Nas terças e quintas-feiras, a coluna Redor da Prosa traz algo bem mais valioso do que meus escritos. São textos literários ou teóricos – vozes tiradas dessas estantes que, assim como seu dono, quase não dormem. Hoje, Machado de Assis, sobre a pureza e a coragem necessárias à crítica:
“A crítica útil e verdadeira será aquela que, em vez de modelar as suas sentenças por um interesse, quer seja o interesse pelo ódio, quer o da adulação ou da simpatia, procure reproduzir unicamente os juízos da sua consciência. Ela deve ser sincera, sob pena de ser nula. Não lhe é dado defender nem os seus interesses pessoais, nem os alheios, mas somente sua convicção, e a sua convicção deve formar-se tão pura e tão alta que não sofra a ação das circunstâncias externas. Pouco lhe deve importar as simpatias ou antipatias dos outros; um sorriso complacente, se pode ser recebido e retribuído com outro, não deve determinar, como a espada de Breno, o peso da balança; acima de tudo, dos sorrisos e das desatenções, está o dever de dizer a verdade, e, em caso de dúvida, antes calá-la, que negá-la”.
“O crítico deve ser independente – independente em tudo e de tudo –, independente da vaidade dos autores e da vaidade própria”.
“A tolerância é ainda uma virtude do crítico. A intolerância é cega, e a cegueira é um elemento do erro; o conselho e a moderação podem corrigir e encaminhar as inteligências; mas a intolerância nada produz que tenha condições de fecundo e duradouro”.
O texto é O ideal do crítico (1865), e a fonte é o recente lançamento Uma ideia moderna da literatura: textos seminais para os estudos literários (1688-1922), organizado por Roberto Acizelo de Souza. A primeira citação está na página 560, e as duas seguintes na página 561.
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