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A polícia antiterrorista da Tunísia convocou a principal figura da oposição do país para interrogatório nesta sexta-feira, 1º, enquanto uma crise política se aprofunda após a decisão do presidente Kais Saied de dissolver o Parlamento e impor o regime de um homem só.

Rached Ghannouchi, chefe do partido islâmico Ennahda e presidente do Parlamento dissolvido, foi intimado e compareceu à sede da polícia nesta sexta-feira, disse seu gabinete, depois que investigações foram abertas sobre outros membros da Câmara que desafiaram Saied.

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O presidente exigiu que as investigações fossem abertas depois que os membros do Parlamento realizaram uma sessão online na quarta-feira, 30, e votaram pela revogação de todas as medidas de emergência que ele impôs - apesar de seu decreto, no ano passado, de suspender a Câmara.

Saied acusou aqueles que participaram da sessão, juntamente com Ghannouchi, cujo gabinete havia anunciado a medida, de conspirar contra a segurança do Estado e ordenou que o Departamento de Justiça abrisse um processo legal contra eles.

No mês passado, Saied assumiu o controle do Judiciário, substituindo um conselho superior cuja função era garantir a independência do poder, por juízes que ele mesmo selecionou.

Os movimentos de Saied aumentam a perspectiva de uma repressão à oposição, à medida que os principais atores da Tunísia se tornam mais ativos no esforço de tentar barrar suas tentativas de refazer o sistema político no que eles chamam de golpe. "É um ponto de virada para atingir seus oponentes", disse a vice-presidente do Parlamento, Samira Chouachi.

Saied defendeu a tomada dos poderes no ano passado como necessário para salvar a Tunísia de uma elite corrupta e egoísta que ele descreve como responsável por anos de paralisia política e estagnação econômica.

Sem eleições

Ele também prometeu defender os direitos e liberdades conquistados em uma revolução de 2011 que trouxe a democracia -- o país é considerado o berço das revoltas populares no mundo muçulmano que ficaram conhecidas como Primavera Árabe -- , e até agora houve poucas prisões ou tentativas de silenciar os críticos.

No entanto, na noite de quinta-feira, 31, Saied disse que ainda não convocaria novas eleições parlamentares, apesar de dissolver a Câmara, e protestou contra aqueles que participaram na sessão de quarta-feira.

"Não haverá diálogo com aqueles que tentaram um golpe e buscam dividir os tunisianos", disse ele, sugerindo que aqueles que se opõem a seus movimentos podem não ser autorizados a concorrer em eleições futuras.

Oposição

O Ennahda e o Partido Constitucional Livre, que lidera as pesquisas de opinião, disseram que se oporão aos planos de Saied de um referendo sobre uma nova Constituição que ele planeja apresentar.

Os partidos são inimigos ideológicos declarados e, embora não haja sinais de que possam trabalhar juntos contra Saied, a oposição mais ativa às suas medidas sugere que a crise está se intensificando. "Saied, que usurpou o poder, deve acabar imediatamente com as medidas excepcionais", disse o líder do Partido Constitucional Livre, Abir Moussi.

A oposição mais forte a Saied desde o meio do ano passado veio do Ennahda, que tem sido um ator principal em sucessivos governos desde a revolução.

Moussi e seu Partido Constitucional Livre criticam o passado islâmico do Ennahda e elogiam o regime autocrático do ex-ditador Zine El Abidine Ben Ali, que foi deposto em 2011 e morreu em 2019.

Os Estados Unidos, um importante doador para a Tunísia desde a revolução, expressaram preocupação com a dissolução do Parlamento por Saied e ameaças de investigar os legisladores, e pediram "um rápido retorno ao governo constitucional".

A economia da Tunísia enfrenta uma série de problemas, incluindo rebaixamento das classificações de crédito do país e aumento dos preços dos alimentos. Tunis tem buscado assistência do Fundo Monetário Internacional (FMI) para evitar o calote em sua dívida, mas a instabilidade política prejudicou os esforços de reforma econômica.

Mas com praticamente todos os poderes em suas mãos, Saied enfrentará uma pressão adicional para melhorar a crise econômica que se aprofunda, segundo o analista político tunisiano Selim Kharrat. "O único fator que pode ameaçar o apoio popular a Saied é a condição social e econômica dos tunisianos", disse Kharrat.

Saied está buscando financiamento internacional para evitar uma crise nas finanças públicas em meio à crescente dor econômica para os tunisianos após anos de disputas políticas.

O poderoso sindicato trabalhista UGTT, o órgão político mais poderoso do país, com mais de um milhão de membros, está considerando uma greve geral para exigir um diálogo sobre reformas políticas e econômicas. Anteriormente, havia instado Saied a dissolver o Parlamento, mas também a realizar eleições logo em seguida. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O jurista Kais Saied vencia as eleições presidenciais tunisianas com quase 77% dos votos, segundo uma projeção da emissora estatal de TV Wataniya, que confirma as tendências expressas em uma primeira pesquisa divulgada pouco antes.

Saied conseguia mais de 50 pontos percentuais de vantagem sobre seu adversário, Nabil Karoui, um controverso homem de negócios detido até a quarta-feira, que obteve 23% dos votos, segundo o instituto de pesquisas Sigma.

A publicação da pesquisa desencadeou gritos de alegria entre os partidários de Kais Saied, reunidos em um hotel da Tunísia, segundo um jornalista da AFP.

Os resultados oficiais não deveriam ser conhecidos antes da terça-feira.

Mas os cálculos fornecidos pela emissora Wataniya confirmam uma primeira pesquisa publicada pouco antes pelo instituto Emrhod, segundo o qual Saied, de 61 anos, obteve 72,5% dos votos contra 27,5% para seu adversário.

Pouco após esta primeira pesquisa, os partidários do universitário expressaram sua alegria na avenida Bourguiba, no centro da capital, fazendo um buzinaço.

A taxa de participação foi um pouco superior à do primeiro turno, informou o organismo encarregado das eleições, a Instância Superior Independente das Eleições (ISIE).

As seções eleitorais fecharam às 18h00 locais (14h00 de Brasília).

Nestas segundas eleições presidenciais democráticas por sufrágio universal, os sete milhões de eleitores tunisianos deviam escolher entre Nabil Karoui, um milionário da mídia investigado por fraude fiscal, e Kais Saied, professor de direito constitucional sem experiência política.

Saied venceu o primeiro turno realizado em 15 de setembro.

- "Cidadão desamparado" -

Karoui, de 56 anos, e Saied, de 61, duas personalidades diametralmente opostas, têm um único ponto em comum: surpreenderam ao ser eleitos no batalhão de 26 candidatos, em detrimento, entre outros, dos dirigentes em fim de mandato, sancionados por uma população exasperada pelas disputas políticas e por um horizonte econômico estagnado desde a revolução de 2011.

A morte, em julho, de Beji Caid Essebsi, primeiro presidente eleito em eleições democráticas e por sufrágio universal, forçou a antecipação das eleições presidenciais em vários meses, mergulhando o país em uma novela política que teve como última reviravolta a libertação na quarta-feira de Nabil Karoui, depois de a Justiça tê-la rejeitado várias vezes.

Karoui foi preso em 23 de agosto, dez dias antes do início da campanha eleitoral para o primeiro turno, acusado de fraude fiscal e lavagem de dinheiro. O candidato acusa o regime de uma operação política para tirá-lo da corrida presidencial.

"Esta disputa pelo palácio de Cartago é mais emocionante que um final de campeonato", resumiu um jovem na avenida Bourguiba, principal via de Túnis, onde os dois campos reuniram seus simpatizantes para seu primeiro - e último - comício.

Embora a segurança tenha melhorado claramente nos últimos anos, o desemprego continua carcomendo os sonhos de muitos jovens e a inflação pesa em rendimentos já baixos.

Os dois adversários se enfrentaram na noite de sexta-feira em um debate televisivo sem precedentes.

O empresário Nabil Karoui, com um perfil mais pragmático e libertado apenas 48 horas antes, mostrou-se hesitante e, em alguns momentos, impreciso, defendendo ao mesmo tempo a luta contra a pobreza e o liberalismo econômico.

Diante dele, Kais Saied, especialista em direito constitucional, voltou a mostrar sua intransigência e pediu uma mudança de sistema para dar "o poder ao povo".

- Formar o governo -

Saied, um candidato sem partido que tornou em seus os valores da revolução e assume seu conservadorismo em questões sociais, obteve 18,4% dos votos no primeiro turno.

Vários partidos pediram votos nele, entre eles o movimento de inspiração islamita Ennahdha, que ficou em primeira posição nas legislativas celebradas no começo de outubro com 52 assentos do total de 217.

Karoui, que se apresentou com as cores do Qalb Tounes, o partido que ele próprio fundou em junho, obteve 15,6% dos votos no primeiro turno de sua cela na prisão. Embora tenha se apresentado com um dique de contenção diante do islamismo, poucos partidos pediram votos claramente nele, nem mesmo os considerados progressistas.

Após este segundo turno, todos os olhares se voltam para o Ennahdha, partido encarregado da tarefa árdua de formar um novo governo.

O partido de Rached Ghannouchi deverá conseguir apoio suficiente do restante de blocos para alcançar a maioria de 109 assentos.

Qalb Tounes, que rejeitou qualquer aliança com os islamitas, é o segundo grupo no Parlamento, com 32 deputados.

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