Tópicos | casamentos LGBT

Fotografia, convite, vestido, terno, maquiagem, bolo, doces, buffet, cerimonial, música, decoração... A lista de itens indispensáveis para a realização de uma festa de casamento além de extensa, é interminável. Conseguir dar conta de tudo exige tempo e, sobretudo, dinheiro. Preocupados após a presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual e Gênero do Conselho Federal da OAB, Maria Berenice Dias, recomendar que casais homossexuais se casem antes do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) assumir o governo, profissionais de diversas áreas criaram nas redes sociais a campanha “trabalho de graça no seu casamento LGBTQ+”. Fornecedores espalhados pelo país estão oferecendo diferentes produtos e serviços de forma gratuita.

Maquiadora profissional há 5 anos e publicitária há 4, Carolina Conti, de 27 anos, se sensibilizou pela causa. A jovem está oferecendo maquiagem para casais moradores de Taubaté, em São Paulo, e Paraty, no Rio de Janeiro. Já os serviços de design gráfico, são válidos para todo o país e incluem convite, tags e personalização de lembrancinhas. "Acho que os direitos da comunidade LGBTQ+ estão em risco, então, por empatia e por amor, resolvi ajudar para que nada seja um empecilho no desejo das pessoas se unirem por amor", afirma.

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Já a empresária Brenda Rodrigues, de 25 anos, está ofertando assessoria e cerimonial gratuito para os casais que moram em Pernambuco. “Me senti chamada a participar desse movimento porque trabalho para o amor. Toda forma dele, sem categorias. Se existe casal com o coração apertado diante de toda essa perspectiva de governo, estamos aqui para dar as mãos e ajudar a demonstrar o amor através do casamento”, conta ela, que é uma das criadoras da Santo Dia Eventos Matrimoniais.

O serviço foi anunciado pela profissional na segunda-feira (5) e até a terça (7) cerca de três casais já haviam procurado a empresa. “Eu, pessoa física, antes de ser jurídica, coloco a minha vocação à disposição pelo simples fato de acreditar que o amor é revolucionário e querer ter meu coração tranquilo sabendo que fiz minha parte por um mundo mais justo”, revela Brenda. Segundo a empresária, muitos fornecedores parceiros já procuraram a Santo Dia interessados em participar do movimento. Funcionários da empresa também aderiram à ação. “Toparam na hora, sem nem titubear. Minha equipe é formada por pessoas que têm, antes de tudo, empatia. Não é a primeira vez que eles abraçam uma ideia desse tipo junto comigo”, conta.

A força-tarefa também comoveu Thaíla Fernandes, de 33 anos. Proprietária de um salão de beleza no bairro de Cachambi, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ela e o marido estão disponibilizando cortes de barba e cabelo para os noivos e penteados e mão de obra de maquiagem para as noivas. “Minha filha de 7 anos quebrou as maquiagens que a gente tinha no salão, por isso, no momento, só consigo oferecer a mão de obra. Mesmo assim, não poderia deixar de participar”, afirma Thaíla.

A empresária também descobriu o movimento através das redes sociais e resolveu aderir. “Eu fiquei com muito medo do resultado das eleições e acredito que isso só aconteceu porque as pessoas não olham pro próximo. Tenho filhos pequenos e fico com muito receio do mundo que eles vão viver futuramente, principalmente com o tipo de pessoas que vão conviver. Então, quando vi a campanha lógico que quis participar. Acho que se cada um for um pouco de luz, a escuridão não domina”, explica.

Fornecedores espalhados pelo país estão oferecendo diferentes produtos e serviços de forma gratuita    Foto: Pixabay

O direito à união estável foi concedido aos casais LGBTs em 2011, após o Supremo Tribunal Federal (STF) mudar a regra do Código Civil e entender que a família não era formada apenas pela união de um homem e uma mulher. Dois anos depois, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estendeu o benefício e mandou os cartórios celebrarem casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Em seu plano de governo, Bolsonaro não traz propostas para retroceder o casamento LGBT, mas o que tem assustado os casais homossexuais são as declarações dadas pelo presidente eleito. Em 2013, por exemplo, logo após a decisão do CNJ, ele declarou: “Está bem claro na Constituição: a união familiar é [entre] um homem e uma mulher. Essas decisões só vêm solapar a unidade familiar, os valores familiares. Vai jogar tudo isso por terra”.

Vendo de perto o sofrimento de uma pessoa próxima que é homossexual e que até hoje não oficializou a relação por medo de represálias, a fotógrafa e desginer Janayna Velozo, de 40 anos, buscava uma maneira de ajudar essas minorias. “Desde o resultado do segundo turno eu fiquei me perguntando o que poderia fazer pra sarar um pouco essa dor tão grande. Não achei resposta. Ao ver um amigo meu no movimento, meu peito se encheu de alegria. Havia algo que poderia ser feito para dar esperança a todos os LGBTQ+, para colaborar com a possibilidade dessa união acontecer diante de tantas ameaças, para mostrar que eles não estão sozinhos. Não pensei duas vezes”, revela Janayna.

Inicialmente, os serviços gratuitos de fotografia e design estão sendo oferecidos para moradores do Recife, mas Janayna afirma que não quer criar restrições. "Caso seja necessário, posso me deslocar também. Eu espero que as pessoas consigam vencer o medo de oficializar a união e me procurem. Mas, mesmo que ninguém procure, está sendo maravilhoso participar do movimento, vendo tanta gente sentir esse respeito por eles, esse amor, esse apoio", conclui.

Em parceria com mais dois amigos, o músico pernambucano Humberto Cavalcanti foi além e criou um pacote de serviços para os casais LGBTQ+ que vão casar até dezembro. Quem procurar ele, vai garantir design para os convites, DJ, banda e fotografia. "Vi o movimento no perfil de uma colega e resolvi disponibilizar o show da minha banda [Banda Los Sarrosos], que tem um lgbt no vocal, para animar a vida dessas pessoas e tentar fazer com a esperança continue sendo enxergada. Sabia que vários amigos iriam se juntar a mim", conta. Para ele, o movimento vai além de oferecer serviços gratuitos. "Foi massa ver profissionais altamente requisitados, com várias premiações, disponibilizando serviço e tempo em prol da felicidade alheia. Esse movimento é uma mostra que, independentemente da situação política, ninguém vai soltar a mão de ninguém", afirma.

Acostumada a fazer produções de noivas que variam entre R$ 700 e R$ 1500, a maquiadora Carol Café também foi uma das profissionais que resolveu abrir mão do cachê. "Acredito que o único meio possível de se combater o ódio é pelo amor. Se existe a ameaça de que percam o direito de escolher com quem se casar no próximo ano, espero que o máximo de casais que querem oficializar a união tenham essa oportunidade", afirma ela, que descobriu a campanha através de um amigo. "Já havia começado a me mobilizar me disponibilizando para amigos e conhecidos que precisassem conversar, de um abraço, algo pra se sentir acolhido nesse momento tão delicado. Mas, na mesma hora que vi o movimento, comentei que queria me juntar e oferecer meus serviços também", conta. Carol oferece penteados e maquiagem de graça para os casais. Com o apoio de mais três amigos, a profissional também conseguiu incluir no "pacote" bandas, filmagem, design para convites, DJ, decoração e acessórios para o casamento. Os serviços são válidos para a cidade de Aracaju, em Sergipe.

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