldade do governo federal em construir uma campanha ampla de vacinação da população e as negligências do Ministério da Saúde - que resultou em um colapso nas redes de saúde do Amazonas e do Pará - estão fortalecendo os pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Um perfil do Twitter que monitora os deputados que se posicionam a favor ou contra a abertura do processo nas redes sociais, aponta que 111 deputados federais se manifestaram a favor, 59 contra e 343 não se posicionaram. Segundo esse levantamento, da bancada de deputados eleitos em Pernambuco, nove se posicionaram a favor, 15 não se manifestaram e apenas o deputado Felipe Carreras (PSB) se colocou contra.

Ao todo, já são 61 pedidos de impeachment do presidente da República, nenhum deles foi analisado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM).  O cientista político e professor da Universidade da Amazônia (UNAMA), Rodolfo Marques, explica que para a possibilidade da abertura do processo de impeachment, a primeira questão que se deve analisar é o cenário político. 

Ele aponta que o que deve ser acompanhado neste momento é a eleição da mesa diretora da Câmara, que vai acontecer no dia 1º de fevereiro. O presidente Bolsonaro tem o seu candidato preferido que é o Arthur Lira (PP), que já se posicionou contra o impeachment, e o candidato do atual presidente da Câmara é o Baleia Rossi (MDB), que é apoiado por todos os partidos de esquerda que pedem a retirada de Bolsonaro do comando do Brasil.

Rodolfo salienta que com o resultado dessa eleição para a sucessão na Câmara é que pode ter uma aceleração ou um retardamento do processo de impeachment, já que é o presidente da casa quem dita a agenda da Câmara dos Deputados.

“Há mais de 60 pedidos de impeachment e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), em nenhum momento deu andamento a esses processos, principalmente porque ele considerou que haveria um risco de se levar esse processo adiante. Como o presidente Bolsonaro tem uma base fortalecida junto ao Centrão, ele poderia vencer e isso desgastaria o Congresso”, analisa.

Mesmo agora, com o país presenciando um desgoverno na questão da imunização e combate à Covid-19 por parte do governo federal, o especialista aponta que ainda não vê um deputado ou um grupo com voz predominante na Câmara dos Deputados para andar com o processo de impeachment. 

Rodolfo analisa que, para a abertura do processo de impedimento, alguns fatores precisam ser pulsantes. O primeiro é a mobilização do Congresso, que neste momento não está totalmente focado para o impeachment e Bolsonaro ainda conta com uma base de apoio forte, tendo a maior parte do Centrão ao seu lado. 

A segunda questão seria os escândalos de corrupção. Segundo analisa o cientista, não existe nenhum caso de corrupção que envolva diretamente o governo, mas, sim, Flávio Bolsonaro (Republicanos), filho do líder - o que não seria um fator preponderante para o impeachment do presidente da República. 

Terceiro fator importante é a crise econômica, que deve ser mensurada neste ano de 2021 com a pandemia, principalmente com o fim do Auxílio Emergencial que vinha auxiliando no combate à extrema pobreza.

O quarto e último fator seria a junção da mobilização popular e a pressão da mídia, o que já está acontecendo - não com multidões nas ruas por conta da pandemia da Covid-19. Para fortalecer essa pressão, está marcado para o próximo sábado (23), uma carreata em todo o Brasil de movimentos sociais contra o presidente Jair Bolsonaro e pelo seu impeachment. 

Apoio

Nesta quinta-feira (22), a pesquisa Exame/Ideia mostrou que a aprovação do presidente Bolsonaro despencou de 37% para 26%. O levantamento também constatou que a desaprovação do mandatário subiu para 45%.

Esse índice é considerado recorde desde junho, quando 50% dos entrevistados consideraram a gestão de Jair Bolsonaro ruim ou péssima.

Abaixo-assinado

Nesta última quinta-feira (21), um abaixo-assinado, que conta com o apoio do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), pedindo pelo impeachment de Bolsonaro foi criado e divulgado nas redes sociais. Em menos de 24h, mais de 50 mil pessoas já assinaram a petição.

Presidentes que já sofreram impechment

Na República brasileira, apenas dois presidentes sofreram um processo de impeachment: Fernando Collor (PROS) em 1992 e Dilma Rousseff (PT) em 2016. 

Bolsonaro completou dois anos de mandato e caso só ele sofra o impedimento, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), cumpre o restante do mandato porque não está em discussão a cassação da chapa. 

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