Tópicos | Escola Estadual Sylvio Rabelo

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Com um aperto de mão forte e um sorriso tímido, Girlane Balbino Oliveira, 18 anos, aluna do ensino normal médio, abriu as portas de sua sala de aula, na Escola Estadual Sylvio Rabelo, no bairro de Santo Amaro, centro do Recife, para contar sua história para a reportagem do Portal LeiaJá.

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Deficiente visual desde nascença, como todas as pessoas cegas, Girlane tem uma sensibilidade acima do normal para o tato, a audição e o olfato. Ciente dessa capacidade, a professora a conduz por caminhos que permitem que ela venha a conhecer o mundo pelo toque.

Maria Anunciada entrou na vida de Girlane em 2008. Logo no primeiro dia de aula, ela quis saber do que a mais nova aluna precisava para conhecer os colegas de turma. Como todas as pessoas que têm deficiência visual, Girlane faz do tato um de seus principais aliados e perguntou se poderia tocar no rosto e nos cabelos das outras crianças. Todos aceitaram, e assim ela foi fazendo o reconhecimento de um por um. "Depois eu a incentivei a fazer o mesmo com cada canto da sala, os armários e os objetos", conta Anunciada. Nas conversas, ela passou a reconhecer também as vozes dos amigos.

A dedicação de Maria Anunciada teve papel fundamental nesse progresso. Ela começou a dar aulas temporárias para Girlane, como professora substituta. Com a volta da docente titular, Maria assumiu outra classe e passou a dar aulas no período oposto às atividades de Girlane, dificultando o encontro das duas. Mesmo com a distância, a professora procurava acompanhar o desenvolvimento da ex-aluna e saber como ela estava indo na escola. A garota não apresentou desempenho igual na nova turma, então a direção da escola resolveu transferi-la de turno, para que o trabalho de Anunciada tivesse continuidade. "Ela me perguntou se eu queria, e eu quis. Gosto muito do jeito como ela dá aula", conta Girlane.

Em sala, Anunciada procura envolver Girlane em todas as atividades. No final da aula, ela senta ao lado da jovem e procura saber o que ela absorveu do que foi ensinado. "Minha maior preocupação era que ela percebesse que podia participar de tudo", afirma a professora.

Agora ela está trabalhando a autonomia da estudante. "Combino com os colegas que, quando der o sinal do fim do recreio, ninguém deve chamá-la ou se oferecer para ajudá-la. Mas sempre vou ver se ela está voltando para a sala direitinho. Às vezes, ela percebe e diz: ‘Professora, a senhora está aí? Estou sentindo seu cheirinho'”, conta Anunciada, orgulhosa.

Sobre a perseverança em aprender, Girlane reconhece que a adaptação e o aprendizado são complicados, mas não se deixa levar pelas dificuldades. “Quando superamos um desafio, surge logo outro em seguida. Sempre encontraremos dificuldades e provavelmente iremos falhar inúmeras vezes, mas se formos perseverantes e sinceros em nosso propósito de vida, as dificuldades não representarão um obstáculo. Com perseverança, podemos seguir adiante sabendo que é possível nos tornarmos pessoas melhores, mais flexíveis e disponíveis para nos ajudarmos e aos outros”.

Braille

O sistema Braille é um processo de escrita e leitura baseado em 64 símbolos em relevo, resultantes da combinação de até seis pontos dispostos em duas colunas de três pontos cada. Pode-se fazer a representação tanto de letras, como algarismos e sinais de pontuação. Ele é utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão, e a leitura é feita da esquerda para a direita, ao toque de uma ou duas mãos ao mesmo tempo.

O código foi criado pelo francês Louis Braille (1809 - 1852), que perdeu a visão aos três anos e criou o sistema aos 16. Ele teve o olho perfurado por uma ferramenta na oficina do pai, que trabalhava com couro. Após o incidente, o menino teve uma infecção grave, resultando em cegueira nos dois olhos.

Paralelo às atividades curriculares, Girlane aprende o Braille e, segundo afirma a professora, em breve ela estará apta a dar aulas. “Eu me sinto orgulhosa em poder fazer parte do sucesso de Girlane. Sei que ela tem futuro, e é por isso que invisto muito no seu aprendizado”, diz Maria Anunciada.  Ao término do curso, a jovem poderá levar a outras pessoas o seu aprendizado e exemplo de insistência e perseverança.

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