Neste Dia de Finados, resolvi trazer de volta as Quartas Intenções, notas semanais que eu tinha anunciado como finadas há algum tempo. Em seu lugar, ideia é publicar entrevistas semanais com autores, críticos etc. Tenho lá meus quatro motivos para o revival de hoje...
Dizer que na próxima terça-feira tem Laboratório. Será a última edição do ano deste projeto dedicado à crítica e outros debates culturais em redor. O tema será Artes Vistuais: Tem(e) crítico de arte? Apresentação de Ana Luísa Lima. Os convidados para o bate-papo são o artista plástico Galo de Souza e o secretário de Cultura do Governo do Estado, Fernando Duarte. O evento acontecerá no Teatro Hermilo, às 19h00, com entrada-franca (mas que seja pontual, heim? Bom chegar uns vinte minutos antes).
Informar também que, amanhã, Jussara Salazar apresenta novo trabalho. O livro Carpideiras (pela editora 7letras) será lançado na Arte Plural Galeria, na Rua da Moeda, Recife Antigo, a partir das 18h30. A escritora é uma das colaboradoras do blog NotaPE – parceiro do portal LeiaJá –, onde publica ensaios na coluna Armarinho de Miudezas. Se essa gripe insistente diminuir, vou lá prestigiar a amiga.
Agradecer todo apoio do LeiaJá ao programa NotaPE. Em uma década de jornalismo, sempre tentando viabilizar projetos ligados à literatura, jamais encontrei na iniciativa privada tanta disposição como neste portal. Desde a primeira sugestão, Joaldo Diniz, Eduardo Cavalcanti e todos que fazem o LeiaJá compraram essa boa briga. E o resultado é que, mesmo em fase de experimentar, de buscar ritmo e formato ideais, o programa NotaPE já tem repercutido e recebido apoio de muita gente que vive esse universo dos livros. Vamossimbora!
Lembrar uma senhora chamada Dona Edite. Se tomei gosto pela leitura, foi por causa dessa avó materna. Por culpa dela também é que tenho uns poemas que escrevi entre os 13 e os 17 anos. Ela guardou os cadernos, entregou-me pouco antes de morrer, depois de anos em que teimou contra o câncer. Nunca a vi perder o ânimo. E, como é Dia de Finados, publico aqui uma de suas poesias prediletas, onde Vinicius de Moraes canta a memória de seu falecido amigo:
A ÚLTIMA VIAGEM DE JAYME OVALLE
Ovalle não queria a Morte
Mas era dele tão querida
Que o amor da Morte foi mais forte
Que o amor do Ovalle à vida.
E foi assim que a Morte, um dia
Levou-o em bela carruagem
A viajar – ah, que alegria!
Ovalle sempre adora viagem!
Foram por montes e por vales
E tanto a Morte se aprazia
Que fosse o mundo só de Ovalles
E nunca mais ninguém morria.
A cada vez que a Morte, a sério
Com cicerônica prestança
Mostrava a Ovalle um cemitério
Ele apontava uma criança.
A Morte, em Londres e Paris
Levou-o à forca e à guilhotina
Porém em Roma, Ovalle quis
Tomar a sua canjebrina.
Mostrou-lhe a Morte as catacumbas
E suas ósseas prateleiras
Mas riu-se muito, tais zabumbas
Fazia Ovalle nas caveiras.
Mais tarde, Ovalle satisfeito
Declara à Morte, ambos de porre:
– Quero enterrar-me, que é um direito
Inalienável de quem morre!
Custou-lhe esforço sobre-humano
Chegar à última morada
De vez que a Morte, a todo pano
Queria dar uma esticada.
Diz o guardião do campo-santo
Que, noite alta, ainda se ouvia
À voz da Morte, um tanto ou quanto
Que ria, ria, ria, ria...