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O público que esteve no Pátio do Terço, área central do Recife, para prestigiar a Noite dos Tambores Silenciosos de 2019, certamente viveu um momento mágico. O evento reúne diversas nações de maracatu de baque virado da cidade, para um momento de reverência aos antepassados e à cultura negra, e de pedido de paz e tranquilidade para o Carnaval. Porém, em 2019, alguns maracatus não puderam se apresentar por problemas burocráticos e, agora, passada a euforia da festa, essas nações tentam reparar os danos que tiveram pela sua ausência no desfile.

O articulador cultural da Nação Baque Forte, Jamesson Florentino, falou, com exclusividade ao LeiaJá sobre o ocorrido. Ele informou que na segunda-feira (4) de Carnaval, dia em que é realizada a Noite dos Tambores Silenciosos, algumas nações receberam uma mensagem dos responsáveis pelo evento informando que não poderiam participar por falta de documentação. Entre elas, Estrela de Olinda, Nação de Luanda, Tupinambá, Sol Brilhante e Leão de Fogo; além das nações mirim, Vunguinhos, Estrela do Mar e Nação Catimurá, que se apresentam no mesmo local durante a tarde da segunda carnavalesca.

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Jamesson alega que, de fato, alguns grupos têm certa dificuldade em apresentar toda a documentação exigida pela Prefeitura do Recife, por se tratar de nações lideradas por senhores e senhoras de mais idade e, também, por serem, algumas delas, agremiações mais antigas que de fato não dispõem de certos documentos. Entretanto, o articulador reclama do tratamento dispensado a esses, que foram informados em cima da hora sobre a inviabilidade de sua participação: "Teve gente que passou mal. As pessoas investem em seus grupos, elas gastam dinheiro, passam o ano inteiro se preparando para mostrar sua cultura, para desfilar no Carnaval. É uma irresponsabilidade muito grande".

Jamesson também reclama da atuação do Núcleo de Cultura Afro, órgão gerido pela Secretaria de Cultura e Fundação de Cultura Cidade do Recife. Segundo ele, é de responsabilidade do Núcleo monitorar a documentação dos participantes e agir para sanar eventuais problemas que eles possam vir a ter: "O Núcleo Afro não fez nada para que a gente pudesse resolver o problema em tempo hábil. Isso já havia acontecido antes, e eles não tomaram nenhuma atitude em defesa dos maracatus". Para ele, o órgão não vem cumprindo com suas atribuições a contento: "A burocracia avançou para melhorar a situação, mas o povo negro ainda é muito carente de informação, então é dever do poder público garantir isso. Houve várias reuniões mas o que foi dito ficou alí mesmo e nada foi encaminhado. Tá faltando dar mais atenção aos grupos".

Procurada por esta reportagem, a Amanpe, Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco, se pronunciou por meio de seu presidente, Fábio Sotero. Segundo ele, esta não é a primeira vez que há problemas com os participantes da Noite dos Tambores Silenciosos. "Em 2018 um maracatu se apresentou e não recebeu por que foi dito que ele não estava na relação. O Núcleo Afro tinha o conhecimento disso e não fez nenhum comunicado, depois tivemos que correr para achar uma forma de compensar". O dirigente afirma que desconhecia as pendências da maioria das nações que foi impedida de desfilar, com exceção da Nação Estrela de Olinda, que teve os documentos entregues por duas vezes, e ainda assim não foi incluída na relação de desfilantes.

Sotero diz que algumas nações como a Leão de Fogo - fundada em 2018 -, e a Nação de Luanda, de fato, não têm documentos. Porém, esta última, de 1997 e comandada por um dos mestres mais antigos de Pernambuco, Roberto Pescocinho, chegou a receber um pedido especial: "Pedi que incluíssem eles como convidados, uma vez que se trata de uma nação tradicional, mas o jurídico negou".

O presidente da Amanpe também faz ressalvas em relação ao procedimento do Núcleo de Cultura Afro: "O núcleo é responsável por gerir isso, então, o que eles estão fazendo se não conseguem dar conta de identificar nem resolver os problemas? A Amanpe consegue intervir no sentido de apontar, tentar resolver, como a gente fez. Sentamos com a gerente do jurídico, D. Vírginia, e vimos nação por nação, mas o núcleo responsável por isso não fez nada". Em relação às pendências dos maracatus mirim, Fábio alega que estes não são filiados à Amanpe e portanto, não pôde intervir por eles.

O que diz a PCR

Procurada pelo LeiaJá, a Prefeitura do Recife informou que todos os brincantes foram informados, em reuniões realizadas entre os meses de janeiro e fevereiro, sobre os documentos necessários para participar dos eventos do ciclo. "Nessas ocasiões, os brincantes foram orientados sobre a necessidade de habilitarem-se documentalmente, segundo regras disponibilizadas em edital lançado pela Prefeitura, para que se fizesse possível o pagamento de cachê aos participantes, segundo determinação legal".

Ainda de acordo com o órgão, "a maioria dos grupos respondeu à mobilização do Núcleo Afro, habilitando-se para o ciclo carnavalesco 2019. Ao todo, 25 nações de maracatu participaram da Noite dos Tambores Silenciosos deste ano, apenas uma a menos no ano passado". Sobre a falta de atenção do Núcleo, alegada por alguns grupos, a PCR diz que "O Núcleo Afro está permanentemente à disposição dos brinquedos e brincantes da cultura afro, no Pátio de São Pedro, de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h".

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