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Quartas intenções: quatro mulheres

Cristiano Ramos, | qua, 07/03/2012 - 16:44
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Amigo sugeriu que, esta semana, nas Quartas intenções (espaço onde publico notinhas informativas e cheias de vontades), fossem sugeridas quatro autoras para leitura. Então, com muito gosto, lá vai:

De Virginia Woolf, a coleção de bolso da Saraiva publicou duas de suas mais importantes obras: Orlando e Mrs. Dalloway. Os preços são R$ 14,90 e R$ 12,90, respectivamente –oportunidade bem em conta para conhecer uma das escritoras mais caras à história da literatura universal.

Nunca uso esse dia de notinhas para textos de crítica literária. Com Virginia Woolf, então, seria ridículo. Seus romances não cabem em impressões breves. Ou melhor, não aceitam. Digo apenas que a autora de Ao farol, outro clássico, segue como a melhor prosadora de todos os tempos – até que algum desocupado me prove o contrário. E, favor, não a leiam por nenhuma razão feminista. Não por serem coisas imiscíveis, longe disso, mas por ser pouquíssimo, perto do que sua leitura pode proporcionar. 

Clarice Lispector teve seus romances reeditados pela Rocco. Quem gosta, já percebeu faz tempo. Vez por outra, releio A paixão segundo G.H. e A hora da estrela. Não só porque saio enriquecido de cada nova visita, mas também para ratificar minha impressão de que precisamos sempre de mais Clarice e menos clarices! Isso mesmo! Redescobrir permanentemente a Lispector, e aceitar muito raramente as imitações sofríveis que espocam todos os dias, em estantes de livraria e blogs. Influências são naturais e esperadas; cópias vulgares, no entanto, com seus ares de diários da meia-idade embebidos em vinho e cartões postais...

Ana Maria Gonçalves, com seu surpreendente Uma diferença de cor, é pedida para aqueles dispostos a lerem quase mil páginas de uma narrativa cheia de dor e beleza. O texto é narrado por Kehinde, uma senhora africana cega, que vai repassando sua vida enquanto viaja da África ao Brasil, onde pretende encontrar o filho perdido. Dessas boas misturas de ficção com relatos baseados em documentos históricos, para quem sabe que ainda existem inúmeras histórias a serem contadas e refletidas. Poucos autores brasileiros contemporâneos conseguiram livro tão significativo.

Hilda Hilst é outra que teve sua obra publicada recentemente por uma só editora, a Globo. Boa em tudo que se propôs escrever, ela trabalhou diversos gêneros com a argamassa de sua escrita estranha, impactante, universal e originalíssima – como são as melhores poesias, não? Para os interessados, há o site http://www.hildahilst.com.br/ que está bem acima do nível geral desses sítios eletrônicos dedicados a escritores. E deixo vocês na companhia de algumas estrofes (razoavelmente conhecidas) dos Cantares de sem-nome e de partidas:

 

Isso de mim que anseia despedida

(Para perpetuar o que está sendo)

Não tem nome de amor. Nem é celeste

Ou terreno. Isso de mim é marulhoso

E tenro. Dançarino também. Isso de mim

É novo: Como quem come o que nada contém.

A impossível oquidão de um ovo.

Como se um tigre

Reversivo,

Veemente de seu avesso

Cantasse mansamente.

 

Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.

Como pode ser isto? Ser tenro, marulhoso

Dançarino e novo, ter nome de ninguém

E preferir ausência e desconforto

Para guardar no eterno o coração do outro.

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