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Será que dá para ser um solteiro feliz em pleno Dia dos Namorados? Pela "solteirice", sim. O que realmente irrita nessa época, dizem os solitários, é a obsessão do mercado com a data. Não há "avulso" que aguente tantas vitrines com sugestões de presentes e restaurantes oferecendo menus especiais para a comemoração.

"Há uma overdose de propaganda ligada ao consumismo e isso coloca quem está sozinho num vazio enorme. Não penso ‘ai, que ruim, não estou namorando’. Mas me cobro para comprar um presente sabe-se lá pra quem", diz Mario Araújo, de 33 anos, gerente de atendimento do grupo MSL.

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Para ele, que nem lembra quando foi o último Dia dos Namorados que passou acompanhado, essa sensação de culpa se tornou pior nos últimos anos, com as redes sociais. "Todo mundo posta o presente que deu ou o que recebeu. Parecem se achar melhores se estão com alguém para dividir a vida." Araújo ainda não sabe o que fará nesta quarta-feira, mas é certo que fugirá dos restaurantes. "Estarão todos lotados em nome do apelo do mercado. Quero sossego."

O servidor público William Okubo, de 36 anos, também já se cansou dos comerciais de tevê, mas não vai ignorar a data. Ganhou, em um sorteio, um convite para uma festa de solteiros. "Você não precisa estar namorando para estar feliz. Na festa, a diferença é que ninguém estará fazendo declarações de amor."

Reações como a de Araújo e Okubo, explica o psicólogo clínico Dímerson Fiuza, são típicas de quem consegue distinguir de forma crítica o apelo comercial. Mas isso não os isenta de se sentir como um peixe fora d’água. "Incomoda, porque tudo é construído para que o solteiro se sinta incomodado, diminuído."

Revolta

Após três anos sem namorado, a pedagoga Mariana Pedroso Ramos, de 28, cancelou sua conta no Facebook em maio, quando começaram os primeiros posts sobre a data. Foi uma forma de precaução, já que, em 2012, após comentar com ironia o comentário de uma amiga que anunciava a reserva do restaurante para o jantar romântico, perdeu a amizade.

"Não me contive. A vi fazendo propaganda gratuita de um local que lhe cobraria metade do salário por conta de uma data estritamente comercial. Ela não entendeu e me chamou de invejosa." Mariana jura que não foi o caso. "No meu último namoro, me recusei a ganhar ou dar presente e comemos em casa, como um dia qualquer. Foi ótimo, mas falaram tanto que até parecia que eu tinha algum problema."

O psicoterapeuta Julio Cesar Silveira explica que esse desconforto é resultado dessa inadequação. "Numa sociedade erotizada, quem não consegue se conformar com a moral imposta tende a se sentir como um bicho doente". Escapam dessa sensação, diz ele, quem está muito seguro de quem é, como parece ser o caso de Mariana. Se estiver namorando em 2014, já avisa que não quer presente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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