Tópicos | Anna Farris

Pode-se imaginar que nos dias de hoje o tal ideal da “mocinha perfeita” – que sempre se encaixa na perspectiva dos outros e que deve ter poucos parceiros para conseguir “o” cara ideal com quem vai se casar - não seria mais tão relevante assim. Pois bem, apesar de os tempos terem mudado, as comédias românticas nem tanto. Pelo menos é o que se pode dizer no filme Qual seu número?, dirigido por Mark Mylod, que estreia hoje nas salas de cinema do país.

A premissa é simples: Ally (Anna Farris) é uma mulher insatisfeita que trabalha com algo com que não se identifica e coleciona relacionamentos fracassados. Após uma onda de má sorte, depara-se com uma revista feminina que estampa uma pesquisa indicando que mulheres que tenham mantido relações sexuais com mais de 20 homens tendem a permanecer solteiras.

Ao constatar que sua média beira os vinte indicados no artigo, Ally decide iniciar uma busca desenfreada pelos seus ex a fim de encontrar o cara ideal dentre aqueles que já namorou, tudo para permanecer na margem estipulada pelo estudo. Para ajudá-la nessa empreitada, ela conta com seu vizinho de porta, Colin (Chris Evans), músico escultural do tipo que “coleciona” as mulheres com quem fica.

Durante cerca de uma hora e quarenta minutos da projeção, a personagem de Anna Farris se atém apenas à caça pelo homem ideal. Mesmo desempregada e vivendo uma situação difícil, suas energias são todas concentradas nessa busca incansável. Paralelamente à trama romântica, apresenta-se, ou melhor, insinua-se a dificuldade que Ally tem em se encontrar.

A jovem está sempre tentando atingir às expectativas alheias, sem nem mesmo saber quais são as suas próprias. Até sua relação com o trabalho transparece essa sua dificuldade: ela atua na área de “marketing” apenas para pagar suas contas. Por fora, nutre um hobbie artístico pelo qual é verdadeiramente apaixonada. Essa, por exemplo, seria uma situação interessante para aprofundar um pouco mais e mostrar outros lados da personagem, mas isso não acontece. Os personagens são unilaterais, a protagonista não consegue mostrar muito mais que uma única faceta e o filme se mantêm apenas na questão da busca.

O longa até conta com algumas piadas engraçadas (destaque para o reencontro com um dos “ex-prestes” a se casar que acaba tomando ares de perseguição) e Anna Farris conta com um timming de comédia interessante (já visto em Todo mundo em pânico 1, 2 e 3Smiley Face). No entanto, o filme acaba em questões superficiais demais e investindo em uma heroína que pretende ser moderna, mas que em seu íntimo, novamente, se molda a partir dos princípios dos outros.

SPOILER - Ainda que o final indique que a protagonista finalmente percebeu que precisa viver de acordo com seus próprios princípios e necessidades, isso fica difuso já que ela continua priorizando a busca pelo cara ideal. As demais questões, familiares e profissionais, por exemplo, continuam sendo escanteadas.

É justamente essa falta de questões secundárias que torna o enredo ainda mais fraco. Embora o filme tente mostrar que a personagem cresce e passa a se conhecer melhor, a falta de qualquer outro objetivo de vida reflete justamente o oposto e uma simples insinuação (como no caso da veia artística da jovem, por exemplo) não é o suficiente para mudar esse quadro.

Chris Evans se mostra confortável em um papel leve após encarar a superprodução Capitão América. A química entre ele e Anna Farris funciona bem e o elenco de apoio mantém o ritmo. O destaque fica por conta de Blythe Danner no papel da problemática mãe da protagonista.

Vale algumas risadas, mas decepciona pelo conteúdo.

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