Tópicos | malucos de estrada

Raul Lennon poderia muito bem ser apenas um apelido em homenagem ao guitarrista e vocalista fundador dos Beatles, mas o jovem de 25 anos foi realmente batizado assim. O pai, músico e fã da banda de Liverpool,  deu esse nome. "Meu coroa é malucão também", conta. Raul é do Mato Grosso do Sul e está no Recife há duas semanas.

Na esquina da Rua do Hospício com a Conde da Boa Vista, Centro do Recife, ele e mais alguns colegas vendem peças de artesanato: pulseiras, colares, brincos, uma vasta gama de adornos e pequenos objetos de decoração. Os materiais usados para a confecção são, basicamente, arame, cobre, aço, latão, bambu e massa adesiva. Na clientela tem gente de todas as idades, mas a maioria é bem jovem.

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O local é acolhedor, recebe bem qualquer viajante com mochila nas costas que aporta no Recife atrás de um porto seguro para oferecer seus objetos. "Chegamos aqui mais perdidos do que cachorro em comício e um maluco que nem a gente indicou aqui", conta Diogo Gonzales, companheiro de estrada de Lennon. "Quando a gente pensa que não, tromba com outros malucos nos estados por aí. Toda cidade tem um ponto feito esse", diz Jonatan Silva, de Minas Gerais, há um mês no Recife.

Hippie?

O visual de todo mundo é meio parecido: roupas largas, chapéus, toucas, brincos e cabelos longos. O estilo alternativo e as cores da bandeira da Jamaica em alguns artefatos vendidos renderam as alcunhas de "hippie" e "rasta" ao longo dos anos, mas os rótulos ficam só para quem está de fora. "Hippie não existe mais, hoje somos malucos de estrada", garante Lennon. "Acho massa o nome hippie, mas sou anarcopunk", destaca Diogo. 

Para os adeptos desse estilo de vida não interessa ser taxado como parte de um movimento cultural ou algo do tipo. Manter o respeito já o bastante. "Já sofri muito preconceito por aí", revela Jonatan. "Ser chamado de hippie ou de rasta não me incomoda. O que me incomoda é ser confundido com bandido", completa.

Brasil afora

Antes de se encontrarem na Conde da Boa Vista, os personagens desta reportagem rodaram por vários estados. Raul Lennon conta que está há seis anos viajando pelas estradas brasileiras. "Passei por Minas, São Paulo, Espírito Santo, Distrito Federal. Tenho casa, mas não consigo ficar num lugar só. Tenho que estar sempre em movimento. A gente não precisa de dinheiro, precisa de liberdade", fala.

Diogo Gonzales é ambicioso na sua jornada. "Gosto de conhecer culturas diferentes e, em três anos, quero ter visitado todos os estados do país", almeja. Na maioria das vezes, o transporte é o tradicional ônibus, porém há longas distâncias percorridas a pé mesmo e, quando a sorte acompanha, aparecem algumas caronas. Essa última alternativa, porém, não agrada a todos. "Acho perigoso, você não sabe o que pode encontrar entrando no carro de um estranho", alerta Jonatan.

Na calçadas, o espaço para o comércio é dividido de forma democrática. As chuvas de junho atrapalham, entretanto, num dia bom, dá pra faturar de R$ 80 a R$ 100. Mas como ficar parado não faz a cabeça dessa galera, você pode não encontrá-los sempre por lá. Há outros lugares para ir. Olinda, por exemplo, não pode faltar no roteiro. "A gente dormiu lá uma noite dessas, mas roubaram nosso violão", lamenta Raul Lennon.

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