Tópicos | Lorelei Linklater

Recomendar Boyhood – Da Infância à Juventude vai ser difícil, já que a sugestão de um filme é, normalmente, acompanhado da pergunta “sobre o que é o filme?” Responder isso não será tarefa fácil, mas após muito pensamento, a conclusão é inevitável. Boyhood é sobre a montanha-russa cheia de lágrimas, risadas, amor e raiva chamada vida.

Os filmes do diretor e roteirista Richard Linklater sempre passaram o sentimento de serem sobre pessoas reais, mas isto nunca foi tão evidente e impactante como é neste longa. Filmado durante 12 anos com o mesmo elenco, Boyhood narra a vida de Mason Junior (Ellar Coltrane) dos 6 anos de idade até os 18.

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O mero fato deste filme existir já é um milagre. Os riscos e desafios envolvidos na produção são de um nível nunca antes visto, e ele é um dos poucos que merecem o adjetivo de único. Não há outro longa como Boyhood, mas, para além desses adjativos, o importante é o quão bom ficou o produto final.

O filme tem uma visão sem filtro, censura ou agenda de como a vida é. Não há uma dramatização ou romantização exagerada. Momentos como o primeiro beijo, a primeira experiência sexual ou o primeiro grande término de namoro não recebem o destaque que Hollywood normalmente os dá.

Na verdade, nada recebe este destaque. Boyhood não é um filme sobre momentos, é um filme sobre o contínuo. Há dor, e ela passa. Há alegria, e ela passa. A forma com a qual Linklater captura esses sentimentos parece magia negra, e é quase impossível dizer se o filme está perto de terminar, ou se há mais uma fase pela frente.

O que é tão fascinante sobre Boyhood é como o protagonista Mason não tem nada de especial. Os maiores acontecimentos do filme se apresentam nas vidas da sua mãe (Patricia Arquette) e do seu pai (Ethan Hawke).

Mason não é um garoto super inteligente, super engraçado, ou que muda a vida de pessoas ao seu redor. Ele é simplesmente um garoto descobrindo a vida, abandonando personalidades antigas e adotando novas. Essa jornada é muito bem interpretada por Coltrane, que apesar de não ser espetacular ou demonstrar uma grande variedade de atuação, se aprofunda fortemente no personagem, ao ponto de desaparecer.

O elenco secundário também se destaca. Hawke e Arquette são espetaculares nos papéis de pais, e Lorelei Linklater, filha do diretor, brilha como Sam, irmã de Mason. Mas a estrela do filme é o próprio Richard Linklater. A forma com a qual ele escreveu e dirigiu Boyhood é invejável.

A química com a qual o primeiro relacionamento sério de Mason se desenvolve é quase palpável, e a forma com a qual ele nos transforma em observadores, caindo de paraquedas em momentos específicos de uma jornada que já existia antes de nós, e continuará existindo depois de nós, é mágica. O diretor te coloca na frente de uma janela e oferece assistir ao mais fascinante dos processos, o crescimento de um ser humano.

Durante a vida, os humanos são pessoas diferentes, e as mudanças raramente vêm de forma drástica, como a maioria das produções cinematográficas mostra. Elas são sutis, baseadas em momentos suaves. A última cena de Boyhood mostra um momento tão simples, mas ao mesmo tempo tão poderoso, que parece que Linklater decidiu resumir o filme todo numa coisa só.

Boyhood é recheado de momentos simples, momentos que definem os personagens em uma longa jornada. Alguns destes momentos são protagonizados por pessoas, e algumas delas acabam aparecendo novamente na história. Quando isso acontece, o sentimento é de que passaram-se anos e você, assim como Mason, está reencontrando uma face do passado.

A fotografia de Lee Daniel e Shane F. Kelly também merece destaque. A primeira metade de Boyhood tem um aspecto sujo, e conforme o tempo e a tecnologia avançam, as imagens ficam mais cristalizadas. Também é interessante notar como as cenas com Mason mais novo se passam em lugares fechados, como quartos ou salas, e na medida em que o personagem cresce e abre as asas, passam a acontecer em campos, florestas e áreas abertas. Os cenários crescem junto com Mason.

Boyhood, por si só, é um grande feito, mas maior ainda é o feito de Linklater de capturar com seus olhos e lentes a vida humana, o crescimento e os grandes pequenos problemas de ser jovem. Se, daqui a 20 anos, alguém quiser entender como era a vida no começo dos anos 2000, este é o filme que deve assistir. Algo verdadeiramente único.

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