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Entrevista coletiva ou tarde de autógrafos. Normalmente essa é a atividade dos atletas na véspera de cada etapa do Circuito Brasileiro Banco do Brasil de Vôlei de Praia. A própria empresa patrocinadora da competição faz os convites e determina as ações. As jogadoras Andressa e Carol Horta fugiram do padrão, e causaram e vivenciaram uma experiência inesquecível. Na última quarta-feira, saíram da própria rotina para conhecer a dos adolescentes da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife.

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As jogadoras chegaram à Funase acompanhadas de alguns assessores e entraram na sala de recepção sem ter ideia de como seria lá dentro. “Posso entrar com a caneta? Precisa deixar o celular aqui?”, questionou a fortalezense Carol Horta, que faz dupla com Duda. A atleta logo explicou: “É que nós nunca visitamos em um lugar assim”.

Oficinas de ressocialização

Carol Horta e Andressa cruzaram os primeiros corredores até a sala - que os adolescentes assistem TV - e esperaram para começar a visitação. A coordenadora geral da Funase, Viviane Sybalde, e o secretário de Esporte e Lazer de Jaboatão dos Guarapes, Marcus Sanchez fizeram as honras de acompanhar as jogadoras. Os primeiros contatos com os reeducandos foram nas oficinas. 

Assim que entraram na sala de bordado receberam pedidos dos alunos para posar para fotografias. “Claro, sem problemas”, respondeu Andressa. Carol Horta ainda brincou, “ai, como eu queria aprender a bordar. Sempre quis”. Um dos alunos falou, “quem joga bem vôlei sou eu, me garanto”. O colega atestou, “ele é bom mesmo, visse! Não parece, não. Porque é baixinho, com menos de um metro”, disse rindo. 

As atletas seguiram oficina de robótica. “Três alunos do professor Higínio (responsável pelas aulas) saíram daqui direto para o mercado de trabalho”, contou orgulhosa a coordenadora Viviane Sybalde. “É bom assim, quando o resultado aparece”, falou a paraibana Andressa – que joga ao lado de Tainá no Circuito de Vôlei de Praia. A Funase de Jaboatão dos Guararapes, inclusive, recebeu o Prêmio Innovare – um dos mais conceituados da Justiça brasileira - no final de 2014 pelo projeto de ressocialização de adolescentes. 

Contato com o grupo

Até então, as duas jogadoras só haviam encontrado cerca de cinco alunos. Quando saíram para o pátio, se juntaram a dezenas de garotos. São adolescentes com idade entre 12 e 15 anos que cumprem regime fechado e recebem visita apenas de parentes próximos. Alguns estão há mais de um ano no local. O primeiro contato com o grupo foi mais delicado e causou um pouco mais de tensão, principalmente em Andressa, que vestia uma bermuda mais curta.

Após a visita a atleta revelou a tensão, mas não explicou precisamente o sentimento: “Ah, não sei. É que eu estou começando agora e fico meio nervosa com tudo”. E amenizou, “mas o pessoal tratou a gente muito bem e nos deixou bem à vontade na casa, para conhecer tudo”. A propósito, em momento algum os adolescentes se dirigiram às jogadores sem a habitual educação com, “por favores”, “com licenças” e, principalmente, “obrigados”. Questionado se acompanhava a carreira das atletas, um dos garotos fãs de vôlei – e que costuma jogar no local - respondeu: “Conheço não. Assim que nem elas? Bonitas que nem essas daí a gente só vê na televisão. E na daqui só passa jogo de futebol”.

Encanto e apoio

A visita terminou com a apresentação das jogadoras (além de gestores do local e políticos) e a série de autógrafos em camisas para cada um dos cerca de 60 garotos presentes. Os coordenadores falaram e foram aplaudidos. Mas não se aproximaram perto da ovação às palavras de Carol Horta, que fez questão de se pronunciar. “Primeiro, meus parabéns a vocês. Pela organização, dedicação e superação de cada dia aqui. Parabéns por passarem pelos seus problemas e parabéns por querer melhorar...”, disse.

O secretário de Esporte e Lazer de Jaboatão dos Guararapes, Marcus Sanchez agradeceu e ressaltou a visita das jogadores. "É a primeira vez que a gente traz atletas desse porte para cá. Elas estão entre as 16 melhores do Brasil, que um dos mais fortes celeiros de vôlei de praia do mundo. Então, a gente faz isso com muita felicidade. Eu digo que os garotos daqui têm duas coisas que se assemelham às atletas: superação e determinação. E essa é a verdade. Eles estão superando problemas que tiveram na vida e elas, a cada dia para fazer o melhor no vôlei. Ninguém vai mais esquecer na vida. Os garotos daqui, nós que participamos e as atletas. É realmente inesquecível", declarou.

As duas jogadoras, apesar de não jogarem juntas ganharam a torcida de todos no Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia. Ganharam a torcida dos alunos e dos professores. E ganharam a experiência. “Nunca cheguei a conhecer uma casa assim para as crianças e os jovens que fizeram algo de errado e têm chance de se recuperar e crescer na vida de alguma forma. É muito bacana”, declarou Andressa.

Carol Horta também ressaltou a surpresa e o trabalho de ressocialização feito na Funase de Jaboatão dos Guararapes. “Não tinha noção de como era, imaginava completamente diferente. Parece um casarão que mora uma família. É muito aconchegante, as pessoas muito bacanas”, disse.  E completou: “Os meninos são muito educados, apesar de tudo”.

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