Tópicos | Pollyanna Queiroz

Durante os trajetos diários entre Camaragibe e Recife pelo metrô, Pollyanna Queiroz, de 31 anos, percebia o sucateamento do sistema. Trens velhos, estações sujas e composições lotadas. "Está abandonado", ela diz. Ela critica também a falta de acessibilidade e a insegurança, mas emenda: "é um lugar que aprendi a amar."

O amor de Pollyana é colocado nas páginas de seus cadernos, os quais ela sempre carrega ao sair de casa. Neles estão desenhos de pessoas que ela encontra no cotidiano dentro do vagão.

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Os sketches, como são chamadas as artes com traço de esboço, estão em exposição no Museu do Trem do Recife - Estação Central Capiba, no bairro de São José, área central da capital. Intitulada "Desenhos de Bordo - METROREC SKETCHES", a mostra ocupa uma sala dedicada a exposições temporárias no Museu do Trem, com uma instalação que remete a uma composição de metrô e uma estação, com faixa amarela e avisos de alerta.

Os desenhos são feitos desde de 2016, mas foi durante a pandemia em 2020, quando o trabalho de Pollyanna voltou ao formato presencial, que ela se dedicou ao projeto. "Veio aquele medo de pegar Covid e passar para os familiares. E a arte me acalmava", explica ela.

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Nos desenhos estão passageiros, vendedores ambulantes, artistas. Estão Leonardo, Edson, Viviane, Ramon, Felipe, Maisa - pessoas que Pollyanna vai conhecendo e fazendo amizade ao usar o metrô todos os dias no mesmo horário.

"Eu gosto de desenhar o que vejo. O desenho de observação me atrai", diz. "Me saltam aos olhos as pessoas mais idosas, aquela imagem do senhorzinho, caboclo, de chapéu, isso vai lembrar a figura do meu avô, que não conheci pessoalmente. E eu gosto de retratar as pessoas, todas têm sua beleza, algo que chama a atenção. Pode ser uma criança, um vendedor, uma pessoa que pede, um artista." 

Pollyanna confessa que odiava usar o metrô. "Era calor, barulho da bexiga, pessoas gritando, ambulantes falando, cantor que não é tão afinado, mas fui ressignificar tudo isso para um olhar mais empático, cuidadoso, de atenção", afirma. “Quem estou retratando é quem sofre, o operário, o trabalhador do metrô também, o maquinista que trabalha em um ambiente quebrado. Ali todo mundo sofre.”

Divulgação/Fundarpe

A artista conta que evita pegar o metrô em horários de pico e, por isso, são poucos os desenhos que mostram os característicos trens lotados do Recife. Quando está desenhando, volta e meia é abordada por alguém curioso, que pergunta se ela tem uma página nas redes sociais onde publica os trabalhos. E tem: @oxepolly no Instagram. Desenhar no metrô também exige certo jogo de cintura. Já teve quem pedisse que o desenho fosse enviado pelo WhatsApp, mas depois fez investidas e acabou bloqueado; e quem já reclamou muito, mas agradeceu e pediu desculpa ao ver a arte pronta.

"Ficou um vício gostoso. Já teve situação que eu esqueci o caderno e aí eu via cada coisa linda. E é como uma fotografia. Mesmo que eu vá desenhar depois não vai ficar a mesma coisa", comenta. 

Até o convite para expor os trabalhos ocorreu dentro de um vagão, quando a artista desenhava e um coordenador do museu fez a proposta.  Pollyanna tem classificado a experiência de expor em um museu como uma honra inenarrável. "O ambiente museu não só consagra o artista do ponto de vista do mercado da arte, mas eleva, traz a arte à discussão pública. Todo dia as pessoas estão sabendo da exposição, conhecendo o Museu do Trem, descobrindo e redescobrindo o museu e isso é maravilhoso." A exposição seguirá até o dia 5 de fevereiro no Museu do Trem, localizado na Rua Floriano Peixoto, sem número, no bairro de São José. A visitação é realizada de terça a sexta-feira, das 10h às 16h; sábados e domingos, das 10h às 14h. O acesso é gratuito.

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